Cristina Kirchner chama tribunal de 'pelotão de fuzilamento' e espera veredicto
Kirchner, é acusada de conceder de forma fraudulenta contratos de obras públicas durante seus dois mandatos, entre 2007 e 2015
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, acusou, nesta terça-feira (29), o tribunal que a julga por suspeita de corrupção de ser "um verdadeiro pelotão de fuzilamento", ao dizer suas palavras finais no julgamento, o último passo antes do veredicto, esperado no prazo de uma semana.
"Mais do que um tribunal do 'lawfare', este tribunal foi um verdadeiro pelotão de fuzilamento que começou com a incrível diatribe dos promotores Diego Luciani e Sergio Mola, que se dedicaram a me afrontar e me ofender", afirmou.
Kirchner, de 69 anos, é acusada de conceder de forma fraudulenta contratos de obras públicas durante seus dois mandatos consecutivos na Presidência (de 2007 a 2015). O Ministério Público pediu 12 anos de prisão para ela, além de sua inabilitação política permanente.
Nos 20 minutos de sua intervenção, Kirchner se dirigiu virtualmente de seu gabinete no Senado ao tribunal que a julga desde maio de 2019, dias depois de anunciar sua candidatura à vice-presidência nas eleições vencidas naquele ano.
Uma dezena de manifestantes cobriu as grades do tribunal com cartazes pedindo prisão para a ex-presidente, enquanto seus simpatizantes lhe expressaram apoio na entrada do Senado.
Em seu discurso, a vice-presidente acusou os promotores de terem "inventado e deturpado" os fatos e garantiu que "ficou provado que eram falsos, que nem sequer existiram".
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"Difamaram, mentiram, insultaram a mim e ao nosso governo", insistiu, avaliando que o julgamento tem "um objetivo disciplinador da classe política", especialmente contra o seu "espaço político", ou seja, o peronismo de centro esquerda.
O presidente Alberto Fernández a apoiou pouco depois. “Compartilho dos argumentos da vice-presidente na chamada 'Causa Vialidad' (...) Quando a política entra nos tribunais, a justiça sai pela janela”, tuitou.
Veredicto
Neste julgamento de primeira instância, o tribunal marcou para 6 de dezembro a audiência na qual será anunciado o veredicto.
"Seja qual for a decisão, para mim ela é inocente. Estarei apoiando minha candidata. Não vamos permitir que a coloquem na prisão", disse à AFP Graciela Nadal, uma funcionária administrativa que compareceu ao Senado para manifestar seu apoio a Cristina Kirchner.
No julgamento, no qual há outros 12 réus, Cristina é acusada de favorecimento ao empresário Lázaro Báez, considerado próximo de sua família, na concessão de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, no sul do país.
"Estamos aqui apoiando os promotores independentes e corajosos", declarou à AFP Carmen Terrero, de 65 anos, uma das manifestantes de oposição ao kirchnerismo que compareceu ao tribunal.
"Faz muito tempo que estamos esperando uma condenação daqueles que roubaram nosso futuro", acrescentou.
Principal figura da política na Argentina, tão amada por seus seguidores como odiada pelos opositores, Cristina conta com foro privilegiado como vice-presidente e presidente do Senado até que haja uma sentença final na Suprema Corte.
Entre os 12 acusados restantes estão Julio de Vido, ex-ministro do Planejamento; José López, ex-secretário de Obras Públicas; e o próprio empresário Lázaro Báez. No processo, o tribunal ouviu 114 testemunhas em 117 audiências.
Após as declarações de Kirchner, a hashtag #TodosConElla virou 'trending topic' na Argentina, em segundo lugar entre os temas mais importantes no país, com mais de 20.000 menções, e #TodosConCristina, em sétimo, com 3.600 tuítes, enquanto a #CFKLadronaDeLaNaciónArgentina, em nono, tinha quase 2.600 menções.
Ataque
Em sua intervenção, Kirchner também criticou o tribunal que investiga o atentado fracassado que ela sofreu em 1º de setembro.
"Quando se é vítima, a figura da associação ilícita não existe. [Mas] sim quando se trata de um governo eleito democraticamente em três oportunidades", ironizou, ao fazer referência à figura jurídica da qual está sendo acusada.
O pedido de condenação feito pelos promotores Luciani e Mola em agosto provocou uma série de manifestações de apoio à vice-presidente, com vigílias de centenas de seus seguidores em frente à sua residência em Buenos Aires.
Em meio a essas manifestações, no dia 1º de setembro, um homem infiltrado entre os simpatizantes se aproximou da vice-presidente, apontou uma pistola contra sua cabeça e acionou o gatilho duas vezes, mas a arma não disparou.
Três pessoas foram detidas por esse caso, acusadas de tentativa de homicídio: o atirador, sua namorada e o suposto líder da gangue. Cristina insiste em que também é preciso investigar as relações dessas pessoas com políticos.