Coqueluche: com alta de 3.436%, casos em São Paulo atingem recorde dos últimos 10 anos; veja cuidado
Aumento reflete tendência global; em âmbito nacional, doença também disparou em 2024
Um novo boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP) mostra que os casos de coqueluche na capital paulista em 2024 chegaram a 495 no início deste mês. O número é o mais alto desde 2014, quando foram 659 diagnósticos, e revela uma alta de 3.436% em relação ao ano passado.
O cenário no município reflete uma tendência mundial. No Brasil, de acordo com o painel do Ministério da Saúde, foram 2.953 registros de coqueluche neste ano até agora, 1.280% a mais do que em 2023 e o pior ano desde 2015, quando houve 3.108 diagnósticos. Os estados mais afetados são os do Sudeste e do Sul. Ao todo, foram registradas 12 mortes.
A alta neste ano tem sido motivo de alertas das principais autoridades sanitárias globais. Ainda em maio, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) disse que mais de 32 mil diagnósticos foram registrados no continente entre janeiro e março, contra cerca de 25 mil ao longo de todo o ano passado.
Na ocasião, o diretor do ECDC destacou que bebês abaixo de seis meses não vacinados ou parcialmente imunizados são os que estão em maior risco dos desfechos graves, como hospitalização e morte: “Ao enfrentarmos essa epidemia, é essencial lembrar as vidas que estão em jogo, especialmente as dos pequenos. As vacinas são comprovadamente seguras e eficazes”, destacou em nota.
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Nos Estados Unidos, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os casos da doença aumentaram mais de cinco vezes até o início de novembro deste ano em comparação com o mesmo período de 2023. Assim como no Brasil, o número também é maior que o observado antes da pandemia.
No mundo, os números da Organização Mundial da Saúde (OMS) já mostravam em 2023 que os casos de coqueluche haviam mais do que dobrado em relação a 2022, saindo de 64.313 para 159.832. Os órgãos também reforçam que a melhor forma de se proteger é pela vacinação.
A coqueluche é uma doença respiratória causada pela bactéria Bordetella Pertussis e transmitida por meio de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar. Os sintomas são semelhantes aos de um resfriado, como tosse seca e febre, e o principal fator de risco é a criança não vacinada, que pode desenvolver quadros graves e, se não tratada adequadamente, morrer pela doença.
No Brasil, a proteção faz parte do calendário de imunização da criança de rotina e está disponível na rede pública. Ela é feita com a vacina pentavalente infantil (DTP/HB/Hib), que evita casos de difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pela bactéria H. influenzae tipo B.
As crianças devem tomar três doses da vacina: aos dois, quatro e seis meses de vida. A partir de 1 ano de idade, são necessários ainda dois reforços realizados com a vacina tríplice bacteriana infantil (DTP), um aos 15 meses e outro aos 4 anos de idade.
Gestantes também devem ser imunizadas, com uma dose da vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (DTpa) após a 20ª semana da gestação, para transferir a proteção ao recém-nascido.
As autoridades atribuem a alta da coqueluche em 2024 a principalmente dois fatores: o impacto pós-pandemia e as baixas coberturas vacinais. O isolamento social imposto pela Covid-19 também impediu a disseminação de outros patógenos, como da bactéria causadora da coqueluche, por isso os casos caíram consideravelmente nos primeiros anos da crise sanitária.
Em 2020, o Brasil registrou somente 160 casos. A proporção de casos por habitantes foi a mais baixa de toda a série histórica do Ministério da Saúde, que teve início em 1990. Nos dois anos seguintes, o número permaneceu num patamar baixo: 245 e 214 diagnósticos foram registrados, respectivamente.
Em relação à vacinação, a última vez em que a cobertura no Brasil chegou ao preconizado foi em 2015, quando atingiu 96,9%. O percentual de crianças protegidas desceu até 70,9%, em 2019, mas voltou a subir. Neste ano, até agora, está em 87,5%. No mundo, a cobertura caiu, para 81%, na pandemia, mas subiu para 84% nos últimos dois anos, de acordo com dados da OMS.
Já a DTpa, destinada principalmente às gestantes, a cobertura está em 50,8%. A pasta lembra que "caso não administrada durante o período gestacional, a dose desta vacina poderá ser administrada no puerpério até 45 dias pós-parto". Nesse período, porém, a proteção ao bebê é limitada, porque a ideia é proteger a mãe para ela não transmitir a doença ao filho, e não transmitir anticorpos, como na gravidez.