Crescimento de mais de 1.000% dos casos faz DF ter maior incidência da doença no país
Escalada da arbovirose levou governo de Brasília a declarar situação de emergência pública de saúde na última quinta-feira (25)
Com os números da dengue crescendo por todo o país, o Distrito Federal (DF) é a unidade de Federação com maior incidência da doença — 1.108,8 casos a cada 100 mil pessoas — , e conta até com a ajuda de militares do Exército treinados para atuar no combate ao mosquito transmissor do vírus.
Os números refletem uma alta nacional, que preocupa autoridades. Foram 232.990 casos identificados no país nas quatro primeiras semanas epidemiológicas de 2024, período que foi até o último dia 27, segundo dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, consultados nesta quarta-feira. No mesmo período em 2023, foram registrados 65.366, o que revela um crescimento de 252% da doença.
Nas quatro primeiras semanas do ano, o DF já registrou 31.236 casos prováveis da doença, um aumento superior a 1.000% em relação a 2023, além de sete óbitos confirmados, segundo dados da pasta da Saúde. O número faz a capital ter uma incidência de casos dez vezes maior do que a média nacional, que é de 120 a cada 100 mil pessoas.
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O risco de uma epidemia de dengue levou o governo do DF a declarar situação de emergência pública na última quinta-feira. Diante da escalada de casos, a pressão aumentou, e a gestão anunciou uma série de medidas de combate ao mosquito.
Ontem, 247 militares se juntaram aos agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (AVA) e foram às ruas em busca de focos do Aedes aegypti. Segundo o governo do DF, os militares ficarão à disposição do governo até o fim da vigência do decreto de emergência.
"Neste momento, nós vamos intensificar as visitas aos domicílios, visualizando locais que possam ser abrigos para as larvas. A programação do fumacê também continua e ganhará reforço com as equipes do Exército." diz a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio.
Na última sexta-feira (26), a Justiça do DF renovou por um ano um alvará que autoriza a entrada de agentes de saúde em casas mesmo sem permissão dos proprietários.
Além do reforço militar e da Justiça, também foram espalhadas nove tendas de triagem para auxiliar no diagnóstico e primeiros socorros de pacientes.
Em Sobradinho, região administrativa do DF, está montada uma das tendas de hidratação destinadas aos pacientes com dengue. No local, pessoas chegam com um semblante abatido pelo quadro febril da doença. Enquanto esperam pela triagem dos enfermeiros, tentam evitar as picadas de mosquitos que rodeiam o local.
A estudante Cecília de Lima, de 12 anos, era uma das atendidas. Acompanhada da avó, com a voz baixa e fraca, ela conta que chegou à tenda desidratada depois de passar mal à noite:
"Faz quatro dias que estou com sintomas já: dor no corpo, com estômago revirado, febre alta. Passei a noite vomitando ontem. Cheguei aqui fraca. Fiz o teste e deu negativo, mas disseram que é porque o daqui é menos efetivo. Vou fazer o de sangue em uma UBS."
Deitada em uma das macas da tenda, a vendedora Márcia Saraiva, 34 anos, também recebia soro. A vendedora testou negativo para o vírus da dengue, mas foi orientada a realizar um exame de sangue. Ela diz que contraiu a doença no início do ano passado, e reclama da falta de vigilância das autoridades.
"Todo início de ano é a mesma coisa. Lá onde eu moro está cheio de mosquito. A gente faz a nossa parte, passa repelente, vira pneu, mas não apareceu nenhum fumaceiro ou agente de saúde na minha rua este ano" diz.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, visitou uma tenda de Ceilândia. Na ocasião, disse que não é possível estipular até quando o pico de doenças vai se estender no país e em sua capital.
"Temos vivido fenômenos atípicos de aumento de temperatura, regime de chuva" afirmou.
Poucas horas depois da visita, cerca de 50 pessoas aguardavam na triagem da estrutura de atendimento em Ceilândia. A fila funcionava como uma verdadeira dança das cadeiras de pacientes com os olhos cansados e abatidos.
Derek Juan Martins, de 12 anos, chegou no local em uma cadeira de rodas. Após passar pela triagem, foi acomodado em uma maca onde recebeu soro. A mãe conta que ele não consegue andar devido a dores nas pernas.
"Ele está com sintomas desde sábado e tivemos que trazer ele de cadeiras de rodas" conta a técnica de enfermagem Cheila Martins de Oliveira, de 32 anos.
Procurada, a Secretaria de Saúde do DF afirmou que “desde o início de outubro de 2023 a pasta vem intensificando suas ações no combate à dengue, uma vez que o período sazonal da doença no DF é de outubro de um ano até abril do ano seguinte.”
Estados em alta
Levantamento do Globo baseado nos dados da Saúde mostram que o local que apresenta o maior aumento de dengue em janeiro de 2024 (na comparação com o mesmo mês de 2023) é o Rio Grande do Sul, onde os casos cresceram 2.825%.
Na sequência, estão Santa Catarina (1.668%), e Paraná (1.302%). Completam a lista das dez maiores alta Rio de Janeiro (1.130%); Distrito Federal (1.032%); Amapá, (493%); Roraima (488%); Minas Gerais (390%); Amazonas (366%) e Acre (355%). Confira o ranking completo.