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RIO DE JANEIRO

Criança tem início de tratamento contra câncer raro adiado por falta de catéter no Inca

Instituto Nacional de Câncer diz que vai realizar terceira tentativa de comprar o equipamento no início de julho

Eloah Coelho FerreiraEloah Coelho Ferreira - Foto: arquivo da família

Em maio, a pequena Eloah Coelho Ferreira, de 4 anos, foi diagnosticada com retinoblastoma, um tipo raro de câncer, no olho direito. Após a descoberta da doença, a família deu início a uma corrida em busca da cura e dos procedimentos necessários para salvar a visão da menina. O caminho natural foi procurar o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Tudo parecia ir bem, com a primeira sessão de quimioterapia marcada para o dia 7 de junho. Após viajar quase 350 quilômetros — de Porciúncula, no Noroeste do Rio de Janeiro, onde vivem, ao Rio — os familiares de Eloah foram surpreendidos com a notícia de que o procedimento não poderia ser realizado. O motivo: falta de um catéter de quimioterapia arterial.

— Protocolamos pedido de informação na ouvidoria desde o dia 6 de junho, mas não tivemos qualquer resposta até agora. A gente fica sem saber de nada, sem chão. Para todo setor que a gente liga é sempre a mesma resposta, parece que eles foram instruídos a falarem a mesma coisa, que estão resolvendo, que tem que aguardar. É isso que me deixa mais em pânico — disse Ana Carolina Vicente Coelho da Silva, mãe de Eloah.

Procurado pelo Globo, o Inca informou, por meio de nota, que uma licitação para compra de 25 catéteres de quimioterapia arterial está marcada para os primeiros dias de julho. Segundo o instituto, essa é a “a terceira tentativa de compra, em 2023, do material de alto custo e que é usado para tratamento em crianças acometidas pelo retinoblastoma”.

A primeira tentativa de compra do catéter ocorreu em fevereiro e não foi concluída por motivos burocráticos não especificados. Na segunda tentativa, em abril, não apareceram empresas interessadas em fornecer o material. A direção do instituto informou ainda que o último procedimento usando o material ainda disponível foi realizado em maio, em paciente pediátrico.

A incerteza sobre quando será possível iniciar o tratamento de Eloah levou a família a propor ao hospital comprar e doar o equipamento, que é importado.

— Eu já não sei mais o que fazer, estamos tentando manter a calma, mas é muito difícil. A gente consegue o dinheiro pro cateter, entendo que pra eles comprar é mais burocrático. Só não é possível que a burocracia vai ficar acima de uma vida —diz Ana Carolina.

De acordo com o Inca, a “direção geral do Instituto não descarta a aquisição particular de materiais - ainda que não seja a prática do INCA - diante da situação crítica e por princípios humanitários”. O instituto, no entanto, não especificou se autorizará a tentativa de compra e doação do equipamento por parte da família de Eloah.

O retinoblastoma de Eloah foi descoberto após seus pais notarem certo grau de estrabismo na menina.

— Notamos o estrabismo e passamos a observar muito o olho dela. Uns três dias depois eu vi o reflexo de “olho de gato” nela e procurei imediatamente um oftalmologista — conta Ana Carolina.

No site do Inca, a página sobre retinoblastoma informa que “a principal manifestação é um reflexo brilhante no olho doente, parecido com o brilho que apresentam os olhos de um gato quando iluminados à noite. As crianças podem ainda ficar estrábicas (vesgas), ter dor e inchaço nos olhos ou perder a visão”.

Ainda de acordo com o site do instituto, o retinoblastoma ocorre principalmente em crianças pequenas, com 95% dos casos sendo diagnosticados antes dos cinco anos de idade.

Em 2021, os apresentadores e jornalistas Tiago Leifert e Daiana Garbin receberam o diagnóstico do retinoblastoma da filha, Lua, então com 11 meses. No caso dela, a doença atingiu os dois olhos. Para chamar a atenção para o problema o casal criou um projeto chamado “De Olho nos Olhinhos", que teve dia de mobilização em 17 de setembro do ano passado.

— Esse desejo surgiu porque no caso da Lua descobrimos quase tarde demais. Os médicos dividem a retinoblastoma em graus de A ao E, sendo A o menor e o E, maior e pior localizado. A Lua tinha o câncer nos dois olhos e no estágio E. Se uma família chegar no hospital por conta do que falamos publicamente, por conta de nosso projeto, em um estágio menor do que o da Lua, já valeu para mim. Esse evento é uma declaração de guerra, não queremos que essa doença faça mais nenhuma família chorar — disse Tiago Leifert, em entrevista ao Globo na época.

De acordo com Ana Carolina, a angústia da família em inciar logo o tratamento é ainda maior pelo fato de Eloah ter sido diagnosticada com o grau D da doença.

— É uma corrida contra o tempo, não podemos esperar. Temos esperança de que ela seja curada e tenha sua visão preservada, mas cada dia que passa podemos estar perdendo essa chance — lamenta a mãe.

Leia abaixo a íntegra da nota do INCA

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) esclarece que a nova licitação para a aquisição de 25 cateteres de quimioterapia arterial está marcada para os primeiros dias de julho. Essa é a terceira tentativa de compra, em 2023, do material de alto custo e que é usado para tratamento em crianças acometidas pelo retinoblastoma.

A primeira tentativa, neste ano, se deu em fevereiro, quando licitação não foi possível de ser realizada por problema burocrático que independeram do INCA. Em abril, o Instituto realizou uma segunda tentativa em caráter regular, quando não apareceram concorrentes.

O INCA reforça que busca retomar o mais rápido possível os estoques do catéter, que foi utilizado pela última vez durante uma aplicação em um paciente pediátrico em maio.

A direção geral do Instituto não descarta a aquisição particular de materiais - ainda que não seja a prática do INCA - diante da situação crítica e por princípios humanitários. O INCA estuda todas as possibilidades dentro dos preceitos legais para realizar o mais rápido possível o tratamento dos pacientes.

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