Cristianópolis, a cidade natal de Marília Mendonça guarda histórias desconhecidas sobre cantora
Vizinhos e amigos lembram os primeiros passos da jovem artista que se apresentaria pela primeira vez no município em festa de rodeio
A 90 quilômetros de Goiânia, no único hospital de Cristianópolis, nasceu Marília Mendonça, ícone da música brasileira, morta em acidente aéreo na última sexta-feira (5). Vinte seis anos após o parto que trouxe a artista à vida, a prefeitura da cidade quer homenagear na unidade sua cidadã mais ilustre. O hoje Hospital Municipal de Cristianópolis deverá se chamar em breve Hospital Municipal Marília Mendonça.
"Ele não tem nome, sempre (é chamado só) assim, 'hospital municipal'. É da minha vontade fazer essa homenagem a ela"explica a prefeita Juliana Costa (DEM), que esteve no velório da cantora, em Goiânia, no sábado.
A prefeita espera que a homenagem seja concretizada ainda este ano. Juliana vai tratar da medida com os vereadores da base (seis dos nove da cidade) e espera aprovar a proposta sem dificuldades.
A mãe da cantora, Ruth Moreira, será convidada para a cerimônia que deverá dar o nome ao hospital. Também será reinaugurado o centro cirúrgico do local, que passou por reformas. Nas salas do hoje desativado centro cirúrgico, Marília veio à luz na noite do dia 22 de julho de 1995.
Uma das primeiras mãos a recebê-la foi Cláudia Borges, técnica de enfermagem de plantão na ocasião.
"Todo mundo aqui tem o maior respeito por ela. Para nós é um fenômeno. Ontem foi um dia complicado" afirma Cláudia, em relação ao sábado em que a artista foi enterrada, contando como descobriu ter sido umas das pessoas que presenciou o nascimento: "No início da carreira, ela disse em um programa de TV que tinha nascido aqui. Fomos procurar nos livros de registro do hospital e encontramos. Foi uma festa. Espalhamos para a cidade inteira" lembrou.
Marília só nasceu em Cristianópolis porque o médico de plantão era amigo de seus pais, mas o sucesso fez com os moradores quisessem conhecê-la. Pelas ruas da cidade quase deserta na manhã de ontem, a voz de Marília cantando nas caixas de som de algumas casas rompia o silêncio.
A artista não chegou a se apresentar na cidade. A prefeitura tinha a intenção de convidá-la para uma tradicional festa de rodeio, interrompida pela pandemia mas que deve ser retomada no ano que vem. Segundo a prefeita, o agronegócio é a atividade principal do município.
Perto do futuro Hospital Marília Mendonça, em uma casa repleta de plantas, a jardineira Aparecida Alves, conhecida como Cida, que deu de mamar a Marília na maternidade, lamentou a morte da “filha postiça”, não apenas pela perda, mas por nunca ter tido a oportunidade de conhecê-la na vida adulta. No dia do nascimento, Ruth estava debilitada após o parto e não conseguira amamentar a filha. Cláudia Borges e outras enfermeiras recorreram a Cida, que no mesmo dia teve sua filha.
"Sempre fiquei perguntando onde estava aquele bebê. Descobri quando ela já era famosa. Ela era um bebê tão lindo, de olhos tão espertos. Acho que ela nunca deixou de ser a criança que nasceu naquele dia" contou Cida.
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Com 5 mil habitantes, Cristianópolis não teve ontem demonstrações públicas de pesar, como faixas em homenagem Mas a morte da cantora deixou a cidade “tensa”, como definiu Matheus Breno, atendente de 20 anos de um restaurante na entrada da cidade, onde um aparelho de TV transmitia um show de Marília.
"Foi impactante receber a notícia da morte dela. Fiquei em choque, comecei a chorar. Ontem meu coração estava apertado. A ficha não caiu ainda" diz o fã da cantora.
Retirada do avião
O avião bimotor em que Marília viajava começou a ser retirado do local onde caiu na manhã de domingo (7), na zona rural de Caratinga, no Oeste de Minas Gerais. Representantes do sexto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa 6) coletaram documentos na sede da PEC táxi aéreo sobre manutenção do avião, registros operacionais dos tripulantes e amostra de combustível do caminhão reabastecedor.
Segundo o planejamento do voo, havia indicações, na rota, de obstáculos “de conhecimento obrigatório para os pilotos” que operam no aeródromo de Caratinga. Mas os cabos de alta tensão não constam entre os obstáculos do aviso.
“Pelo fato de a linha de transmissão naquele trecho em que ocorreu o acidente estar além dos limites do Plano Básico de Proteção do Aeródromo, esses cabos não fizeram parte de análise”, informou o Cenipa.
Com o enterro do piloto Geraldo Martins de Medeiros Júnior, de 56 anos, e do copiloto Tarciso Pessoa Viana, de 37 anos, ontem, no Distrito Federal, terminaram de ser sepultadas todas as vítimas.