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Corrida nuclear: EUA concentram 80% dos gastos, e China tem arsenal 'pronto para uso' pela 1ª vez

Corrida nuclear: mundo tem 9.585 ogivas disponíveis para uso potencial, apontam estudos - entre elas, 2.100 estão em 'alerta operacional máximo'

Lançadores de mísseis balísticos intercontinentais russos Yars desfilam pela Praça Vermelha durante o desfile militar do Dia da Vitória no centro de Moscou em 9 de maio de 2022. Lançadores de mísseis balísticos intercontinentais russos Yars desfilam pela Praça Vermelha durante o desfile militar do Dia da Vitória no centro de Moscou em 9 de maio de 2022.  - Foto: Alexander Nemenov/AFP

Um relatório publicado pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) mostra que os gastos de potências internacionais com o arsenal atômico aumentaram "consideravelmente" à medida que as suas ogivas foram modernizadas.

Wilfred Wan, diretor de um programa sobre armas de destruição em massa do Sipri, disse que as armas nucleares não desempenham "um papel tão importante nas relações internacionais desde a Guerra Fria".

Segundo o Sipri, o número total de ogivas nucleares no mundo diminuiu ligeiramente: no início do ano, eram 12.121, em comparação com 12.512, um ano antes. Parte destas ogivas deve ser desmantelada, mas 9.585 estão disponíveis para uso potencial, nove a mais que no ano passado. E cerca de 2.100 delas foram mantidas em "alerta operacional máximo" para uso em mísseis balísticos.

 

A grande maioria das ogivas nucleares pertence à Rússia e aos Estados Unidos. Os dois países possuem 90% das armas nucleares do mundo. Mas, pela primeira vez, o Sipri estimou que a China tem "algumas ogivas nucleares em estado de alerta operacional elevado", ou seja, prontas para uso imediato.

Embora "o número total de ogivas nucleares continue a diminuir à medida que as armas da era da Guerra Fria são progressivamente desmanteladas", há um aumento no "número de ogivas nucleares operacionais" de ano para ano pelas potências nucleares, segundo Dan Smith, diretor do Sipri.

Na esteira do aumento das tensões geopolíticas, as potências nucleares elevaram os gastos nesta área em um terço nos últimos cinco anos, indicou o relatório. Outro estudo, da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican, sua sigla em inglês), apontou a mesma tendência.

De acordo com a entidade vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2017, os nove Estados com armas nucleares — Rússia, Estados Unidos, França, Índia, China, Israel, Reino Unido, Paquistão e Coreia do Norte — gastaram no segmento um total de US$ 91 bilhões (R$ 487 bilhões, na cotação atual), em 2023.

— Acho razoável dizer que há uma corrida armamentista nuclear em andamento — disse Melissa Parke, diretora do ICAN, à AFP.

R$ 15 mil por segundo; EUA lideram gastos
Segundo a Ican, os gastos com armas nucleares em todo o mundo aumentaram US$ 10,8 bilhões em 2023 em relação ao ano anterior. Os Estados Unidos foram responsáveis por 80% desse aumento.

A participação dos EUA nos gastos totais, de US$ 51,5 bilhões, "é maior do que a de todos os outros Estados com armas nucleares combinados", afirmou a Ican. Washington é seguido por Pequim (US$ 11,8 bilhões) e Moscou (US$ 8,3 bilhões).

As potências nucleares gastaram no total US$ 2.898 por segundo (R$ 15,5 mil) no ano passado para financiar estas armas, de acordo com o relatório. Os montantes atribuídos às armas nucleares aumentaram 33% desde 2018 (que naquela altura era de US$ 68,2 bilhões), quando o Ican começou a recolher os dados.

Em todos estes anos, estes países investiram cerca de US$ 387 bilhões de dólares nestas armas, acrescentou a entidade. Melissa Parke denunciou o "uso inaceitável de fundos públicos" para esse fim e chamou as despesas de "obscenas".

Segundo a diretora do Ican, estes fundos representam mais do que o Programa Alimentar Mundial estima ser necessário para acabar com a fome no mundo.

— E poderíamos plantar um milhão de árvores por cada minuto gasto em armas nucleares — ressaltou.

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