Conselho de Segurança da ONU expressa preocupação com situação no Haiti
As gangues que controlam a maior parte da capital, Porto Príncipe, e as estradas que levam ao resto do país, atacaram nos últimos dias locais estratégicos do país caribenho
O Conselho de Segurança da ONU expressou nesta quarta-feira (6) preocupação com o que chamou de situação crítica no Haiti, onde o líder de um grupo criminoso ameaça iniciar uma "guerra civil" se o primeiro-ministro, Ariel Henry, não renunciar.
As gangues que controlam a maior parte da capital, Porto Príncipe, e as estradas que levam ao resto do país, atacaram nos últimos dias locais estratégicos deste país caribenho: a academia de polícia, o aeroporto e vários presídios, dos quais milhares de prisioneiros fugiram.
Diante da onda de violência, o Conselho de Segurança fez uma reunião de emergência na tarde de hoje. "Todos compartilharam suas preocupações", principalmente a necessidade de mobilizar o quanto antes a missão internacional de apoio à polícia, disse a embaixadora de Malta, Vanessa Frazier.
Os arredores do aeroporto Toussaint-Louverture voltaram a ser palco de confrontos entre forças de segurança e gangues na noite de terça-feira e na madrugada desta quarta-feira, segundo uma fonte policial.
O líder de uma das principais gangues, Jimmy "Barbecue" Cherizier, pediu ontem a renúncia do primeiro-ministro, que estava na África quando a situação atual eclodiu. "Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar a apoiá-lo, iremos diretamente para uma guerra civil que levará ao genocídio", disse Cherizier, sancionado pela ONU.
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Com o estado de emergência e o toque de recolher noturno impostos pelas autoridades, muitos moradores da capital fogem dos distúrbios carregando seus poucos pertences, enquanto outros saem de casa apenas para comprar o indispensável.
"A situação está cada vez pior. A polícia nacional é impotente contra os ataques dos grupos armados. Somente uma força militar pode nos ajudar nesta situação", diz um motorista de Porto Príncipe, que não quis ser identificado.
- Renúncia -
No poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, Henry deveria ter renunciado em fevereiro, mas selou um acordo de poder compartilhado com a oposição até a realização de novas eleições.
Em um país sem presidente ou Parlamento, onde as últimas eleições foram realizadas em 2016, o futuro do dirigente está no ar.
"Apesar de várias reuniões, ainda não fomos capazes de chegar a nenhum tipo de consenso entre o governo e os diferentes atores da oposição, o setor privado, a sociedade civil e as organizações religiosas", lamentou o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, que assume a presidência temporária da Comunidade do Caribe (Caricom). "Todos estão conscientes do preço do fracasso."
"Pedimos ao primeiro-ministro haitiano que avance com um processo político que levará ao estabelecimento de um órgão presidencial de transição para a celebração das eleições", disse hoje a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield.
Horas depois, a Casa Branca assegurou, por intermédio de sua secretária de imprensa, Karine Jean-Pierre, que não está pressionando o dirigente haitiano a renunciar.
Henry ainda não conseguiu retornar a Porto Príncipe desde que partiu para o Quênia para organizar o envio de uma missão policial multinacional apoiada pela ONU. Ele desembarcou ontem em Porto Rico, segundo uma porta-voz do governador da ilha caribenha. O governante, que não pôde viajar ao Haiti devido aos distúrbios no aeroporto internacional, teve sua permissão negada para pousar na vizinha República Dominicana.
"Os governos do Haiti e Estados Unidos consultaram, de maneira informal, a República Dominicana sobre a possibilidade de que a aeronave que transportava o primeiro-ministro Henry de volta ao seu país pudesse ter feito uma escala indefinida em território dominicano", disse um comunicado oficial lido pelo porta-voz Homero Figueroa nesta quarta-feira.
"Nas duas ocasiões, o governo dominicano comunicou a impossibilidade de tal escala sem receber um plano de voo definido", acrescentou.
"Não existe uma alternativa realista" à missão internacional, afirmou em Genebra o chefe da área de direitos humanos da ONU, Volker Türk.
- Insustentável -
Devido aos ataques de gangues, o governo haitiano declarou estado de exceção e toque de recolher noturno na capital no fim de semana, em vigor até esta quarta-feira.
Volker Türk, alertou em Genebra que a situação no Haiti se tornou "mais do que insustentável", com 1.193 pessoas mortas pela violência de gangues armadas desde o início de 2024.
Em meio à violência, crise política e a anos de seca, cerca de 5,5 milhões de haitianos (aproximadamente metade da população) necessitam de assistência humanitária externa.
O apelo da ONU para financiar 674 milhões de dólares (3,3 bilhões de reais na cotação atual) este ano para ajudar o Haiti, o país mais pobre das Américas, mal conseguiu arrecadar 2,5%.
Os distúrbios desde a última quinta-feira levaram pelo menos 15 mil pessoas a fugir das áreas mais afetadas de Porto Príncipe, segundo a ONU, que começou a distribuir alimentos e produtos de primeira necessidade.
Na tarde de hoje, a associação dos hospitais privados do país pediu ajuda às organizações de saúde presentes no Haiti, diante da situação crítica. A insegurança ameaça suas instalações e seus profissionais, e "a escassez grave de material médico essencial, combustível e oxigênio" limita a sua capacidade de atendimento, alertou.
Após meses de atrasos, o Conselho de Segurança da ONU aprovou em outubro o envio ao Haiti de uma missão policial multinacional liderada pelo Quênia, mas a implantação da mesma foi adiada pela Justiça queniana e pela falta de financiamento.
A polícia do Haiti, que conta com um número reduzido de efetivos, tem que lidar com sequestros, franco-atiradores em telhados e estupros.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou-se em janeiro "consternado" com "o nível assombroso" de violência das gangues que dominam o país.
Segundo as Nações Unidas, o número de homicídios mais do que duplicou em 2023, com quase 5.000 pessoas mortas, incluindo 2.700 civis.