Adesão à vacina bivalente é baixa em Pernambuco: menos de 12% da população recebeu dose
Poucos pernambucanos receberam a dose do imunizante que protege contra a cepa original e variante ômicron do Sars-Cov-2
Quase três meses após a liberação da vacina bivalente contra a Covid-19 para toda a população, a adesão ainda é baixa em Pernambuco.
De um público-alvo de 8.007.984 pessoas, apenas 11,8% tomaram o imunizante, que protege contra a cepa original do coronavírus Sars-CoV-2, a ômicron e suas subvariantes, até agora. A porcentagem corresponde a 945.118 doses aplicadas, segundo dados do Ministério da Saúde compilados até a noite de segunda-feira (17).
Números de todo o Brasil atestam que a procura está baixa em todos os estados. São Paulo tem a maior taxa do País, mas não passa sequer dos 20%. No estado paulista, a cobertura é de 19,93%. Em segundo está o Distrito Federal, com 19,16%. O último colocado é o estado de Roraima, onde apenas 4,72% da população tomou a vacina.
Pernambuco tem ainda a terceira pior cobertura do Nordeste, à frente apenas de Alagoas (8,94%) e do Maranhão (8,73%). A taxa mais alta da região é do Piauí (17,16%), terceira maior do País.
Essa baixa procura pelo imunobiológico preocupa as autoridades de saúde. No primeiro semestre, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) lançou uma campanha de mídia com foco na atualização da caderneta de vacinação dos pernambucanos, inclusive para a proteção de reforço para Covid-19.
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"As baixas coberturas vacinais sempre serão preocupantes, pois possibilitam a criação de bolsões de populações desprotegidas contra as doenças, que propiciam a manutenção da circulação dos vírus no território", disse a Secretaria Estadual de Saúde. A campanha alertava a população para as demais vacinas presentes no calendário nacional como poliomielite, sarampo, hepatite, coqueluche e tétano.
Em termos proporcionais, o município pernambucano com maior cobertura da dose bivalente é Carnaubeira da Penha, no Sertão, com 51,54%. A cidade é a única a passar da casa dos 50%.
Na sequência, aparecem Brejinho (30,39%), Cedro (29,95%), Tabira (28,68%) e Salgueiro (28,40%). A cidade com a menor cobertura do Estado é Xexéu com apenas 1,34%. As cinco cidades também ficam no Sertão do Estado.
O Recife aplicou um total de 118.310 doses, o equivalente a 8,26% de sua população elegível a tomar a bivalente.
O infectologista da Interne Soluções em Saúde Rafael dos Anjos credita a baixa cobertura à disseminação de fake news contra as vacinas e ao crescimento do movimento antivax.
"Ainda é uma realidade [as fake news], inclusive profissionais de saúde ainda referem-se à vacina como não experimentada, que não foi que tem seus riscos, e isso traz repercussão para a população. Se o profissional fala isso, a pessoa fica com receio e acaba se negando a tomar a vacina", alerta, ao citar que grupos cada vez maiores dizem que vacinas não trazem benefícios.
"Isso é uma fonte muito errada de informação. Nos últimos 100 anos, a gente conseguiu evoluir a saúde pública. Muitas pessoas deixaram de morrer ou ficar doentes por causa das vacinas", completa Rafael dos Anjos.
O médico defende a educação em saúde como fator que pode ajudar no contexto da melhoria das taxas de cobertura. "A gente precisa se comunicar melhor. A gente como profissional de saúde muitas vezes é muito erudito, fala muito difícil, é muito difícil para a população entender. O erro não é da população que não entende, é da gente que não está se fazendo entender", pontua o infectologista.
A SES-PE afirmou ainda que mantém contato permanente com gestores municipais e ressalta a importância das estratégias de incentivo à vacinação e da oportunização do acesso aos imunizantes em tempo oportuno.
A pasta estadual também destaca que recomenda os municípios a ofertarem a vacina em locais de grande circulação de pessoas, em escolas, postos volantes, centros de vacinação, unidades em funcionamento em horário estendido, além de ações porta a porta – que inclui o acesso da população com dificuldades de locomoção.
Quase 1 mil mortes
Em nota enviada à reportagem da Folha de Pernambuco, o Ministério da Saúde ressaltou a importância da vacinação e citou que, nas últimas quatro semanas epidemiológicas, foram registrados no País um total de 54.182 casos de Covid-19 e 921 mortes.
"Portanto, embora tenha ocorrido uma queda significativa desde o momento mais crítico da pandemia, a Covid continua contaminando pessoas e ceifando vidas", destacou a pasta federal.
Para tentar reverter o quadro de baixa procura por vacinas, não somente a da Covid-19, o Ministério da Saúde lançou o Movimento Nacional pela Vacinação para resgatar na população brasileira a confiança nas vacinas e para que o Brasil volte a ser referência mundial em altas coberturas vacinais.
O ministério ainda reforça que as vacinas são seguras, eficazes e salvam milhares de vidas em todo o mundo.
Financiamento
No segundo semestre, o Ministério da Saúde deverá liberar dinheiro para os estados fazerem planejamentos mais direcionados para atrair as pessoas para as salas de vacinação.
Em relação a esse tópico, a SES-PE afirmou que o Programa Estadual de Imunizações está em contato com o órgão federal e que, no próximo mês de setembro, representantes irão participar de oficina de microplanejamento ministrada com o foco na discussão e adoção das melhores estratégias de imunização.
"A iniciativa visa analisar a realidade de cada localidade para implementar ações diretas para estímulo e oportunização da vacinação em sua plenitude, não só apenas para proteção contra a Covid-19. O aporte financeiro será encaminhado aos estados e aos municípios para que estes atuem de maneira a alavancar as coberturas vacinais", explicou a pasta estadual.
Quem pode tomar a bivalente?
A vacina bivalente contra a Covid-19 está disponível para toda a população acima de 18 anos. O objetivo da aplicação do imunizante é reforçar a proteção contra a doença e ampliar a cobertura vacinal em todo Brasil.
Em Pernambuco, além da população com 18 e mais, também estão autorizadas a receber a dose de reforço com o imunizante bivalente pessoas a partir dos 12 anos de idade e que pertençam aos seguintes grupos:
- imunocomprometidos;
- pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência (ILP) e os trabalhadores dessas instituições;
- comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
A orientação do Ministério da Saúde é para quem já recebeu, pelo menos, duas doses de vacinas monovalentes (CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer ou Janssen) como esquema primário ou como dose de reforço, respeitando um intervalo de quatro meses da última dose.
Quem ainda não completou o ciclo vacinal e está com alguma dose de reforço em atraso, também pode procurar as unidades de saúde.
A efetividade da vacina bivalente é atestada por diversos estudos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), um deles contou com a participação de mais de 250 mil pessoas com Covid-19 nos Estados Unidos, e os pesquisadores constataram eficácia de 28% (entre vacinados há dois ou três meses) a 56% (entre vacinados há mais de oito meses) contra hospitalização pela doença. Em outro estudo, realizado com idosos vacinados há dois meses, a eficácia ficou em 73%.