Cresce preocupação com presidente derrubado após golpe no Níger
Bloco da África Ocidental ordenou a mobilização de sua "força de reserva" para "restabelecer a ordem constitucional"
As condições de detenção do presidente do Níger, derrubado por um golpe de Estado militar, geraram crescentes preocupações internacionais, um dia depois de os países da África Ocidental ordenarem a mobilização de sua "força de reserva" para restabelecer a ordem constitucional no país.
O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, manifestou sua "profunda preocupação" com a "deterioração das condições de detenção" do presidente Mohamed Bazoum, que se encontra detido em sua residência com a mulher e o filho desde o golpe de Estado de 26 de julho.
O tratamento que lhe é reservado é "inadmissível", denunciou Mahamat em um comunicado, no qual manifestou seu "firme apoio às decisões da CEDEAO", a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental.
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Na quinta-feira (10), o bloco da África Ocidental ordenou a mobilização de sua "força de reserva" para "restabelecer a ordem constitucional" nesse empobrecido país de 25 milhões de habitantes. Um dos últimos aliados do Ocidente na região do Sahel, o Níger abriga vários grupos jihadistas.
Em uma nota, a União Europeia também manifestou sua "profunda preocupação" com o destino do presidente, eleito democraticamente.
"Segundo as últimas informações", Bazoum e a sua família estão "privados de alimentação, eletricidade e cuidados médicos há vários dias (...) não há justificativa para esse tratamento", disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell.
Um dos familiares do presidente confirmou à AFP que "ele está bem, mas que as condições são muito difíceis".
Os militares que tomaram o poder ameaçaram investir contra ele, em caso de intervenção militar, alertou.
"Detenção "desumana e cruel"
A ONG Human Rights Watch conseguiu se comunicar com Bazoum e disse que ele descreveu as condições de sua detenção como "desumanas e cruéis". Não tem eletricidade desde 2 de agosto, e está sem contato humano há uma semana, denunciou.
Os militares no poder “sequestraram o presidente Bazoum. Pessoalmente, considero isso um ato de terrorismo”, criticou o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara.
Após a cúpula da Cedeao realizada na véspera em Abuja (Nigéria), Ouattara informou que os países do bloco deram "sinal verde" para que a intervenção comece "o mais rápido possível".
O regime militar no poder em Niamei ainda não reagiu à decisão do bloco regional, que espera, no entanto, que o conflito seja resolvido de forma pacífica.
A França, antiga potência colonial com presença militar neste país, "apoia todas as conclusões" da cúpula da Cedeao, incluindo a possibilidade de uma intervenção militar, afirmou seu Ministério das Relações Exteriores.
Com soldados mobilizados no Níger no âmbito de uma operação antijihadista, os Estados Unidos também manifestaram seu apoio "à liderança e ao trabalho da CEDEAO" para restabelecer a ordem constitucional, disse seu secretário de Estado, Antony Blinken.
Em outra cúpula após o golpe, os líderes do bloco deram um ultimato aos militares para devolver Bazoum ao poder até 7 de agosto, no mais tardar, sob ameaça de força. No passado, a Cedeao já interveio na Libéria, em Serra Leoa e em Guiné-Bissau.
"Intransigência"
Os militares nigerinos ignoraram o prazo da Cedeao e deram sinais de quererem se entrincheirar no poder.
Na terça-feira, uma delegação conjunta do bloco, da União Africana e das Nações Unidas foi impedida de entrar por motivos de "segurança".
E, ontem, anunciaram a formação de um novo Executivo com 20 ministros, que inclui dois generais no comando das pastas do Interior e da Defesa.
O presidente da Nigéria, Bola Tinubu, à frente da presidência rotativa da Cedeao, insistiu no início da cúpula na necessidade de "priorizar as negociações diplomáticas e o diálogo".
"Não descartamos nenhuma opção, inclusive o recurso à força. Se não fizermos isso, ninguém fará no nosso lugar", afirmou.
Mali e Burkina Faso, que também são liderados por militares, disseram que vão considerar uma intervenção como "uma declaração de guerra" contra eles. Ambos também são ex-colônias francesas.