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Crianças aprendem mesmo quando não prestam atenção, diz estudo

Trabalho revelou que o cérebro das crianças pode armazenar informações de uma forma que o dos adultos não consegue

Crianças podem armazenar informações de uma forma que os cérebros dos adultos não conseguemCrianças podem armazenar informações de uma forma que os cérebros dos adultos não conseguem - Foto: Freepik

A aparente incapacidade das crianças de prestar atenção lhes permite superar os adultos quando se trata de reter informações que foram instruídas a ignorar. A conclusão é de um estudo realizado pela Universidade de Toronto, no Canadá, publicado recentemente na revista científica The Journal of Neuroscience.

“O que descobrimos é que os cérebros das crianças podem armazenar informações de uma forma que os cérebros dos adultos não conseguem”, diz Yaelan Jung, que trabalhou no estudo como estudante de pós-graduação na Universidade de Toronto e atualmente é pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Emory, em comunicado.

De acordo com a equipe, a descoberta preenche uma lacuna de conhecimento e mostra que a falta de atenção das crianças as leva a reter mais informações do mundo do que os adultos.

"O que descobrimos neste estudo fornece uma nova maneira de pensar sobre o que significa o desenvolvimento do cérebro. Muitas vezes, assumimos que, à medida que o cérebro se desenvolve, ele fará mais e fará as coisas melhor. Assim, muitas vezes pensamos que os adultos são melhores e mais inteligentes do que as crianças. No entanto, nosso trabalho mostra que nem sempre é esse o caso. Em vez disso, os cérebros das crianças podem apenas fazem as coisas de maneira diferente dos adultos - e, consequentemente, às vezes podem fazer mais do que os adultos, avalia a autora.

O estudo envolveu 24 adultos com idade média de 23 anos e 26 crianças com idade média de 8 anos. A equipe pediu aos participantes que observassem uma série de quatro ilustrações estáticas: uma abelha, um carro, uma cadeira e uma árvore. Cada imagem era acompanhada por um fundo de pontos cinza movendo-se em uma das quatro direções: para cima, para baixo, para a esquerda e para a direita.

Em uma fase do estudo, os participantes foram instruídos a ignorar os pontos em movimento e apertar um botão quando um objeto – digamos, uma abelha – aparecia mais de uma vez. Em outra fase, eles foram solicitados a ignorar os objetos e apertar um botão quando o movimento dos pontos fosse repetido.

Essas tarefas foram realizadas sob monitoramento de ressonância magnética que mediu a atividade cerebral dos participantes, revelando como a atenção molda o que é representado nos cérebros dos participantes.

Os resultados mostraram que, como esperado, os adultos fazem um ótimo trabalho ao focar sua atenção em uma tarefa atribuída e não prestam atenção às informações que devem ignorar. As crianças, por outro lado, absorvem as informações secundárias que são instruídas a ignorar quando recebem a mesma tarefa.

"O estudo sugere que essa abordagem de ser mais sensível ao ambiente mais amplo, ao custo de prestar atenção a coisas específicas, é melhor para a compreensão de sistemas complexos. Pode ajudar a formar um nível mais alto de compreensão de nosso ambiente completo", explica Amy Finn, professora associada do departamento de psicologia da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Toronto e uma das autoras do estudo.

Segundo os autores, a descoberta ajudaria a explica porque a infância dos humanos é tão longa, em comparação com outras espécies.

"Dependendo da sua definição de infância, os humanos são crianças por oito ou nove anos. Em comparação com outras espécies, isso é muito tempo e uma explicação para uma infância tão longa é que nós, humanos, temos muito a aprender. Outra é que é importante para o nosso QI absorver tanta informação quanto nós. Outra ainda é que precisamos absorver todas essas informações quando crianças para conectar nossos cérebros adequadamente, para desenvolver os circuitos e caminhos para o processamento de informações", especula Finn.

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