Cuba nega 'repressão contra o povo' e critica sanções americanas
Governo nega que tenha havido "um ato de repressão contra o povo"
Cuba classificou de "caluniosas" as sanções anunciadas, na última quinta-feira (22), por Washington contra seu ministro da Defesa e negou que tenha havido na ilha "um ato de repressão contra o povo" durante os protestos do último dia 11.
Os Estados Unidos impuseram, na quinta-feira, sanções ao ministro cubano Álvaro López Miera e a uma unidade antimotins pela repressão às manifestações populares recentes na ilha. Mas o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, afirmou que não houve em Cuba "um ato de repressão contra o povo, como não houve nenhuma explosão social".
"As sanções são irrelevantes, porque me consta que esse ministro não possui contas em bancos americanos e nunca me disse que estava interessado em fazer turismo em Miami, mas são relevantes a partir da implicação política agressiva", declarou o chanceler em entrevista coletiva.
Milhares de cubanos saíram às ruas de mais de 40 cidades de Cuba em 11 e 12 de julho aos gritos de "Estamos com fome!", "Liberdade!" e "Abaixo a ditadura!", em meio à pior crise econômica do país em décadas e ao maior aumento de infecções e mortes por Covid-19 desde o início da pandemia.
As manifestações foram consideradas "pacíficas" pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, que, ao condenar "a repressão estatal e o uso da força", relatou pelo menos uma morte e 151 pessoas presas ou com paradeiro desconhecido. A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu a libertação urgente de todos os detidos.
O chanceler não quis informar o número de detidos durante as manifestações, mas afirmou que a maioria foi libertada e que não há nenhum menor de idade preso. Também assinalou que, em todos os casos, foi respeitado o devido processo, com a assistência de advogados.
"Foram divulgadas listas de desaparecidos, declaro aqui que elas são absolutamente falsas e nego que haja um caso sequer", enfatizou Rodríguez, ante as múltiplas denúncias publicadas nas redes sociais, de detidos e pessoas não localizadas. O presidente americano, Joe Biden, ou funcionários do seu governo "não têm absolutamente nenhuma autoridade moral para pedir que sejam libertadas pessoas presas em Cuba.
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Pouco antes, Rodríguez havia publicado no Twitter que os Estados Unidos "deveriam aplicar a si próprios a Lei Global Magnitsky, pelos atos de repressão cotidianos e brutalidade policial, que custaram 1.021 vidas em 2020". A Lei Magnitsky permite que os Estados Unidos sancionem estrangeiros suspeitos de violações graves dos direitos humanos ou corrupção em larga escala, e foi citada pelo Tesouro americano para justificar as sanções.
Além de López Miera, o Tesouro anunciou hoje que bloqueou os interesses e propriedades da Brigada Especial Nacional do Ministério do Interior de Cuba. Segundo a instituição, as sanções correspondem a supostos abusos dos direitos humanos ocorridos durante as manifestações recentes na ilha.
Sobre a preparação de uma flotilha de cubanos residentes nos Estados Unidos, que poderia chegar a águas cubanas a partir da Flórida, Rodríguez alertou Washington para agir "com seriedade, para evitar incidentes que não convêm a ninguém".