Conheça o Vulcan, foguete com módulo lunar que poderá fazer o primeiro pouso privado na Lua
Construção da United Launch Alliance acompanha uma série de novos lançadores que poderão destruir o domínio da SpaceX sobre o negócio espacial
Um foguete totalmente novo decolou na madrugada desta segunda-feira da Flórida, nos Estados Unidos, transportando o que pode ser o primeiro módulo de pouso comercial a pousar na Lua. Caso bem-sucedida, a operação do Vulcan Centaur, da United Launch Alliance (ULA), pode fazer os EUA retornarem à superfície lunar após mais de 50 anos. A iniciativa é crucial porque este foguete foi projetado para substituir outros dois mais antigos, e a Força Espacial americana conta com ele para lançar satélites espiões e outras espaçonaves importantes.
A United Launch Alliance é uma joint venture da Boeing e Lockheed Martin, empresa fabricante de produtos aeroespaciais que dominava o mercado americano até a ascensão da SpaceX na última década. Fundada em 2006, por sete anos a ULA foi a única empresa certificada pelo governo dos EUA para enviar cargas de segurança nacional para a órbita. Até agora, ela utilizou dois veículos: o Delta IV, desenvolvido pela Boeing e que concluirá seu voo final ainda este ano, e o Atlas V, da Lockheed Martin, que também deverá ser aposentado em breve.
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Ainda restam 17 lançamentos deste último, mas o foguete utiliza motores fabricados pela Rússia. Com as tensões entre Moscou e Washington, a utilização do Atlas V tornou-se politicamente insustentável. Isso levou a ULA a começar o desenvolvimento do Vulcan, que substitui ambos os foguetes a um custo menor, segundo as autoridades da United Launch Alliance. Não bastasse isso, o Vulcan também é o primeiro de vários novos foguetes que podem desafiar a atual dominação do mercado de lançamentos espaciais pela companhia de Elon Musk.
Apenas em 2022, a SpaceX enviou quase 100 foguetes para a órbita. Nos próximos meses, porém, outros lançamentos orbitais de estreia podem incluir o foguete Ariane 6, da Arianespace, uma empresa europeia, e o New Glenn, da Blue Origin, empresa iniciada por Jeff Bezos, da Amazon.
"Mercado mais robusto"
O Vulcan pode ser configurado de várias maneiras. Seu estágio de propulsão central, o corpo principal do foguete, é alimentado por dois motores BE-4 fabricados pela Blue Origin. Eles, que emitem chamas azul-escuras pela queima do metano, também serão usados no foguete New Glenn. Além disso, até seis impulsionadores de combustível sólido podem ser presos ao lado do núcleo para aumentar a capacidade de transporte ao espaço. Sua carenagem de carga útil vem em dois tamanhos: o padrão, de 15 metros, e um mais longo, de 21.
— O que é único sobre o Vulcan, e o que pretendíamos desde o início, era fornecer um foguete com todas as capacidades do Atlas e do Delta em um único sistema — disse Mark Peller, vice-presidente da ULA, responsável pelo desenvolvimento do Vulcan. — Sua configuração pode ser realmente adaptada à missão específica — continuou.
Diretora-executiva da Bryce Tech, uma empresa de consultoria, Carissa Christensen afirmou que “o mercado de lançamentos está mais robusto do que nunca”. Segundo a ULA, há uma lista de espera de mais de 70 missões para voar no Vulcan. A Amazon comprou 38 lançamentos para o projeto Kuiper, uma constelação de satélites de comunicação que competirá com a rede Starlink da SpaceX para oferecer internet de alta velocidade. Outros lançamentos serão para a Força Espacial.
Hoje, a ULA e a SpaceX são as únicas empresas aprovadas para lançar missões de segurança nacional. O lançamento desta segunda-feira é o primeiro de duas missões de demonstração que a Força Espacial exige para ganhar confiança no Vulcan antes de usá-lo para cargas militares e de vigilância. A segunda delas é transportar o Dream Chaser, um avião espacial não tripulado, em uma missão de entrega de carga para a Estação Espacial Internacional. Isso poderia ser seguido por mais quatro lançamentos do Vulcan este ano para o ramo militar.
Vulcan e Peregrine
Para o primeiro lançamento do Vulcan, o módulo de pouso lunar utilizado foi o Peregrine, da Astrobotic Technology. A empresa, fundada em 2007, é uma das várias companhias privadas que visam fornecer um serviço de entrega à superfície da Lua. Seu cliente principal para esta viagem é a Nasa. A agência espacial americana pagou à Astrobotic US$ 108 milhões (R$ 527,5 milhões) para transportar cinco experimentos. A ação faz parte do trabalho científico que a Nasa tem feito para preparar o retorno de astronautas à superfície lunar.
Ao contrário do passado, quando a Nasa construía e operava suas próprias espaçonaves, desta vez ela está contando com empresas como a Astrobotic para fornecer o transporte. Após uma viagem à Lua com duração de duas semanas e meia, o módulo de aterrissagem Peregrine entrará em órbita ao redor do satélite e ficará lá até 23 de fevereiro, quando tentará um pouso no Sinus Viscositatis (“Baía da Aderência”), uma região enigmática no lado visível da lua.
O Vulcan também levou uma carga secundária para a Celestis, uma empresa que homenageia pessoas enviando algumas de suas cinzas ou DNA para o espaço. Entre as pessoas cujos restos mortais estão nesta jornada final estão:
Gene Roddenberry: o criador de Star Trek;
Majel Barrett: mulher de Roddenberry e atriz que interpretou a Enfermeira Chapel no programa original;
Forest Kelley: que interpretou o médico Leonard “Bones” McCoy;
Nichelle Nichols: que interpretou Uhura, a oficial de comunicações;
James Doohan: que interpretou Montgomery Scott, o engenheiro.
Também há amostras de cabelo de três presidentes americanos: George Washington, Dwight Eisenhower e John F. Kennedy.
Restos mortais no espaço
A Celestis, assim como outra empresa que oferece serviços semelhantes, a Elysium Space de San Francisco, também tem uma carga no Peregrine. Isso gerou protestos dos líderes da Nação Navajo, que afirmam que muitos nativos americanos consideram a Lua um lugar sagrado e que o envio de restos humanos para lá seria uma profanação. Autoridades da comunidade indígena pediram que a Casa Branca adiasse o lançamento para discutir o assunto.
Charles Chafer, diretor-executivo da Celestis, disse que respeita as crenças religiosas de todas as pessoas, mas que não acredita que seja possível “regular missões espaciais com base em motivos religiosos. Já a Nasa observou que não estava encarregada da missão, e que não tinha influência direta sobre as outras cargas que a Astrobotic vendeu. John Thornton, diretor-executivo da Astrobotic, disse na sexta-feira que estava decepcionado por “essa conversa ter surgido tão tarde”, já que sua empresa anunciou a participação da Celestis e da Elysium anos atrás.