Creche Nossa Senhora do Rosário acolhe histórias que eternizam legado de amor de Graça Brennand
Espaço foi inaugurado com intuito de dar assistência às crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social na Várzea
Dentro dos muros da Creche Nossa Senhora do Rosário, localizada na Rua João Francisco Lisboa, no bairro da Várzea, no Recife, são construídas histórias que, dentro do livro da vida, eternizam personagens tidos como os principais responsáveis por modificar o enredo ao passar das páginas. Uma dessas figuras é Graça Maria Monteiro Brennand, carinhosamente conhecida como Dona Gracita Brennand, que morreu na noite de sexta-feira (10).
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Ela foi casada com o empresário Ricardo Brennand (1927-2020), que pilotou grandiosos projetos como fábricas de cimento, indústrias de vidros e também criou o Instituto Ricardo Brennand (IRB), uma referência a nível mundial quando o assunto é o Brasil Holandês.
Surgimento da creche
A creche foi inaugurada em agosto de 2001, com o intuito maior de dar uma assistência segura e acolhedora às crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social no bairro, localizado na Zona Oeste da capital pernambucana, e têm entre quatro meses e seis anos, idades inseridas na fase da Primeira Infância. Entre as principais atividades do cronograma, estão atividades pedagógicas e lúdicas, aulas de artes, música e brincadeiras.
Crianças brincando nas dependências da Creche Nossa Senhora do Rosário, localizada na Rua João Francisco Lisboa, no bairro da Várzea | Foto: Cortesia
Lá, as crianças também recebem café da manhã, almoço, lanches e jantar. Também estão na rotina atendimentos médico e odontológico.
Atualmente, a Creche Nossa Senhora do Rosário conta com 140 crianças e 29 funcionários, que somam algumas das histórias que eternizam o legado de vida de Dona Gracita.
Única voluntária no projeto, a diretora pedagógica Andréa Côrte Real Tenório, bastante emocionada, relembrou o importante papel de Gracita na vida das crianças, que a chamavam de “vovó”. O surgimento do lar, inclusive, nasceu a partir da transformação de uma dor pessoal em um amor coletivo.
“Ela era um ser humano que se superava a cada dia. Ela teve, a partir do falecimento de um dos seus filhos, a iluminação e o dom de Deus de criar a creche. E ela se dedicava diariamente, todos os assuntos passavam por ela, que planejava tudo. Quando ela chegava, as crianças chamavam ela de ‘Vovó Graça’ e ela abria um sorriso imenso. Era uma realização”, relembra Andréa, antes de estender o exemplo de solidariedade para as famílias da comunidade.
“Ela ajudava as famílias carentes da Várzea. A mãe trabalhava e podia deixar seu filho. Ela queria sempre as mães carentes para atender, as que mais precisavam”, assegura por fim.
Receita para bem viver
Não há receitas para se viver. Mas há uma para bem viver. A bondade. Cuidar de melhorar a vida dos menos favorecidos. É viver a graça da vida, pelas boas obras, e não apenas as intenções. Foi assim em grande parte a vida da Graça Maria Monteiro Brennand. Fazer o bem, numa forma de cristianismo doce e prático, tão efetivo quanto discreto. Uma coisa cada vez mais incomum atualmente.
A ação cristã assim nunca é formal, ou mero cumprimento de desígnios. É algo mais profundo. Não está atrelada a uma ideia de dividir ou compensar. Tratava-se mesmo, no seu caso, de um tipo de filosofia de vida, que praticava e impulsionava com o empresário Ricardo Brennand. Tudo pode ser resumido em uma palavra – solidariedade – que sintetiza diversas outras: compaixão, piedade, caridade, amor e justiça.
Graça Maria foi a expressão da energia mais bela e da solidariedade mais amável no engenheiro Ricardo Brennand, seu marido. E da sua visão humanista, que permeia um dos mais importantes museus do Brasil, o IRB. Sim, o Instituto Ricardo Brennand é parte da obra social de Graça.
Desenvolvimento através da arte
Ao se falar em filosofia, no caso da doutrina praticada por dona Gracita, se pode usar termos os mais elevados, porque entendia a arte como a busca do que há de mais universal na criatura humana, acima de quaisquer credos, nacionalidades, regionalismos, ideologias, na mais ampla ideia de humanidade. Esse humanitarismo está bem alicerçado na ideia que deixou clara em sua trajetória: o desenvolvimento da sociedade através da arte, o que pode transformar o indivíduo pessoal em um indivíduo coletivo.
Nesse ponto, Graça Brennand apostou na educação como ingrediente fundamental à transformação do homem. Essa era a receita que oferecia melhor. A educação, a cultura, através da arte e do conhecimento da história para a formação, não somente do cidadão, mas da ideia mais universal do homem.
Exemplo prático disto? Entre outras iniciativas, sua devoção com o educandário Nossa Senhora das Graças, ali na Várzea, no Recife, ao lado da igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ela que teve oito filhos e muitos netos e bisnetos, encarregou-se na formação de jovens, aos quais chamava de “minhas” crianças, do educandário, que pode ser considerada a maior obra social ligada ao IRB.
Assim pensava e praticava a filantropa Graça Brennand. Deixa, portanto, a receita para se viver melhor: ser parte da construção e melhoria do outro. Não é assim que pensam e agem as melhores religiões?