'Czar da fronteira' de Trump diz que reativará política que separou mais de 4 mil menores dos pais
Governo não hesitará em deportar pais que estão de maneira irregular nos EUA, mesmo que tenham filhos nascidos no país, mas caberá às famílias a decisão de saírem juntas ou de se separar
Tom Homan, o "czar da fronteira" escolhido por Donald Trump, quer reativar o sistema de detenção de famílias de imigrantes irregulares nos Estados Unidos assim que o novo governo começar, em janeiro. Linha dura, ele supervisionou a implementação da política de "tolerância zero" que separou mais de 4 mil crianças e adolescentes de seus pais durante o primeiro mandato do republicano.
De acordo Homan, o governo não hesitará em deportar os pais que estão no país de maneira irregular, mesmo que tenham filhos pequenos nascidos nos EUA, deixando para essas famílias a decisão de sair juntas ou se separar.
— A questão é a seguinte, você sabia que estava no país ilegalmente e decidiu ter um filho. Então você colocou sua família nessa situação — disse Homan em entrevista ao jornal Washington Post.
Essa política foi encerrada em 2021 pelo presidente democrata Joe Biden.
— Vamos precisar construir instalações para famílias — acrescentou. — Quantos leitos serão necessários dependerá do que os dados indicarem.
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Como diretor interino do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla original) durante o primeiro mandato de Trump, Homan conduziu a política de "tolerância zero" que separou mais de 4 mil crianças de seus pais logo após terem cruzado a fronteira com os EUA.
Segundo ele, a nova campanha de fiscalização de Trump buscará deportar as famílias juntas. Mas reconheceu que o governo não pode remover crianças que são cidadãos americanos, deixando para os pais a decisão de separar a família.
— Precisamos mostrar ao povo americano que podemos fazer isso sem sermos desumanos — afirmou Homan, que tem 34 anos de carreira na Patrulha de Fronteira dos EUA e no ICE. — Não podemos perder a confiança do povo americano.
Em novembro, Trump disse que estava se preparado para declarar estado de emergência nacional e usar recursos militares, incluindo a Guarda Nacional, como parte de seu plano para deportar migrantes em grande escala do país.
A Guarda Nacional é uma força militar sob o comando do governador de cada estado e pode ser convocada para a proteção do país em casos de conflito ou desastre. Em abril, Trump declarou que essa força “deveria ser capaz” de realizar as expulsões de migrantes em situação irregular. À revista Time, o presidente eleito disse que, se a Guarda Nacional não for capaz, ele usará “o Exército”, em referência às tropas federais do país.
Desde sua vitória contundente nas eleições presidenciais, em novembro, o republicano de 78 anos tem tomado medidas para implementar deportações em massa de migrantes, a quem já acusou de envenenar “o sangue” dos Estados Unidos, “infectar” o país e comer animais de estimação de cidadãos americanos. Ele também distorce os dados sobre o assunto ao classificar os migrantes como “assassinos” e, mais extremista, de “selvagens”. Durante a campanha pela reeleição, Trump prometeu iniciar as deportações em massa assim que assumir o cargo.
— No primeiro dia, lançarei o maior programa de deportação da História americana para tirar os criminosos do nosso país. Vou resgatar cada cidade e vila que foi invadida e conquistada, colocaremos esses criminosos brutais e sanguinários na cadeia e depois os expulsaremos do nosso país o mais rápido possível — disse ele durante um comício no Madison Square Garden nos últimos dias da campanha presidencial.
Ao Washington Post, Homan também disse que lançará uma campanha para localizar mais de 300 mil menores de idade que ele e outros aliados de Trump frequentemente descrevem como "desaparecidos". Na prática, a maioria são adolescentes e crianças, ou seus responsáveis, que simplesmente pararam de responder aos assistentes sociais do governo, dizem especialistas jurídicos.
Desde 2019, cerca de 450 mil menores desacompanhados foram transferidos para o Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR) do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, de acordo com um relatório de supervisão do Departamento de Segurança Interna publicado em agosto. Durante esse período, 32 mil não compareceram às audiências judiciais agendadas, e outros 291 mil não receberam uma notificação para comparecer pelo ICE.
O ORR é responsável por identificar um responsável — geralmente outro membro da família que já vive nos Estados Unidos — que possa assumir a custódia do menor e garantir o cumprimento das leis de imigração dos EUA.
Embaixada no Panamá
Na quarta-feira, Trump anunciou mais um nome para o seu novo governo: Kevin Merino Cabrera, nomeado como embaixador dos EUA no Panamá. O anúncio ocorreu depois de Trump sugerir, no fim de semana, que os EUA deveriam assumir o controle do Canal do Panamá, alegando que o país está "roubando" os navios americanos que passam pela hidrovia.
“Tenho o prazer de anunciar que Kevin Marino Cabrera será o embaixador dos Estados Unidos na República do Panamá, um país que está nos roubando no Canal do Panamá, muito além de seus sonhos mais loucos”, disse Trump em um comunicado.
O presidente eleito acrescentou que Cabrera, que também trabalhou para sua campanha presidencial na Flórida, “fará um trabalho FANTÁSTICO representando os interesses de nossa nação no Panamá!”
Recentemente, Trump também sugeriu que os EUA deveriam absorver o Canadá e a Groenlândia, um território controlado pela Dinarmarca, e que soldados chineses estariam operando o Canal do Panamá.
“Feliz Natal para todos, inclusive para os maravilhosos soldados da China, que estão amorosamente, mas ilegalmente, operando o Canal do Panamá (onde perdemos 38.000 pessoas em sua construção há 110 anos), sempre se certificando de que os Estados Unidos coloquem bilhões de dólares em dinheiro para 'reparos', mas não terão absolutamente nada a dizer sobre 'qualquer coisa'”, escreveu Trump em sua rede social Truth.