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guerra no oriente médio

Crianças estão morrendo de fome no norte de Gaza, diz OMS após visitar região

Segundo o diretor da agência, ao menos dez morreram em um hospital pediátrico na região; ONU alerta que uma em cada seis crianças com menos de 2 anos sofrem de subnutrição aguda grave

Palestinos se reúnem para coletar alimentos humanitários em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza,Palestinos se reúnem para coletar alimentos humanitários em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, - Foto: AFP

Ao menos dez menores de idade morreram de fome em um hospital no norte da Faixa de Gaza, informou o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, na segunda-feira (4). O registro é mais um entre outras "constatações sombrias" feitas pela equipe da agência das Nações Unidas durante uma visita no último fim de semana aos hospitais al-Awda e Kamal Adwan, no norte do enclave, a primeira desde outubro de 2023, quando eclodiu a guerra entre Israel e Hamas.

"Níveis graves de desnutrição, menores morrendo de fome, grave escassez de combustível, alimentos e suprimentos médicos, edifícios hospitalares destruídos", escreveu Ghebreyesus em uma publicação no X (antigo Twitter).

As dez mortes dos menores por inanição foram registradas durante a visita ao Hospital pediátrico Kamal Adwan, o único do segmento no norte de Gaza. Esse número, divulgado no domingo pelo Ministério da Saúde de Gaza e citado pela BBC, sobe para 16 quando se analisa todo o enclave: 15 por desnutrição e desidratação no norte, enquanto mais uma criança teria morrido no domingo, em uma hospital na cidade de Rafah, no sul, informou a agência de notícias Wafa na segunda.

As mortes são o ápice de um cenário cujo agravamento tem sido denunciado pela agência desde o início da guerra. Segundo relatório da Global Nutrition Cluster, divulgada pela OMS no último dia 19, dados recolhidos em janeiro mostram que uma em cada seis crianças com menos de 2 anos de idade em abrigos e centros de saúde no norte enclave sofrem de subnutrição aguda grave. Desse total, 3% sofre de emaciação grave, uma forma de desnutrição mais severa e com maior risco de vida.

No sul, mais novo alvo dos bombardeios e incursões israelenses, o quadro também preocupa. Em Rafah, cidade que recebeu mais da metade dos 2,3 milhões de palestinos deslocados pela guerra e que deve ser o próximo alvo da incursão das Forças Armadas de Israel, 5% das crianças com menos de 2 anos também sofrem de subnutrição aguda.

"As mortes infantis que temíamos estão aqui, enquanto a desnutrição assola a Faixa de Gaza. Estas mortes trágicas e horríveis são causadas pelo homem, previsíveis e totalmente evitáveis", afirmou o diretor regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Adele Khodor, em um comunicado no domingo, citado pela BBC.

Dados do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) mostram que pelo menos 500 mil pessoas já vivem em situação de fome ou catástrofe humanitária em Gaza, e quase toda a população de 2,4 milhões de pessoas enfrenta escassez aguda de alimentos. A organização aponta que 95% das gestantes e lactantes enfrentam pobreza alimentar grave. Além disso, mais de 95% das famílias de Gaza afirmam ter restringido a quantidade de alimentos que comem para garantir que as crianças pequenas tivessem o que comer.

"Constatações sombria"
Outras "constatações sombrias" também foram feitas pelos agentes da agência durante a visita aos hospitais no norte de Gaza. Segundo a publicação do diretor da OMS, o hospital Kamal Adwan está "lotado de pacientes" e que, além da falta de alimentos, a falta de eletricidade também representa "uma séria ameaça ao atendimento de pacientes", principalmente para os departamentos de cuidados intensivos e a unidade neonatal. Já no no Hospital al-Awda a situação é "particularmente terrível", uma vez que, segundo Ghebreyesus, um dos edifícios está destruído.

Segundo relatório da organização publicado no dia 19 de fevereiro, 12 dos 36 hospitais ainda funcionavam, mas "apenas parcialmente". Ainda de acordo com a OMS, mais de 370 ataques foram perpetrados contra unidades de saúde desde 7 de outubro, quando eclodiu o conflito.

No dia 7 de outubro, Israel foi vítima de um ataque terrorista do Hamas, que vitimou 1,2 mil pessoas e fez mais de 240 reféns, segundo autoridades israelenses. Desde então, o Estado judeu prometeu aniquilar o grupo, realizando intensos bombardeios em Gaza, controlada pelo grupo desde 2007, e incursões terrestres. Mais de 30 mil palestinos morreram desde então, em sua maioria mulheres e menores de idade.

O conflito provocou o deslocamento de milhares de moradores do norte, e posteriormente do sul, à medida que as forças israelenses avançavam, com muitos buscando abrigo em cidades no sul e em hospitais e prédios de organizações humanitárias, como escolas. Além disso, o enclave padece sob um "cerco total" implementado por Israel, aprofundando a crise humanitária na região.

Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), quase 2,3 mil caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza em fevereiro, com uma média de 82 veículos por dia. O número é 50% menor que em janeiro — antes do conflito atual, quando as necessidades da população eram menos urgentes, cerca de 500 caminhões entravam no enclave todos os dias.

A entrada de ajuda humanitária é quase impossíevel no norte devido a saques e combates. A ONU alerta para um risco de “fome [ou catástrofe humanitária] quase inevitável” na região. Na semana passada, ao menos 112 pessoas morreram e 760 ficaram feridas após o Exército de Israel supostamente ter disparado contra civis, que, por sua vez, teriam iniciado um empurra-empurra, seguido de pisoteamento e atropelamento. O Estado judeu investiga a possibilidade de ter havido desvio de conduta de algum soldado.

A crise humanitária em Gaza também é agravada pelas tensões entre a UNRWA e Israel, que deseja o desmantelamento do organismo. Israel acusa a agência de empregar "mais de 450 terroristas" do Hamas e outras organizações de Gaza. Também afirma que 12 funcionários da UNRWA participaram do ataque de 7 de outubro. O diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini, declarou na segunda-feira à Assembleia Geral da ONU que desmantelar a agência sacrificaria "toda uma geração de crianças" em Gaza.

Paz como "principal remédio"
Segundo Ghebreyesu, as visitas foram as primeiras desde outubro. Ele sublinha, contudo, que a lacuna entre elas ocorreu "apesar dos nossos esforços para obter um acesso mais regular ao norte de Gaza". Durante a missão, a agência entregou 9,5 mil litros de combustível para cada hospital, juntamente com alguns suprimentos médicos essenciais, disse o diretor, afirmando ser "uma fração das necessidades urgentes para salvar vidas".

Ghebreyesu reiterou um apelo a Israel para "garantir que a ajuda humanitária possa ser entregue com segurança e regularmente".

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"Os civis, especialmente as crianças, e a equipe de saúde precisam de ajuda ampliada imediatamente", disse ele, enfatizando, porém, que "o principal remédio de que todos esses pacientes precisam é a paz. Cessar-fogo". (Com AFP)

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