Cyril Ramaphosa é reeleito presidente da África do Sul após alcançar acordo de coalizão
Seu novo aliado, o líder de partido liberal de centro-direita DA, John Steenhuisen
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, foi reeleito nesta sexta-feira (14) para um segundo mandato pelo novo Parlamento, depois que seu partido, o Congreso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), alcançou um acordo de governo inédito com o opositor Aliança Democrática (DA).
Ramaphosa, de 71 anos, obteve 283 votos, muito à frente do outro candidato, Julius Malema, do partido de esquerda Economic Freedom Fighters (EFF), que recebeu 44.
"Eu me sinto humilde e honrado que vocês, como membros da Assembleia Nacional, tenham decidido me escolher para ser o presidente da República da África do Sul", disse Ramaphosa em seu discurso de aceitação.
"É um momento histórico na vida de nosso país, que necessita que trabalhemos e atuemos juntos", acrescentou o dirigente.
Seu novo aliado, o líder de partido liberal de centro-direita DA, John Steenhuisen, também falou de um "dia histórico" e disse que é "o começo de um novo capítulo de construção, de cooperação".
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O ANC - partido do emblemático líder da luta contra o apartheid Nelson Mandela e que governou com maioria absoluta desde 1994 - foi o mais votado nas eleições de 29 de maio, mas perdeu a maioria absoluta e teve que negociar uma coalizão.
A DA, que ficou em segundo lugar no pleito, havia anunciado à margem desta primeira sessão parlamentar que alcançou "um acordo sobre a declaração de intenção para a formação de um governo de unidade nacional".
O secretário-geral do ANC, Fikile Mbalula, afirmou nesta quinta-feira que o governo "gravitará para o centro", depois que os partidos de esquerda rechaçaram um pacto.
O ANC continua sendo majoritário no hemiciclo com 159 deputados de um total de 400 legisladores, parte do grupo de países emergentes do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Além do ANC e da DA, que conta com 87 cadeiras, a coalizão contará com o partido nacionalista zulu Inkhata (IFP, 17 assentos).
Sem a esquerda
John Steenhuisen considerou que este governo multipartidário era "a melhor oportunidade" para que o país "alcance a estabilidade e uma boa governança limpa", distante da corrupção que manchou o ANC nos últimos anos.
O líder da DA assinalou que ainda não foi decidida a distribuição de cargos ministeriais. "Estamos falando primeiro de valores e princípios, e depois de cargos", acrescentou.
A posse do chefe de Estado está prevista para a quarta-feira em Pretória. Nesta primeira sessão, os deputados tomaram posse com ternos e trajes coloridos. Thoko Didiza, uma política de origem zulu e ex-ministra da Agricultura, foi escolhida como presidente do Parlamento, enquanto a vice-presidência ficou com uma legisladora da DA, Annelie Lotriet.
O partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses pelo ex-líder do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, que ficou em terceiro, denunciou irregularidades no pleito e seus parlamentares boicotaram a sessão.
Os deputados do EFF, liderado pelo ex-militante do ANC Julius Malema e que ficou em quarto lugar, se apresentaram com roupas vermelhas, capacetes, botas e lenços palestinos.
Malema denunciou um "casamento de conveniência" entre o ANC e a DA, que a seus olhos representa o "capital monopolista branco", e prometeu formar "uma oposição efetiva" contra eles.
Ramaphosa, de 71 anos, prometeu uma nova era para a África do Sul, que é parte do grupo de países emergentes Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Seus detratores, no entanto, o acusam de realizar uma má gestão da economia, com o desemprego chegando a máximos históricos.