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COP16

COP16 começa na Colômbia com apelo urgente à proteção da biodiversidade

Muhamad assumiu a presidência da cúpula e apresentou uma réplica da famosa escultura de Fernando Botero

COP 16COP 16 - Foto: Joaquin Sarmiento/AFP

A COP16, 16ª edição da maior conferência mundial sobre proteção da natureza, terminou seu primeiro dia nesta segunda-feira (21), em Cali, com apelos urgentes ao investimento de recursos e ao estabelecimento de acordos concretos para deter a destruição da biodiversidade.

A COP16 reúne os delegados dos Estados-membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) para duas semanas de debates sob estritas medidas de segurança após ameaças de um grupo guerrilheiro.

"Não vamos nos distrair, o planeta não pode se dar ao luxo de perdermos tempo [...] Teremos que entrar em um acordo para que essa COP seja bem-sucedida", expressou a ministra de Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, durante a cerimônia de abertura da conferência.

Muhamad assumiu a presidência da cúpula e apresentou uma réplica da famosa escultura de Fernando Botero, "A Pomba da Paz", ao seu antecessor, o ministro de Ecologia e Meio Ambiente da China, Huang Runqiu.

"Precisamos de mais fontes de financiamento" e "cumprir com as promessas formuladas", antecipou a ministra colombiana.

Cerca de 23 mil pessoas, incluindo uma dúzia de chefes de Estado e uma centena de ministros, se credenciaram para comparecer à edição mais concorrida da COP, segundo os organizadores.

Centenas de indígenas de diferentes regiões da Colômbia foram às ruas com vestimentas e bastões tradicionais, enquanto um homem com trajes brancos soprou uma concha, reivindicando que seus conhecimentos ancestrais sobre os cuidados com o planeta sejam levados em conta durante a cúpula.


Tarefas pendentes
Na COP15, realizada em 2022 em Montreal, no Canadá, os países participantes se comprometeram a declarar 30% de seus solos e mares como áreas de preservação até 2030. Mas a maioria está atrasada.

Apenas 8,4% dos oceanos do mundo foram designados como Área Marinha Protegida, segundo um relatório divulgado pelo Greenpeace nesta segunda-feira.

"Estamos a seis anos do final de 2030 e o progresso em direção à meta [...] é quase nulo. Nesse ritmo, não alcançaremos esse objetivo até o próximo século", alertou Megan Randles, assessora de política pública do Greenpeace.

No domingo, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou às partes para que façam um "investimento significativo" no Fundo Marco Global para a Biodiversidade (GBFF).

O GBFF foi criado em 2023 para ajudar os países a alcançarem os objetivos do chamado Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, que consiste em 23 metas para "deter e reverter" a perda de biodiversidade até 2030.

Mas, até agora, apenas 35 dos 196 países apresentaram diretrizes para cumprir esses objetivos, segundo a CDB. Espera-se que outros tantos apresentem esse documento durante a cúpula.

Há progresso, "mas não na velocidade que precisamos", disse a secretária-executiva da CDB, Astrid Schomaker.


Ponto de "não retorno"
Os países também se comprometeram a aportar cerca de 250 milhões de dólares (R$ 1,4 bilhão, na cotação atual) ao GBFF, segundo as agências que supervisionam o processo.

Essas contribuições fazem parte de um acordo mais amplo para que os países mobilizem pelo menos 200 bilhões de dólares (R$ 1,1 trilhão) ao ano até 2030 para a biodiversidade, incluindo 20 bilhões de dólares anuais (R$ 114,1 bilhões) até 2025 das nações ricas para ajudar os países em desenvolvimento.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que mantém uma lista vermelha de animais e plantas ameaçadas, mais de um quarto das espécies avaliadas pela organização correm risco de extinção.

As populações de fauna selvagem diminuíram 73% entre 1970 e 2020, segundo a ONG WWF.

"Esse número indica que nossos sistemas estão em perigo. Se não abordarmos as causas da perda de biodiversidade, nosso ecossistema atingirá um ponto crítico, basicamente um ponto sem retorno", declarou à imprensa Lin Li, diretora de política do WWF.

Povos originários e representantes de grupos de jovens pediram que governos e empresas invistam neles.

"Para que possamos continuar falando de conservação [...] precisamos de um mecanismo de financiamento direto para os povos indígenas, para que a Amazônia possa continuar sendo preservada", disse Oswaldo Muca, da Organização dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana.


Ameaça da guerrilha
Sob o lema "Paz com a natureza", a cúpula tem a tarefa urgente de conceber mecanismos de monitoramento e financiamento que garantam o cumprimento dos objetivos definidos pela ONU.

No entanto, a maior facção dissidente da extinta guerrilha das Farc, o Estado-Maior Central (EMC), está em guerra contra o governo e pretende obstruir o evento, em meio a um conflito armado interno de seis décadas que deixou mais de 9 milhões de vítimas.

Quase 11 mil policiais e soldados colombianos, apoiados por pessoal de segurança da ONU e dos Estados Unidos, foram mobilizados em Cali.

A Colômbia é um dos países com maior biodiversidade do mundo e o presidente Gustavo Petro fez da proteção ambiental uma bandeira de seu governo.

Os delegados presentes na COP16 buscarão fechar mecanismos de acordo para compartilhar os lucros obtidos a partir de informações genéticas de plantas e animais.

Este material genético frequentemente vem de países de baixa renda e, a partir dele, laboratórios farmacêuticos elaboram medicamentos que podem significar dezenas de milhões de dólares de lucro, segundo estimativas científicas.

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