Covid-19: estudo com autópsias encontra vírus no cérebro sete meses após a infecção
Pesquisadores esperam que achados contribuam para elucidar a persistência dos sintomas após a doença, quadro chamado de Covid-19 longa
Uma equipe de cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) realizou autópsias – exames em cadáver – de 44 vítimas da Covid-19 durante o primeiro ano da pandemia e encontrou material genético do Sars-CoV-2, vírus causador da doença, persistente nos tecidos de todo o corpo por até sete meses após a infecção (230 dias). As partículas foram encontradas inclusive no cérebro – região que recebeu uma análise ainda mais aprofundada em 11 dos corpos estudados.
O trabalho, publicado na revista científica Nature, é parte de um amplo projeto que busca entender o potencial de atuação do novo coronavírus para além do sistema respiratório e auxiliar estudos que terão início neste ano para avaliar se o tratamento com o Paxlovid, antiviral desenvolvido pela Pfizer, consegue reduzir também esses efeitos extremos.
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Os pacientes que foram estudados morreram em 2020 e, portanto, não haviam sido vacinados. As análises foram conduzidas entre abril de 2020 e março de 2021. Os primeiros achados foram a confirmação de que o Sars-CoV-2 infecta primariamente o sistema respiratório, como as vias aéreas e o pulmão, mas que se espalha para o resto do corpo.
Os cientistas encontraram fragmentos de RNA do patógeno em 79 de 85 locais analisados, que incluíram o sistema cardiovascular, linfóide, gastrointestinal, renal, endócrino, reprodutivo, muscular, cerebral e outros tecidos. A constatação explica, por exemplo, o risco aumentado da infecção para problemas no coração, como a miocardite.
No Sistema Nervoso Central, formado pelo cérebro e pela medula espinhal, o vírus foi encontrado em todas as regiões que tiveram amostras coletadas. Porém, em nenhum tecido foi encontrada uma inflamação tão significativa quanto a das vias respiratórias, que chegou a ser 100 vezes maior.
Mostramos que o SARS-CoV-2 se dissemina pelo corpo humano e cérebro no início da infecção em níveis elevados e fornecemos evidências de replicação do vírus em vários locais extrapulmonares durante as duas primeiras semanas após o início dos sintomas, afirmam os pesquisadores em comunicado.
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Eles afirmam ainda que o RNA viral pode permanecer detectável por meses mesmo em casos com sintomas leves ou assintomáticos. No entanto, o fato de o vírus poder ser detectado no tecido não quer dizer que ele consiga se replicar e, portanto, que aquela pessoa esteja transmitindo a doença para outras pessoas.
Para os cientistas, os achados ajudam a esclarecer os mecanismos por trás da síndrome da Covid longa, a persistência dos sintomas da doença por ao menos três meses após a infecção segundo a Organização Mundial da Saúde. Isso porque alguns dos problemas ligados ao quadro não são ligados ao trato respiratório, como dores no peito, no corpo, perda de memória e névoa mental.