Coronavírus frustra parte dos planos de comemoração do Ano Novo chinês
Diferente dos ocidentais, o calendário chinês tem a lua como parâmetro – motivo pelo qual o feriado também é chamado de Ano Novo Lunar
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A pandemia de coronavírus frustrou os planos de milhões de chineses que viajariam para as reuniões familiares para comemorar o Ano Novo chinês a partir desta sexta-feira (12).
Quem tentou aproveitar o feriado mais importante do país, marcado por festas que duram dias, desfiles que atraem multidões às ruas e grandes encontros entre familiares que há muito não se viam, precisou se adaptar às restrições que já vigoravam e foram reforçadas, como forma de tentar conter novos casos de Covid-19.
Viajantes que chegarem a Pequim, por exemplo, precisam apresentar um teste de coronavírus com resultado negativo e cumprir quarentena de 14 dias em instalações próprias para o isolamento –o que, na prática, inviabiliza qualquer comemoração.
Para incentivar seus cidadãos a ficarem em casa, autoridades chinesas distribuíram brindes à população, como cestas de presentes e doces (uma tradição do Ano Novo) e 40 milhões de yuans (R$ 33,2 milhões) em cupons de descontos para compras virtuais.
Na capital chinesa, empresários foram encorajados pelo governo a pagarem horas extras aos funcionários que desistirem de viajar. Em Xangai, os incentivos ao isolamento incluíram planos para pagar contas telefônicas e despesas médicas de quem ficasse em casa. O objetivo era impedir que os moradores das grandes metrópoles chinesas viajassem para encontrar amigos e familiares nas áreas rurais, consideradas relativamente livres do coronavírus.
Funcionou. Dados do Ministério dos Transportes da China apontam uma queda de 70% no número de viagens de passageiros em todo o país nas duas semanas que antecederam o feriado em comparação com o mesmo período em 2019 –no ano passado, a festa também foi amplamente prejudicada pela pandemia.
Em Wuhan, onde foram identificados os primeiros casos da Covid-19, a véspera de Ano Novo foi marcada pelos compradores de última hora que lotaram as ruas da cidade. No primeiro epicentro da pandemia, o clima era de otimismo, apesar das restrições.
"Estou feliz", disse Song Bo, 33, à agência de notícias Reuters. "No ano passado, ficamos em casa sem fazer nada e dormimos o dia todo. Neste ano, embora ainda precisemos usar máscaras, é muito melhor."
A CCTV, emissora estatal chinesa, transmitiu o seu tradicional desfile de gala, uma espécie de "show da virada" que vai ao ar desde 1983. Uma das performances artísticas da atração com quatro horas de duração, no entanto, gerou críticas e acusações de racismo.
Dançarinos chineses usaram fantasias que se assemelhavam a vestes tradicionais africanas e pintaram os rostos com maquiagem marrom e preta para simular a pele negra. Conhecida como blackface, a prática é amplamente considerada discriminatória, mas para o porta-voz da diplomacia chinesa, quem apontou o racismo neste caso está "semeando discórdia com segundas intenções".
Outros veículos ligados ao regime de Xi Jinping, como o jornal People's Daily e o Global Times, louvaram a "escolha" da população de ficar em casa e o estímulo econômico nas compras virtuais.
Nas redes sociais e no jornalismo independente, entretanto, são muitos os relatos de quem considerou as restrições duras demais, especialmente para a classe trabalhadora e os milhões de imigrantes que teriam que pagar pelos próprios testes de detecção do coronavírus se quisessem viajar.
Diferente dos ocidentais, o calendário chinês tem a lua como parâmetro –motivo pelo qual o feriado também é chamado de Ano Novo Lunar. O primeiro dia do ano, portanto, coincide com o primeiro dia de lua nova depois do solstício de inverno, data que geralmente fica entre 20 de janeiro e 18 de fevereiro.
Por tradição, cada novo ano tem uma ligação com um dos signos do horóscopo chinês. Enquanto 2020 foi o ano do rato, este será o ano do boi, e corresponde a 4719 no calendário chinês, com término em 31 de janeiro de 2022.