ITÁLIA

"Czarina" do clã, chefe de mídia, ex de Pato: quem são os herdeiros dos R$ 33 bilhões de Berlusconi

Ex-primeiro-ministro italiano morto aos 86 anos controlava 61,21% da Fininvest, parte que deve ser distribuída entre seus filhos quando o testamento for aberto

Marina e Pier Silvio Berlusconi devem ficar com a maior parte das ações do conglomerado Marina e Pier Silvio Berlusconi devem ficar com a maior parte das ações do conglomerado  - Foto: Divulgação

O império econômico de Silvio Berlusconi, abalado pela morte de seu fundador, nesta segunda-feira, enfrenta um período de incertezas, cheio de especulações sobre seu futuro e possíveis litígios entre seus herdeiros.

A sucessão do magnata, terceira fortuna da Itália com patrimônio líquido de US$ 6,8 bilhões de dólares (R$ 33 bilhões), segundo a Forbes, será complexa, segundo analistas — e deve ocorrer entre os cinco filhos de Berlusconi.

Na linha de frente está sua filha Marina, de 56 anos, presidente da Fininvest desde 2005 e da editora Mondadori desde 2003, chamada de "czarina" ou "cérebro financeiro" do clã Berlusconi. Considerada o alicerce dos negócios da família, Marina é filha do ex-premier italiano com a primeira mulher dele, Carla Elvira Lucia Dall'Oglio, e é casada com Maurizio Vanadia, vice-diretor da escola de dança da Accademia della Scala.

— Marina Berlusconi assumiu o lugar do pai, adquirindo progressivamente os espaços de liberdade e independência que lhe permitiram se tornar uma referência para o grupo — avalia Andrea Colli, professor de história empresarial da Universidade Bocconi de Milão, à AFP.
 

Apesar dos rumores de que sucederia o pai também na política, Marina sempre negou a possibilidade de se candidatar a algum cargo público. "Ela parece frágil, mas tem uma personalidade de ferro", gostava de dizer Silvio Berlusconi sobre a filha mais velha, uma das mulheres mais poderosas do mundo segundo a revista Forbes.

A transição do pai para a primogênita foi um sucesso para Giuseppe Di Taranto, professor emérito de história econômica na Universidade Luiss, em Roma.

— Não há risco de decadência do império de Berlusconi, que sairá, ao contrário, fortalecido, porque seus filhos têm se mostrado muito bons administradores — diz.

Di Taranto se refere a Marina e seu irmão Pier Silvio Berlusconi, de 54 anos, que assumiu as rédeas da Mediaset em 2015. Assim como a irmã primogênita, Pier Silvio é nascido do primeiro casamento de Silvio Berlusconi. Os dois filhos mais velhos do magnata possuem, cada um, 7,65% da Fininvest.

Pier Silvio é CEO da RTI, uma empresa italiana que realiza todas as atividades de televisão da Mediaset. É também membro do conselho de administração da MediaForEurope.

Os outros três filhos do magnata — Bárbara, Eleonora e Luigi — são fruto do segundo casamento com Veronica Lario e têm juntos 21,42%.

Bárbara nasceu na Suíça, há 38 anos. Em 2003, entrou para o conselho de administração da Fininvest. Sete anos depois, em 2011, passou à diretoria do Milan até que o pai decidiu vender o clube, em 2017. Bárbara se tornou conhecida dos brasileiros quando namorou o atacante Alexandre Pato, então jogador do clube rossonero, entre 2011 e 2013.

Já Eleonora, de 37 anos, se formou em Gestão de Empresas pela St. John University em Nova Iorque, em 2010. A quarta filha do magnata é a única distante dos negócios da família no momento, mas já trabalhou na Mediaset e também geriu a instituição de caridade Fondazione Milano Onlus.

O Berlusconi caçula, por sua vez, também nasceu na Suíça. Luigi, de 34 anos, se formou em Economia na Universidade Bocconi e se especializou no ramo das finanças. No momento, o empresário atua no setor imobiliário e no ramo das startups.

"Modus vivendi"
O magnata, que morreu aos 86 anos, controlava 61,21% da Fininvest, parte que deve ser distribuída entre seus herdeiros quando o testamento for aberto.

O conglomerado de Berlusconi também inclui a Mondadori, controlada por 53,3%, e o banco Mediolanum, do qual a Fininvest possui 30,1%. Além disso, há produtora de filmes Medusa, inúmeras mansões e iates de luxo e o clube de futebol Monza (que o magnata comprou em 2018, um ano após vender o Milan).

— Marina provavelmente se tornará a número um do grupo e terá a maioria (das ações) com Pier Silvio. Não acho que haverá brigas na família, que é muito próxima — estima Di Taranto.

Mas que papel terá Marta Fascina, 33 anos, companheira de Silvio Berlusconi desde 2020, ex-modelo e deputada de seu partido Forza Italia? Poderia semear a discórdia?

"Não", afirma Andrea Colli, porque depois de terem surgido tensões no início com os filhos, "encontraram um modus vivendi".

"Continuidade absoluta"
Os investidores se lançaram na terça-feira sobre as ações de seu grupo de televisão MediaForEurope (ex-Mediaset), cujo preço disparou na Bolsa de Valores de Milão desde o anúncio na segunda-feira da morte do magnata. O mercado prevê benefícios numa possível transferência do grupo.

A Fininvest, a "holding" da família Berlusconi com a qual controla inúmeras empresas, quis acabar com os rumores garantindo que suas "atividades continuarão na linha da continuidade absoluta em todos os aspectos". Segundo analistas, o octogenário patriarca parece ter deixado tudo bem resolvido.

— Seu império sobreviverá sem Silvio Berlusconi, pois ele conseguiu garantir uma transição entre as gerações planejada antes — disse Andrea Colli, professor de história empresarial da Universidade Bocconi de Milão, à AFP.

O ex-líder, que entrou na vida política italiana no início dos anos 1990, não intervinha "diretamente" na gestão de seu grupo há muito tempo, segundo Colli.

Em sua opinião, Berlusconi "aproveitou sua condição de empresário para ganhar poder" e depois "usou sua influência política para fins pessoais e, acima de tudo, para sustentar seu império".

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