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Culto à "Santa Muerte" ganha homenagem nos EUA entre comunidades latinas

Países como México ou El Salvador, santa também é reverenciada por traficantes, que a transformaram em sua "narcosanta"

Procissão de Santa Muerte no bairro de QueensProcissão de Santa Muerte no bairro de Queens - Foto: Leonardo Munoz/AFP

Desde que esteve em uma grave operação no pâncreas, há 17 anos, Arely Vázquez prometeu à sua "flaquita", como chama carinhosamente a Santa Muerte, que todos os anos lhe daria uma festa de agradecimento.

"É uma fé, uma devoção" que "nos ajuda a sair de dificuldades difíceis", explica à AFP esta mexicana moradora de Nova York, diante do altar colorido que ergueu na sala de estar de sua casa, no Queens.

Altar para a imagem de Santa Muerte Altar para a imagem de Santa Muerte  (Foto: Leonardo Munoz/AFP)

Vázquez tornou-se a principal "madrinha", uma espécie de sacerdotisa, do culto da Santa Muerte nos Estados Unidos, levada ao país pela comunidade mexicana.

Dotado de uma força, que simboliza o trabalho, mas também de um globo ou de uma rosa, o esqueleto teria, segundo os seguidores do culto, poderes especiais, e é trajado com diferentes roupas que simbolizam essas virtudes.

Orações, oferendas e uma fé cega são o coquetel da devoção à Santa Muerte.

Cerimônia religiosa de Santa Muerte no bairro de QueensCerimônia religiosa de Santa Muerte no bairro de Queens (Foto: Leonardo Munoz/AFP)

No último fim de semana, assistimos de todo o país participaram de diversas atividades nas quais foram evocados os "milagres" concedidos aos fiéis. Muitos têm sua imagem tatuada, outros usam anéis e pingentes (ostensivos) com sua representação.

Não há normas ou regras no que Andrew Chesnut, professor de estudos religiosos da Universidade da Commonwealth de Virgínia, chama de "novo movimento religioso", que surgiu na Cidade do México em 2001.

Autor do livro "Devoted to Death: Santa Muerte, the Skeleton Saint" ('Devotos da Morte: Santa Muerte, o esqueleto sagrado', em tradução livre), Chesnut estima que os praticantes do culto seriam cerca de 12 milhões, a maioria residente no México, mas também nos Estados Unidos e na América Central.

"É o novo movimento religioso que mais cresce no planeta", diz ele à AFP.

"Satânico"
No México, onde o culto à morte faz parte de uma tradição popular que tem suas raízes na religião católica e nas crenças indígenas, para o que representa um renascimento, essas práticas não geraram surpresa. Mas até recentemente, foram realizadas na mais estrita privacidade.

Apesar de serem rotulados de "satânicos" pela Igreja Católica mexicana, seus convidados "abordam a santa popular da mesma forma que fazem com os santos católicos", diz Chesnut.

"Acredito que uma coisa que te faz bem (...) não pode ser ruim", defende Vázquez, que sonha em abrir a primeira capela dedicada à sua "santa" nos Estados Unidos.

Cada adepto tem uma figura da Santa Muerte em casa. Eles rezam para ela e eles fazem oferendas, como flores, álcool, tabaco e comida.

Para a especialista Cressida Stone, "a oração é vital, muito mais do que o tamanho ou a opulência do altar".

A Santa Muerte também pode ser vingativa com quem quebra promessas, a desrespeita ou a insulta, alerta Stone, autora do livro "Segredos de Santa Muerte" (Segredos de Santa Muerte, em tradução livre), à AFP.

Sem intermediários
Sem intermediários ou normas que regulam a prática, o contato é direto entre o devoto e o objeto de sua devoção. O culto é aberto a todos, sem distinção de raça, nacionalidade, orientação sexual ou situação econômica.

Em países como México ou El Salvador, ela também é reverenciada por traficantes, que a transformaram em sua "narcosanta".

"Aqui nós rezamos com fé", diz Alejandra Flores, 49 anos, devota desde 2012, quando conseguiu um emprego que até então, por ser transexual – assim como Vázquez – lhe era negado.

"Você pode ser usuário de drogas, policial, trans, o que for. Aqui ela recebe a todos nós", explica à AFP.

Mike Rosales, que é descendente de mais de 300 milhas do estado de Maryland para as festividades do Queens, consagrou um cômodo inteiro de sua casa à santa, da qual não se pode entrar ou sair sem passar pelo altar.

Fez isso "para proteção e para me sentir bem", diz este guatemalteco de 36 anos, que não economizou em suas ofertas ou na festa. "Se ela nos dá, por que não podemos dar a ela?", afirma.

No México, na América Central e nos Estados Unidos, onde há grandes desigualdades entre ricos e pobres, "a força niveladora de Santa Muerte é poderosamente atraente", resume Chesnut.

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