Conheça o Discord, rede social popular entre jovens, que acumula crimes e milhões de usuários
Insegurança e falta de fiscalização foram o estopim de problemas envolvendo abuso, crimes de ódio e automutilação
A plataforma de mensagens Discord, criada há oito anos, se popularizou entre jovens adeptos aos videogames e jogos digitais. Como um espaço para conversas, compartilhamento de conteúdo e interação, a rede foi ganhando cada vez mais espaço entre os adolescentes — e até crianças — durante a pandemia.
No entanto, a plataforma já coleciona uma série de polêmicas no exterior e no Brasil, que vão desde a segurança pública até a privacidade de menores de idade.
A plataforma era um produto de nicho, até que jovens passaram a buscar, com a falta da interação presencial durante a pandemia, formas de conversar com os amigos e ingressar em comunidades digitais. No fim de 2021, já eram mais de 150 milhões de usuários ativos por mês, quase triplicando os 56 milhões de 2019. No Brasil, são cerca de 3 milhões.
Apesar da popularidade, os problemas se acumulam. Dentre os mais recentes, está o vazamento de documentos secretos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. No material, estavam informações sigilosas sobre a Guerra da Ucrânia, espionagem americana e investigações criminais. O conteúdo teria circulado na plataforma em março, antes de aparecer em outros sites.
No Brasil, o problema também é real. Uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, revelou, em abril, que o aplicativo é uma porta aberta para conteúdos violentos, compartilhados para grupos de jovens, adolescentes e crianças.
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Os crimes por trás da plataforma
Neste domingo, uma nova investigação do “Fantástico” mostrou uma faceta ainda mais sombria da rede, onde são veiculados conteúdos que abordam automutilação e crueldade contra animais, além de disseminar pornografia, ideias racistas, homofóbicas, misóginas e neonazistas.
No Discord, diversas meninas foram vítimas de abuso ao serem chantageadas por criminosos. As vítimas passam a serem obrigadas a cumprirem desafios. Caso não aceitem, os abusadores vazam fotos íntimas das jovens.
Durante seus oito anos, o Discord enfrentou várias controvérsias em relação ao conteúdo nocivo compartilhado livremente em sua plataforma. Nos Estados Unidos, além do vazamento dos documentos, outros crimes foram cometidos.
Um deles foi a convocação feita por nacionalistas brancos que organizaram nos servidores a manifestação “Unite the Right”, na Virgínia, nos Estados Unidos, em 2017. Em outro caso, um atirador matou dez pessoas em um supermercado em Nova York, postando seus planos e mensagens racistas na plataforma antes do ataque.
Pela forma como o Discord foi concebido, a rede garante a facilidade do anonimato e passa a ser um portal vulnerável. Nele, é fácil reunir usuários anônimos com interesses comuns e organizá-los para o crime.
Como funciona o Discord?
Lançado em 2015 por Jason Citron, um jogador de videogame e programador de computador, o Discord não conta com feed ou linha do tempo com postagens relacionadas às preferências individuais ou aos perfis seguidos por cada usuário. Em vez disso, ele é dividido em servidores, que funcionam como salas de bate-papo. Cada uma delas reúne um grupo de usuários, que pode chegar a milhões de pessoas, de acordo com um assunto ou interesse em comum.
Os maiores servidores da plataforma são públicos, onde membros se dedicam a discussões sobre jogos específicos, como League of Legends ou Fortnite. Em outros casos, se formam comunidades para debates sobre arte, música ou inteligência artificial. A ideia é semelhante aos grupos do Facebook.
Por outro lado, existem também servidores privados no Discord. Nesses casos, é necessário um convite para ingressar no bate-papo, que costuma ter uma quantidade menor de membros. Em sua maioria, são um espaço digital para reunir um grupo de amigos, onde podem trocar mensagens ou participar de uma ligação enquanto jogam videogames.
No entanto, são os servidores privados e, consequentemente menores, que facilitam a atuação de criminosos. Devido à natureza desses pequenos servidores, eles geralmente recebem menos atenção dos moderadores da plataforma, que priorizam a supervisão dos grupos mais populares.
Como proteger o usuário?
Após diversas polêmicas, a empresa afirmou que está levando mais a sério a moderação de conteúdo e que aproximadamente 15% de seus funcionários — uma equipe de quase 900 pessoas — trabalham voltadas para o serviço de segurança.
As comunidades alocadas na plataforma funcionam como seus próprios governos em miniatura, com o criador do servidor delegando outros membros para fazer cumprir as regras e dando-lhes o poder de proibir usuários de enviar mensagens ou expulsá-los do servidor.
As diretrizes do Discord proíbem discurso de ódio, assédio, ameaças, extremismo violento, material de abuso sexual infantil e desinformação. No entanto, a rede não tem tido facilidade para aplicar suas políticas. A empresa reforçou suas ferramentas automatizadas para detectar mensagens de assédio ou ofensivas, mas depende de membros dos servidores Discord para relatar violações à política da empresa.
Segundo a plataforma, a empresa trabalha em parceria com autoridades policiais, entregando informações do usuário acusado, e com autoridades governamentais quando há casos de “perigo imediato” ou “automutilação”.