Coreia do Sul exige retirada imediata de militares norte-coreanos da Ucrânia
Chancelaria sul-coreana afirma que parceria entre Moscou e Pyongyang representa uma grave ameaça 'para a comunidade internacional' e presidente diz que 'não ficará parado'
O governo da Coreia do Sul convocou o embaixador da Rússia no país, após relatos indicando que soldados norte-coreanos estariam sendo treinados e empregados junto às forças de Moscou na guerra na Ucrânia.
Rússia e Coreia do Norte negam as acusações, mas informações de de inteligência e um vídeo divulgado por Kiev, mostrando o que seriam militares da Coreia do Norte em um campo de treinamento, parecem desmontar as versões russas e norte-coreanas.
Em conversa por telefone com o representante russo, o vice-chanceler sul-coreano, Kim Hong-gyun, exigiu que todas as forças norte-coreanas na Rússia sejam retiradas e afirmou que o envio de tropas e armas da Coreia do Norte para Moscou “viola inúmeras resoluções do Conselho de Segurança e a Carta da ONU”.
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O diplomata completou afirmando que é a situação representa “uma grave ameaça à segurança não só para a Coreia do Sul, mas também para a comunidade internacional”.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, Rússia e Coreia do Norte têm intensificado seus laços militares, marcados pelo envio de munições, armas leves e, mais recentemente, foguetes e mísseis de curto alcance, algo negado pelos dois lados mas comprovado por imagens de satélite e análise de destroços em áreas de combate.
Nas últimas semanas, surgiram indícios de que os norte-coreanos atuavam diretamente em zonas de conflito, especialmente perto da fronteira — no começo do mês, seis oficiais da Coreia do Norte teriam morrido em um ataque ucraniano em Donetsk, no leste.
Na sexta-feira, o Serviço Nacional de Inteligência (NIS) da Coreia do Sul afirmou que 1,5 mil militares que integram um batalhão de elite da Coreia do Norte estão na etapa final de treinamento, realizado dentro da Rússia — militares ucranianos afirmam que eles devem participar da operação para retomar áreas ocupadas em Kursk, uma região russa sob controle parcial de Kiev desde o início da agosto.
Um vídeo divulgado na sexta-feira pelo Centro de Comunicação Estratégica e Segurança da Informação (Spravidi) mostra o que seriam militares norte-coreanos em um centro de treinamento russo próximo à fronteira com a China.
Os homens aparecem recebendo uniformes e aguardando instruções. Na semana passada, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que até 10 mil soldados estariam sendo preparados para lutar com os russos.
Dados obtidos pelo governo ucraniano e da Coreia do Sul apontam que esses militares estão sendo alocados em um batalhão que integra uma unidade baseada na Buriátia, região russa onde boa parte da população guarda semelhanças físicas com os norte-coreanos. Não foi possível confirmar de forma independente a autenticidade das imagens.
Segundo o NIS, as tropas estão sendo transportadas por aviões e navios até a cidade portuária de Vladivostok — desde agosto, afirma Seul, Pyongyang enviou mais de 13 mil carregamentos de “munições de artilharia, foguetes antitanque e outras armas letais”.
Ao comentar os protestos da Chancelaria sul-coreana, a embaixada da Rússia em Seul disse, em comunicado, que a cooperação com a Coreia do Norte “é realizada no âmbito do direito internacional e não é dirigida contra os interesses de segurança da República da Coreia”. Em declarações à imprensa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também se desvencilhou das críticas.
— Estamos desenvolvendo as nossas relações [com a Coreia do Norte] em todas as áreas. Isto não deve preocupar ninguém, porque esta cooperação não é dirigida a outros países — afirmou Peskov, citado pela agência RIA.
Também nesta segunda-feira, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, disse que a proximidade militar entre Rússia e Coreia do Norte e a invasão russa da Ucrânia “minam fundamentalmente a ordem internacional baseada em regras”, e que “estão abalando a Península Coreana e a ameaçam a paz no mundo”.
Durante conversa por telefone com o secretário-geral da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, Mark Rutte, o presidente sul-coreano afirmou que “não ficará parado”.
— A Coreia do Norte foi além do fornecimento de armas de destruição em grande escala à Rússia e chegou ao ponto de enviar tropas de elite — disse Yoon, citado pelo gabinete presidencial. — Enquanto o nosso governo acompanha de perto os acontecimentos na Rússia e na Coreia do Norte, tomaremos ativamente medidas de acordo com o progresso da cooperação militar. Neste processo, esperamos discutir medidas práticas com a Otan e os países membros.
Crítica da guerra na Ucrânia e incluída em uma lista de países considerados hostis pela Rússia, a Coreia do Sul mantém uma posição relativamente distante do conflito, marcada pela recusa do envio de armas a Kiev.
Em junho, o governo chegou a traçar uma “linha vermelha”, sugerindo que se os russos fornecesem tecnologia militar avançada à Coreia do Norte, poderia considerar enviar equipamentos letais aos ucranianos. Resta saber se o envio de tropas será considerado uma violação desses limites autoimpostos.
— Se a Coreia do Sul tomar medidas retaliatórias preventivas, como fornecer armas letais à Ucrânia, em resposta ao fortalecimento da aliança militar Coreia do Norte-Rússia, o confronto intercoreano só se intensificará. Isso também pode justificar a aliança militar Coreia do Norte-Rússia — disse ao Korea Times Hong Min, pesquisador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional.
— Portanto, uma resposta cautelosa é crucial. Devemos condenar e impor sanções às implantações norte-coreanas em nome da comunidade internacional e trabalhar juntos.