Corpos desmembrados e feridos tropeçando no corredor: médico relata cenário em hospital de Gaza
Cirurgião plástico Ghassan Abu-Sittah, do Médicos Sem Fronteiras, afirmou ter visto 'corpo de uma criança que estava sem cabeça'
O cirurgião plástico Ghassan Abu-Sittah, que trabalha com os Médicos Sem Fronteiras, fez um relato em sua conta pessoal no Facebook para descrever o cenário no Hospital Árabe al-Ahli após a explosão que deixou centenas de mortos, nesta terça-feira (17).
O profissional de saúde afirma ter visto corpos desmembrados, inclusive uma criança decapitada, além de dezenas de feridos tropeçando uns nos outros enquanto buscavam socorro no setor de emergência.
A escalada no conflito também provocou o acirramento de uma guerra de versões, com o Hamas acusando Israel, que por sua vez responsabilizou o grupo extremista Jihad Islâmica, aliado do Hamas.
Filho de refugiados palestinos, Abu-Sittah conta que foi ao hospital na manhã de ontem. O local estava lotado de famílias deslocadas dentro da Faixa de Gaza e em busca de refúgio. No fim da tarde, ele decidiu passar a noite na unidade de saúde para continuar realizando cirurgias.
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"Entre um caso e outro, ouvi o barulho de dois mísseis e depois uma explosão. O teto da sala de cirurgia caiu. Enquanto caminhava em direção à entrada lateral do departamento de cirurgia, vi que o próprio hospital estava em chamas e foi diretamente atingido. Os feridos começaram a tropeçar em nossa direção", escreveu.
Abu-Sittah então correu em direção ao pronto-socorro, onde ele afirma ter encontrado centenas de pessoas gravemente feridas e mortos.
"Coloquei um torniquete na coxa de um homem que teve sua perna arrancada e depois fui cuidar de um homem com uma lesão penetrante no pescoço", prossegue o relato.
Em uma outra postagem, publicada nesta quarta-feira, Abu-Sittah acrescentou detalhes: "O número de crianças mortas ultrapassa 50%. Eu vi o corpo de uma criança que estava sem cabeça".
Médico descobriu que pai morreu na explosão
Um colega de Abu-Sittah, da Unidade de Queimados, descobriu que seu pai era um dos palestinos que buscavam refúgio no Hospital Árabe al-Ahli e uma das vítimas da explosão. O cirurgião acredita que a quantidade de vítimas ainda vai subir.
"Este número aumentará à medida que vi muitos corpos desmembrados e partes de corpos enquanto carregava o último paciente para a ambulância, passando pelo pátio", afirmou.
Os feridos no Hospital Árabe al-Ahli foram transferidos para outra unidade de saúde, o Hospital al-Shifa. Mas este último já não conta mais com fixadores externos necessários para estabilizar as fraturas, conforme o relato de Abu-Sittah.
"Estou ileso, mas isso foi um massacre contra um hospital", disse.