Coreia do Norte chama presidente sul-coreano de "ditador" após tentativa "insana" de lei marcial
Em sua primeira declaração após Yoon Suk-yeol tentar destituir o Parlamento na semana passada, Pyongyang o acusou de tentar administrar uma "ditadura fascista"
A Coreia do Norte fez sua primeira declaração pública nesta quarta-feira sobre a fracassada tentativa do presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, de impor a lei marcial, comparando-a a um golpe militar e acusando-o de tentar administrar uma “ditadura fascista”. Pyongyang afirmou ainda que o mandatário da Coreia do Sul mergulhou seu país em um “pandemônio”.
As declarações foram feitas em um artigo publicado na página seis do principal jornal estatal norte-coreano, o Rodong Sinmun, que resumiu a tentativa fracassada de Yoon de assumir o controle da Assembleia Nacional em 3 de dezembro, enviando tropas, a disseminação de protestos por toda a Coreia do Sul e a incerteza política que prevalece desde então.
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“A decisão chocante do fantoche Yoon Suk-yeol de apontar suas armas e baionetas fascistas para seu próprio povo transformou o Sul fantoche em um pandemônio”, disse o artigo.
O artigo também dizia que o fracasso da tentativa dos parlamentares da oposição de destituir Yoon na Assembleia Nacional no sábado, depois que o Partido do Poder Popular de Yoon boicotou a votação, havia transformado toda a Coreia do Sul em uma “cena de protesto”. O texto, porém, não deu nenhuma indicação de como a turbulência no Sul poderia afetar as relações entre as Coreias.
A Coreia do Norte é liderada por Kim Jong-un, que é considerado um ditador pela comunidade internacional. Sua família governa a nação reclusa há décadas, cultivando um culto à personalidade que retrata os Kims como semidivinos. Desde que Yoon, que tem uma política de confronto com a Coreia do Norte, assumiu a presidência da Coreia do Sul em 2022, o relacionamento entre os vizinhos atingiu seu ponto mais baixo em anos.
O Rodong Sinmun disse ainda que os acontecimentos em Seul “revelaram a fraqueza da sociedade sul-coreana, que a súbita declaração de lei marcial de Yoon é uma expressão de desespero e que a vida política de Yoon pode terminar cedo”.
O vácuo político no Sul levantou preocupações de que seu governo e suas Forças Armadas poderiam estar mal preparados para qualquer escalada nas tensões com o regime de Kim Jong-un no Norte.
Nos últimos meses, a Coreia do Norte enviou milhares de balões carregados de lixo para o Sul, enquanto Seul respondeu com propaganda transmitida por alto-falantes na fronteira. Kim declarou que o Norte não está mais interessado na reunificação da Península Coreana, chamando o Sul de inimigo que deve ser subjugado, com armas nucleares, se necessário.
A oposição sul-coreana planeja tentar o impeachment de Yoon novamente no sábado. Se o impeachment for aceito, ele será imediatamente suspenso do cargo até que o Tribunal Constitucional decida se deve reintegrá-lo ou destituí-lo formalmente. Se o tribunal o destituir, a Coreia do Sul realizará uma eleição nacional para escolher um novo líder.
Yoon, um conservador, tem sido impopular desde que assumiu o cargo. Sua destituição aumentaria as chances dos progressistas de voltar ao poder na Coreia do Sul. Os progressistas, como o antecessor de Yoon, Moon Jae-in, favorecem o diálogo e a reconciliação com o Norte, enquanto os conservadores defendem as sanções e a pressão. Ambos os campos contam com os Estados Unidos, o aliado militar do Sul, para ajudar a defender seu país.
A Constituição da Coreia do Sul permite que o presidente proclame a lei marcial em tempos de “guerra, conflito armado ou emergência nacional semelhante”, mas também dá à Assembleia Nacional o poder de anular esse decreto com o voto da maioria.
Em uma entrevista ao The New York Times na segunda-feira, Lee Jae-myung, líder do principal Partido Democrático de oposição, disse que ele e seu partido haviam discutido informalmente o que fazer se Yoon instigasse um conflito armado com a Coreia do Norte e o usasse como pretexto para declarar a lei marcial. E acrescentou que esse risco existiria enquanto Yoon permanecesse no poder, embora o mandatário tenha dito que nunca mais declararia a lei marcial.
O projeto de impeachment que fracassou na semana passada, elaborado às pressas pelos partidos de oposição, acusava Yoon de antagonizar a Coreia do Norte, a China e a Rússia. Também criticou o que chamou de política “estranha” de Yoon com relação ao Japão. Os críticos de Yoon o acusaram de melhorar os laços com o Japão, que já ocupou a Coreia como colônia, arriscando o orgulho da nação e seus interesses.
Lee, o líder da oposição, disse que incluir as políticas externas de Yoon no projeto de lei de impeachment foi um erro e não foi ideia de seu partido. Segundo ele, em um projeto de lei revisado, a referência às políticas externas de Yoon seria removida.