Covid-19 pode reverter redução recorde de mortalidade infantil, diz OMS
Interrupções nos exames de saúde para crianças e nos serviços de imunização ocorreram em 68% de 77 países pesquisados nos últimos meses pelo Unicef
A mortalidade infantil no mundo caiu à metade em 30 anos, mas a falta de atendimento médico provocada pela pandemia de coronavírus pode reverter esse progresso, afirmou a OMS (Organização Mundial da Saúde). Estatísticas divulgadas, nesta quarta (9), pela ONU mostram que o número de crianças com menos de 5 anos mortas em 2019 atingiu um mínimo histórico em termos absolutos, de 5,2 milhões. Em 1990, foram 12,5 milhões.
Mas vários serviços de saúde que permitiram esse avanço foram afetados pela Covid-19, adverte a OMS e o Unicef (agência da ONU para a infância). Interrupções nos exames de saúde para crianças e nos serviços de imunização ocorreram em 68% de 77 países pesquisados nos últimos meses pelo Unicef.
"Quando as crianças não têm acesso aos serviços de saúde porque o sistema está sobrecarregado e as mulheres não dão à luz no hospital por medo de infecção, elas também podem se tornar vítimas da Covid-19", disse Henrietta Fore, diretora-executiva da agência. Estimativas feitas em maio pela Universidade Johns Hopkins indicaram o risco de até 6.000 mortes em excesso por dia provocadas por interrupções devido à pandemia.
Segundo Fore, se exames de saúde, vacinações e cuidados pré-natais e pós-natais não forem reativados, milhões de crianças podem morrer, "especialmente recém-nascidos". São os bebês mais novos os que mais correm risco entre os menores de cinco anos: em 2019, um recém-nascido morria a cada 13 segundos. Quase a metade (47%) das mortes de crianças ocorreram no período neonatal no ano passado.
É uma parcela maior que os 40% de 1990, o que mostra que a redução da mortalidade infantil foi mais forte entre crianças maiores que nas que estão nos primeiros dias de vida. Os cuidados afetados pela pandemia previnem ou tratam causas de morte infantil como prematuridade, baixo peso ao nascer, complicações durante o parto, sepse neonatal, pneumonia, diarreia e malária.
Na pesquisa do Unicef, 63% dos países sofreram interrupções em exames pré-natais, essenciais para reduzir riscos de mortalidade. Mulheres que realizam partos de acordo com os padrões internacionais têm 16% menos probabilidade de perder seu bebê e 24% menos probabilidade de ter parto prematuro, de acordo com a OMS. A agência da ONU também identificou paralisação do atendimento pós-natal em 59% dos países, e outro levantamento, da OMS, entre 105 países mostrou que 52% deles deixaram de tratar crianças doentes e 51% interromperam combate à desnutrição.
Segundo as entidades internacionais, os motivos mais comumente citados para interrupções nos serviços de saúde incluíram pais evitando centros de saúde por medo de infecção, restrições de transporte, suspensão ou encerramento de serviços e instalações, menos profissionais de saúde devido a desvios ou medo de infecção, escassez de equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas e maiores dificuldades financeiras.
Afeganistão, Bolívia, Camarões, República Centro-Africana, Líbia, Madagascar, Paquistão, Sudão e Iêmen estão entre os países mais atingidos. Desses 9 países, 7 tiveram altas taxas de mortalidade infantil, de mais de 50 mortes por 1.000 nascidos vivos entre crianças menores de cinco anos em 2019.
No Afeganistão, onde 1 em 17 crianças morreu antes de completar 5 anos em 2019, o Ministério da Saúde relatou uma redução significativa em visitas a unidades de saúde. Com medo de contrair o novo coronavírus, as famílias deixaram de receber atendimento pré e pós-natal.