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Convenção republicana vira palco para possíveis sucessores de Trump em 2024

Pompeo quebra tradição ao se tornar 1º secretário de Estado a participar de convenção partidária em 75 anos

Donald Trump, presidente dos EUADonald Trump, presidente dos EUA - Foto: JIM WATSON / AFP

A convenção republicana, que oficializou Donald Trump como candidato do partido à reeleição, tem se tornado palco para possíveis sucessores do presidente na disputa à Casa Branca em 2024.

Aliados e familiares de Trump aproveitam o evento de projeção nacional para testar seu desempenho diante de uma base conservadora que invadiu as fileiras da sigla e se manteve fiel ao republicano.

A investida pode parecer precipitada, mas movimentos ousados, como o do secretário de Estado, Mike Pompeo, mostram que as peças do tabuleiro pós-Trump se mexem com velocidade.
 


Escalado para discursar na noite de terça (25), Pompeo quebrou uma tradição diplomática histórica nos EUA e é o primeiro secretário de Estado no cargo a participar de uma convenção partidária em 75 anos.

Um dos homens mais fortes do governo Trump, Pompeo é porta-voz de assuntos sobre política externa e segurança nacional, temas caros aos americanos, e tem avançado sobre o eleitorado evangélico, um dos pilares da base do presidente, com discurso em defesa da liberdade religiosa, com foco nos cristãos.

Em 2018, ele concretizou a mudança da embaixada americana em Israel para Jerusalém -de onde seu pronunciamento desta terça foi gravado– e esperava a oportunidade de exaltar o acordo que deve normalizar as relações diplomáticas entre Israel e Emirados Árabes.

Intermediado pelo governo Trump há duas semanas, essa é uma de suas poucas ações diplomáticas com apoio bipartidário, e o secretário aposta na construção do legado como plataforma nacional.

Pompeo era cotado para se candidatar ao Senado neste ano, mas desistiu, aumentando ainda mais a especulação sobre sua possível entrada na corrida para 2024.

Diplomatas dizem que o discurso na convenção viola restrições do Departamento de Estado sobre atividades políticas do secretário, e democratas no Congresso devem investigá-lo.

Aliados, por sua vez, reconhecem que os interesses eleitorais parecem estar acima de tudo e se escoram na ideia de que Pompeo falaria "em caráter pessoal", centrado na tese de que Trump colocou os EUA em primeiro plano diante de disputas com a China e a Coreia do Norte.

Durante a abertura da convenção, na segunda (24), Trump foi recebido aos gritos de "mais quatro anos" e reagiu com ironia: "Se quiserem deixá-los [democratas] mais malucos, digam 'mais 12 anos'".

A lei americana, porém, permite apenas uma reeleição à Casa Branca, o que faz com que cada líder fique, no máximo, oito anos no cargo.

No leque de oradores que, ao lado de Pompeo, tem interesse de herdar o espólio político de Trump estão Nikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU e ex-governadora da Carolina do Sul, Donald Trump Jr., filho mais velho do presidente, e o vice-presidente Mike Pence.

Haley e Donald Jr. estrelaram a primeira noite da convenção com o objetivo de resumir a mensagem central da campanha republicana: os EUA serão mergulhados no socialismo e no caos completo caso o democrata Joe Biden for eleito em novembro - o ex-vice de Barack Obama, no entanto, conduz uma plataforma centrista e faz parte do establishment de seu partido.

A ex-embaixadora na ONU não titubeou e fez um discurso de candidata. Em dez minutos, apostou na técnica de adotar um tom suave para produzir mensagens fortes, perpassando os três temas fundamentais em discursos à Casa Branca: economia, política externa e princípios da fundação do país.

"A América não é perfeita, mas os valores sobre os quais nos construímos são", afirmou. "Um governo Joe Biden-Kamala Harris será muito, muito pior [que o governo Obama-Biden]. A visão deles para os EUA é o socialismo, e sabemos que o socialismo falhou em todos os lugares."

Dos cinco filhos de Trump, Donald Jr. é considerado o grande herdeiro eleitoral do pai –além de Ivanka, uma das principais conselheiras da Casa Branca.

Com seus contatos no mundo político e sua maneira bastante simplista de se comunicar, assim como o pai, focado na disputa do que avalia ser o bem contra o mal, tem apelo junto aos eleitores.

É dele também a mais forte conexão com a rede de desinformação que alçou Trump à Presidência.

"É como se essa eleição fosse igreja, trabalho e escolha contra protestos, saques e vandalismo", disse o primogênito de Trump na segunda. "Imaginem um mundo onde os males do comunismo e do terrorismo islâmico radical não tenham chance de se disseminar, em que os herois são celebrados, e os bons moços vencem. Vocês podem tê-lo."

A ideia de que os democratas são anarquistas que vão abolir os subúrbios e prejudicar a classe trabalhadora foi definidora do primeiro dia de convenção, remetendo aos ataques que Trump fez aos ativistas durante os protestos antirracismo e contra a violência policial no país.

As manifestações, porém, ocorreram em grande parte de maneira pacífica, com casos pontuais de violência e depredação. Mas Trump –e seus possíveis sucessores– sabe que a narrativa energiza conservadores e pode amedrontar eleitores da classe trabalhadora do Meio-Oeste e mulheres brancas dos subúrbios, que foram fundamentais para a vitória republicana em 2016, mas agora, cansados da agressividade do presidente, flertam com Biden.

Nesta quarta, um dos discursos mais esperados é o de Mike Pence. Ele já havia feito uma fala concisa na abertura, centrado em economia e na tese de que, antes da pandemia que matou mais de 177 mil pessoas no país, os EUA apresentavam bons índices de crescimento e baixos números de desemprego.

O vice-presidente muitas vezes é o sucessor natural do presidente, mesmo que depois de alguns anos, assim como Biden, que foi vice de Obama de 2009 a 2017 e hoje disputa a Casa Branca.

Em desvantagem em todas as pesquisas, Trump sabe que pode perder no voto popular, como aconteceu em 2016, e aposta nos nichos específicos - eleitores brancos e conservadores - de estados-chave para tentar reverter o jogo e garantir a vitória no sistema indireto de Colégio Eleitoral, como foi há quatro anos.

Caso perca em novembro, analistas afirmam que Trump deve questionar na Justiça o resultado da eleição, em um processo que pode se arrastar por semanas ou até meses.

Aos aspirantes à sucessão, uma derrota neste ano pode significar também o desmantelamento do Partido Republicano e custar a reconstrução das bases para uma nova disputa em 2024.

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