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Rússia

Crítico da era soviética é sentenciado a 16 anos de prisão na Rússia por se opor à Guerra na Ucrânia

Alexander Skobov é condenado a 16 anos de prisão por postagem nas redes sociais e suposta ligação com grupo oposicionista

Skobov chegou a ser preso pela União Sovitética por protestar contra o regime Skobov chegou a ser preso pela União Sovitética por protestar contra o regime  - Foto: Reprodução/Redes Sociais

A Rússia condenou o dissidente da era soviética Alexander Skobov, de 67 anos, a 16 anos de prisão por suas opiniões contrárias à guerra contra a Ucrânia.

Ele recebeu a sentença na última sexta-feira, após um tribunal militar em São Petersburgo considerá-lo culpado por apoiar, em uma postagem nas redes sociais, o ataque da Ucrânia à Ponte da Crimeia em 2022 e por sua suposta participação no Fórum da Rússia Livre, um grupo oposicionista baseado no exterior.

Pacifista de orientação política à esquerda, como ele mesmo se afirma, Skobov foi um dos editores do jornal dissidente Perspektivy durante a era soviética, em Leningrado.

Ao longo dos anos, ele se opôs a diversas guerras travadas por Moscou, desde a invasão soviética do Afeganistão, em 1979, até os conflitos na Chechênia e, mais recentemente, à guerra iniciada por Vladimir Putin contra a Ucrânia em 2014.

Durante o regime soviético, segundo o The Guardian, Skobov foi repetidamente acusado de “agitação e propaganda anti-soviética”, chegando a ser internado à força em hospitais psiquiátricos que funcionavam como prisões. No total, passou seis anos nessas instituições.

Dada sua idade e estado de saúde debilitado, a sentença equivale a uma prisão perpétua.

Seu advogado informou que ele sofre de diabetes, hepatite C, asma brônquica e glaucoma. Antes de ser condenado, Skobov fez um discurso contundente contra a guerra na Ucrânia.

“Hoje, me perguntarão se me declaro culpado. Mas sou eu quem faz a acusação! Acuso este regime fétido e a camarilha de Putin de planejar, iniciar e travar uma guerra agressiva, cometer crimes de guerra na Ucrânia, promover terror político na Rússia e corromper moralmente meu povo.”

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Ele ainda confrontou os presentes no tribunal:

“E vocês, cúmplices do regime, admitem sua culpa pelos crimes de Putin?”

Enquanto o juiz lia a sentença, Skobov, de dentro de uma gaiola metálica e vigiado por agentes de segurança, gritou: “Glória à Ucrânia.”

Preso desde abril de 2024, o dissidente continuou politicamente ativo mesmo atrás das grades. Em junho, escreveu uma carta aberta aos jovens presos políticos russos, publicada pelo jornal Novaya Gazeta.

“Quero que os jovens que sofreram o impacto saibam: os últimos dissidentes soviéticos estão ao lado deles.”

A severidade da pena contra Skobov surpreendeu até mesmo em meio à já intensa repressão promovida pelo regime de Putin. Especialistas apontam que o caso ilustra como a Rússia ultrapassou o nível de perseguição visto no período pós-Stálin da União Soviética.

“A sentença draconiana contra Alexander Skobov é um símbolo da guerra contra a dissidência promovida pelas autoridades russas, em paralelo às violações cometidas na guerra da Ucrânia”, afirmou Tanya Lokshina, diretora associada da Human Rights Watch para Europa e Ásia Central, em entrevista ao The Guardian.

Tanya complementa que é especialmente marcante que Skobov tenha passado anos em uma prisão soviética "por exercer sua liberdade de opinião" – e que, mais de quatro décadas depois, "a história esteja se repetindo."

Segundo o portal independente Proekt, o governo Putin já superou os níveis de repressão dos governos soviéticos de Nikita Khruschov e Leonid Brezhnev, perseguindo ao menos 116 mil pessoas nos últimos seis anos.

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