Covid-19: o que se sabe sobre a nova subvariante da Ômicron XBB.1.5, que cresce nos EUA
Linhagem passou de 1,3% para 40,5% dos casos no país em um mês
A última atualização do monitoramento realizado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) mostra que 40,5% dos casos de Covid-19 no país atualmente são provocados pela subvariante da Ômicron XBB.1.5. O percentual chama a atenção pela velocidade de crescimento, uma vez que no início de dezembro a sublinhagem representava apenas 1,3% das infecções.
No mesmo período, as versões BQ.1 e a BQ.1.1 da Ômicron, que predominam hoje no Brasil segundo o último relatório do Instituto Todos pela Saúde (ITPs), caíram de mais de 55% dos casos sequenciados para cerca de 45%.
A XBB.1.5 foi identificada pela primeira vez nos Estados Unidos e é uma derivada da XBB, subvariante que provocou uma alta de casos em setembro do ano passado em Cingapura e na Índia. A sublinhagem é resultado de uma recombinação de outras versões da Ômicron.
Ela cresceu nos dois países asiáticos ao mesmo tempo em que a BQ.1 crescia em outros como os EUA e o Brasil. Isso porque ambas apresentam mutações que aumentam o seu potencial de escapar dos anticorpos conferidos pela infecção prévia e pelas vacinas, e consequentemente de provocar casos de reinfecção.
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Um estudo de dezembro, publicado na revista científica Cell por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em laboratório, mostrou que essas duas versões da Ômicron (BQ e XBB) são as com maior escape imune identificado até o momento, com a XBB tendo uma resistência até 49 vezes maior de resistir às defesas do que a linhagem BA.5, que predominou durante boa parte de 2022.
"Essa vantagem está muito relacionada a uma mutação na Spike (proteína que o vírus utiliza para infectar a célula) que aumenta o escape dos anticorpos. Esse escape já foi observado em outras linhagens, mas isso não quer dizer necessariamente que não tenha proteção clínica (contra desfechos graves da Covid). Mas isso pode dar uma vantagem evolutiva para o vírus continuar a se disseminar, o que provavelmente está acontecendo" explica o coordenador da Rede Corona-Ômica BR – MCTI , monitoramento nacional de amostras do vírus da Covid-19, Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.
Isso porque a proteção contra casos graves envolve também as células de defesa, uma parte mais robusta da resposta imunológica que vai além dos anticorpos. Além disso, um outro estudo, do periódico New England Journal of Medicine, mostra que pessoas vacinadas com a nova geração de imunizantes, chamados de bivalentes por contarem com uma parte da Ômicron em sua formulação, apresentaram uma melhor resposta imunológica à XBB – ainda que a versão da variante utilizada na dose seja da BA5.
"Por enquanto, temos observado que a proteção clínica continua adequada com as vacinas atuais, com menos casos severos mesmo com essa variante XBB envolvida. No contexto atual, não só para ela, como para a BQ.1, é importante que tenhamos o advento das vacinas bivalentes, que contam com uma parte mais similar a essas novas versões do vírus" diz Spilki.
Ele destaca que a emergência das novas sublinhagens está ligada à alta circulação do coronavírus, e que demanda um monitoramento das autoridades de saúde para que se compreenda até que ponto essas novas versões podem aumentar também casos graves da doença e que são mais resistentes aos tratamentos disponíveis hoje.
"Ao mesmo tempo em que estamos num processo de endemização, onde provavelmente não teremos mais para frente o mesmo nível de surtos dos anos anteriores, fica ainda como desafio observar esse alto número de infecções, como está ocorrendo na China, e possíveis variantes que possam provocar novas ondas no médio e longo prazo" afirma.