Cúpula africana prioriza diálogo com militares do Níger
Bloco formado por 15 países se reuniu nesta quinta-feira (10) pela segunda vez desde o golpe de Estado de 26 de julho no Níger
Os países da África Ocidental deram preferência, nesta quinta-feira (10), à diplomacia para resolver a crise no Níger, onde militares que tomaram o poder anunciaram a formação de um novo governo, sinalizando a intenção de se estabelecerem no comando do país.
"Priorizamos as negociações diplomáticas e o diálogo como base da nossa abordagem", afirmou o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, na cúpula de emergência da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao), realizada na capital do país, Abuja.
O bloco formado por 15 países se reuniu nesta quinta-feira (10) pela segunda vez desde o golpe de Estado de 26 de julho no Níger, um dos últimos aliados dos países ocidentais na região do Sahel, onde atuam numerosos grupos jihadistas.
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Em seu primeiro encontro após o golpe, os líderes da Cedeao lançaram um ultimato aos militares para restaurar o poder do presidente Mohamed Bazoum, sob pena do uso da força. O novo regime ignorou este prazo, que expirou no domingo (6).
"Lamentavelmente, o ultimato de sete dias que demos durante a primeira cúpula não teve o resultado desejado", reconheceu Tinubu.
"Devemos iniciar conversas sérias com todas as partes envolvidas, incluindo os líderes do golpe, para convencê-los a deixar o poder e a restabelecer [manter] o presidente Bazoum", eleito democraticamente, insistiu.
Em vez disso, os militares estão multiplicando os sinais de que pretendem consolidar seu poder. Na segunda-feira (7), nomearam um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zein, e anunciaram nesta quinta-feira a formação de um Executivo com 20 ministros, que inclui dois generais à frente das pastas do Interior e da Defesa.
Os autores do golpe no Níger não parecem dispostos a aceitar as tentativas de negociação da Cedeao, o que estimula os temores de uma intervenção militar no país de 25 milhões de habitantes.
Na terça-feira (8), uma delegação conjunta da Cedeao, da União Africana e da ONU tentou viajar a Niamey, mas os militares recusaram a visita e alegaram motivos de "segurança".
A única mensagem de abertura foi o encontro de quarta-feira entre o líder da junta militar do Níger, general Abdourahamane Tiani, e o ex-emir nigeriano Sanusi Lamido Sanusi, próximo ao presidente da Nigéria.
De modo paralelo aos esforços diplomáticos, os comandantes militares dos países da Cedeao se reuniram na semana passada em Abuja para definir como seria uma hipotética intervenção militar.
O Níger é o quarto país dentro do bloco regional a sofrer um golpe de Estado desde 2020, depois de Guiné, Mali e Burkina Faso.
Os dois últimos, ex-colônias francesas como o Níger, afirmaram que uma intervenção militar será considerada uma "declaração de guerra" contra eles.
Apoio ocidental
As potências, com França e Estados Unidos à frente, apoiam os esforços da Cedeao para restabelecer o mandato do presidente Bazoum.
Washington expressou preocupação com as condições de detenção do chefe de Estado derrubado, detido desde o golpe de Estado na residência presidencial.
A subsecretária de Estado americana, Victoria Nuland, viajou na segunda-feira a Niamey para uma reunião com os autores do golpe, mas não se encontrou com o general Tiani nem com o presidente Bazoum.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também expressou "preocupação com a saúde e segurança do presidente e sua família". Ele pediu a "libertação imediata e incondicional", assim como seu retorno ao poder.
A França, ex-potência colonial, mantém tropas mobilizadas na região para a luta antijihadista.
Desde o golpe, Paris suspendeu acordos de cooperação militar com Niamey. Os militares nigerinos já haviam anunciado o rompimento dos acordos, mas a França ignorou a afirmação, por considerar que a junta não tem legitimidade para tomar esta decisão.
Na quarta-feira, os militares do Níger fecharam o espaço aéreo do país, denunciando que um avião militar francês procedente do Chade violou esta disposição, e acusaram a ex-potência colonial de "libertar terroristas", o que o governo da França negou.