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COP30, em Belém, pode repetir desenho bem-sucedido do G20 no Rio e reunir ministros

29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) encerrou em Baku, Azerbaijão, no último dia 24, sem clima de festa

Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29)  - Foto: Alexander Nemenov / AFP

A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) encerrou em Baku, Azerbaijão, no último dia 24, sem clima de festa.

A nova meta de financiamento, de US$ 300 bilhões anuais (R$ 1,792 trilhão) até 2035, prevista para ser desembolsada pelos países ricos, ficou distante do valor de US$ 1,3 trilhão por ano (R$ 7,7 trilhões) estimado para conter o aquecimento global em 1,5ºC. A boa notícia é que a COP30, que ocorrerá em Belém, em 2025, poderá trazer novidades mais promissoras em relação ao tema.

A principal delas é a de repetir o desenho bem-sucedido adotado pela presidência do Brasil no G20, que é o de reunir em torno da mesa de discussões três esferas decisivas para tomada de decisões capazes de gerar efeitos financeiros práticos: ministros de Clima, de Relações Exteriores e de Finanças.

Iniciativa inédita
A agenda brasileira inclui a tarefa de desenhar um roteiro apontando meios, fontes e instrumentos para se chegar ao valor previsto, de US$ 1,3 trilhão (R$ 7,7 trilhões), destinado aos países em desenvolvimento e às regiões insulares, algumas ameaçadas de desaparecer, engolidas pelo mar.

— Quem vai às COPs são os ministérios de Meio Ambiente, de Relações Exteriores e de Energia, mas nesses debates sobre finanças deveria haver mais protagonismo dos ministérios da Fazenda. Foi o caso do G20. Conseguimos avançar muito no tema. Como o Brasil fez isso no G20, pode ser uma das nossas sugestões para a COP30, mas não sabemos se todos os países concordarão em ter essa conversa mais participativa entre governança econômica e governança climática — diz Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima.

Tal iniciativa seria inédita, segundo ela, o que já ocorreu quando o Brasil propôs estratégia semelhante no G20.

— Se for possível, será muito inovador. Houve um certo estranhamento na Força Tarefa de clima, onde pela primeira vez reunimos presidentes dos Bancos Centrais, ministros de Finanças e ministros de Clima, mas quando acabou estava todo mundo feliz. Cada vez mais se sente a necessidade desse debate — acrescenta.

A experiência do G20, portanto, pode gerar frutos em Belém. Mais especificamente, a partir do diálogo iniciado sobre taxações globais dos ultrarricos (parte dos recursos iria para a criação de um fundo do clima para manutenção de florestas de pé), taxações de combustíveis fósseis, de passagens de primeira classe em voos e a reforma dos bancos multilaterais de fomento. Há ainda a possibilidade de troca de dívida por ações climáticas.

— Agora, é pegarmos essas ideias e construirmos o roteiro. São debates que já estão maduros. Há maneiras de mobilizar recursos para se chegar ao US$ 1,3 trilhão. Esse é o trabalho do governo brasileiro para a COP. Vamos ver se há convergência — afirma.

Posição chinesa
Outra questão passível de entrar na agenda da COP30 é a relativa ao Artigo 2.1 (c), sobre o alinhamento de todas as fontes de recursos globais para apoiar a implementação do Acordo de Paris, o que seria uma mudança estrutural da economia. Caso ocorra, o financiamento apoiará iniciativas de desenvolvimento sustentável nas esferas econômica, social e ambiental.

— Esse é um artigo que fala principalmente de recursos do setor privado. Nunca foi possível que o tema avançasse nas COPs, porque o interesse era falar dos recursos públicos, focado em apoio aos países em desenvolvimento, mas está colocado para a COP30 — diz.

Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, o resultado da COP29 foi decepcionante do ponto de vista financeiro:

— Foi uma negociação difícil. O valor deixou a desejar, porque está muito distante do necessário. Os impactos da mudança do clima estão crescendo e é frustrante quando se compara o acordo com a realidade — avalia, ponderando a importância da definição sobre a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) para apoiar a transição energética de países em desenvolvimento. — Vai fluir mais dinheiro.

Outro destaque foi a posição da China de fornecer mais informações sobre suas ações verdes. Desde 2016, aportou cerca de US$ 24 bilhões (R$ 143 bilhões), mesmo sem obrigação formal.

Crise de confiança
Guarany Osório, professor da FGV, observa que a frustração do desfecho sobre financiamento em Baku aumentará o peso a COP30, que herdará essa discussão:

— Vimos os países em desenvolvimento, sobretudo os mais vulneráveis, muito insatisfeitos. A crise de confiança foi agravada.

A seu ver, porém, poderia ter sido pior, dado o cenário geopolítico e o resultado das eleições americanas. O problema é que se houvesse mais recursos a proposta dos países em ampliar ambições de corte de emissões, em 2025, poderia ser mais arrojada. Em 2023, as emissões de CO2 atingiram o nível mais alto da História, com aumento de 151% em relação à era pré-industrial.

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