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Argentina

Cristina Kirchner denuncia pedido de prisão como perseguição política

Ex-presidente argentina é acusada de corrupção em caso de licitação de obras públicas

Cristina Kirchner, senadora e ex-presidente argentinaCristina Kirchner, senadora e ex-presidente argentina - Foto: Daniel Vides / Noticias Argentinas / AFP

A vice-presidente argentina Cristina Kirchner, acusada de corrupção, qualificou, nesta terça-feira (23), o pedido de 12 anos de prisão feito contra ela como uma perseguição judicial para afastá-la da política.

"Nada, absolutamente nada do que disseram (os promotores) foi provado", disse Kirchner em um discurso de mais de duas horas transmitido pelas rede sociais de seu gabinete no Senado.

Acusada junto a outras doze pessoas pelos crimes de associação criminosa e improbidade administrativa, o Ministério Público solicitou também na segunda-feira, em sua última audiência de acusações, a inabilitação política vitalícia da vice-presidente.

Durante o discurso, centenas de apoiadores se reuniram em frente à sua casa em Buenos Aires e depois, em frente ao Congresso.

"Não é um julgamento contra mim, é um julgamento contra o peronismo, os governos nacionais e populares", afirmou a advogada de 69 anos, que foi presidente da Argentina entre 2007 e 2015.

A vice-presidente, que tem foro especial por prerrogativa de função, solicitou nesta terça-feira uma ampliação de sua declaração preliminar, mas o pedido foi negado pelo tribunal que considerou que essa fase já está concluída e que a vice-presidente poderá expor seus argumentos nas alegações da defesa, a partir de 5 de setembro.

"São 12 anos [de pedido de prisão], os 12 anos do melhor governo que a Argentina teve nas últimas décadas, por isso pedem 12 anos. Por isso, vão me estigmatizar e condenar. Se eu nascesse 20 vezes, faria o mesmo 20 vezes", afirmou.

"Querem vingança, disciplinar a classe política para que ninguém se atreva a fazer o mesmo de novo", afirmou Kirchner.

Acusação

A declaração d Kirchner foi criticada por diversos dirigentes da oposição de centro-direita, entre eles Patricia Bullrich, presidente do partido Pro, do ex-governante Mauricio Macri (2015-19).

"Ao invés de se defender das acusações, fala de outra coisa totalmente distinta. Típica manobra de dilação. O Tribunal será quem decidirá se o que o promotor disse é suficiente ou não. A vice-presidente tem que esperar, e depois terá a possibilidade de ir ao Tribunal de Cassação", disse Bullrich aos jornalistas.

A acusação contra Kirchner remonta a seus dois mandatos como presidente (2007-15) e o anterior (2003-2007), de seu marido Néstor Kirchner, que morreu em 2010.

Os autos a descrevem como líder de uma associação criminosa, com a qual supostamente orientou a atribuição de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz (sul), seu reduto político, para favorecer o empresário Lázaro Báez.

O Ministério Público estimou em um bilhão de dólares a quantia que teria sido desviada pelo Estado. 

O processo judicial começou em 2019 e estima-se que a decisão dos juízes seja conhecida até final do ano. Em caso de condenação, Kirchner pode recorrer. Enquanto não houver uma sentença da Suprema Corte e devido à sua imunidade política como vice-presidente e presidente do Senado, ela não será presa, nem ficará inabilitada.

Kirchner foi afastada em várias ocasiões por supostos delitos enquanto presidente e ainda responde a cinco processos.


Solidariedade

A ex-presidente recebeu o apoio nesta terça-feira do ministro da Justiça, Martín Soria, que sustentou que "Cristina foi impedida de se defender quando o código processual é muito claro: a qualquer momento o acusado pode fazer uso da palavra para se defender".

Soria acredita que "a falta de imparcialidade deste tribunal e desses promotores" foi exposta, em declarações à rádio.

Kirchner também recebeu a solidariedade de alguns líderes de esquerda sul-americana.

"Manifesto minha mais incondicional solidariedade à vice-presidenta da Argentina e presidenta do Senado deste país irmão", escreveu a ex-presidente Dilma Rousseff em sua conta no Twitter.

O ex-presidente boliviano Evo Morales, por sua vez, escreveu nessa mesma rede social que "a irmã Cristina Kirchner é vítima de um ataque inclemente de 'lawfare', a guerra política que usa a Justiça como arma para inabilitá-la".

"Repudiamos a atuação de promotores que imitam o juiz [Sergio] Moro" do Brasil, acrescentou.

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