Covid-19: estudo diz que redução de anticorpos pode ocorrer em até três meses
Pesquisa identificou maior redução do anticorpo IgG em pacientes assintomáticos
Pessoas que tiveram a Covid-19, com ou sem sintomas, apresentam queda nos níveis de anticorpos contra a doença entre dois e três meses após a infecção, aponta uma pesquisa publicada na última semana na revista científica Nature Medicine. O estudo conduzido na China analisou 37 pessoas assintomáticas e 37 com sintomas moderados. Todas tiveram a infecção confirmada com o teste RT-PCR, considerado padrão-ouro para a detecção da doença.
Os pacientes foram analisados até oito semanas após deixaram o hospital. Segundo os pesquisadores, a maioria teve redução de anticorpos IgG, que indicam que a infecção ocorreu há mais tempo. Como podem durar bastante no sangue, esses anticorpos são considerados um bom marcador de imunidade.
Os anticorpos IgG estavam abaixo do nível detectável em 40% dos voluntários assintomáticos e em 13% dos sintomáticos. A redução dos níveis de anticorpos pode ter implicações nas estratégias de imunidade e nas pesquisas sorológicas que vêm sendo conduzidas. "Os dados indicam os riscos do uso de passaportes de imunidade para a Covid-19 e dão suporte à continuidade de medidas de intervenção de saúde, incluindo distanciamento social", afirmam os autores da pesquisa.
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Em abril, a OMS disse que os chamados "passaportes de imunidade" não devem ser usados como estratégia para flexibilizar as quarentenas contra o novo coronavírus. O documento divulgado na época, que reviu 20 estudos científicos, disse que "não há evidências de que as pessoas que se recuperaram da Covid-19 e tenham anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção”. O risco é que pessoas com resultado positivo no teste passem a ignorar conselhos de saúde pública, por se considerarem imunes a uma segunda infecção.
De acordo com o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o estudo ainda não traz respostas definitivas, mas levanta pontos sobre uma possível segunda onda da pandemia a partir de reinfecções. "O estudo sugere que não dá para confiar numa imunidade duradoura", afirma Weissmann.
Os pesquisadores também analisaram as tomografias computadorizadas dos pacientes assintomáticos. Pacientes com Covid-19 grave costumam apresentar um padrão de vidro-fosco em suas tomografias pulmonares. Nas pessoas assintomáticas que participaram do estudo, 16 (pouco mais de 40%) não apresentaram quaisquer traços anormais.
O ponto mais importante do estudo, segundo Weissmann, é que mesmo as pessoas que já tiveram a Covid-19 precisam continuar com as medidas preventivas, como evitar aglomerações, usar máscaras e higienizar as mãos. De toda forma, são necessários estudos mais amplos para se ter conclusões mais sólidas sobre a imunidade relacionada ao Sars-CoV-2.