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Coronavírus

Dados superestimados e novas linhagens podem ajudar a explicar situação de Manaus

É isso que aponta um artigo publicado, no fim de janeiro, na tradicional revista científica Lancet por pesquisadores brasileiros

Pacientes internados no Hospital Gilberto Novaes, em ManausPacientes internados no Hospital Gilberto Novaes, em Manaus - Foto: Michael Dantas/AFP

A intensa segunda onda de Covid-19 em Manaus, apesar de dados anteriores sugerirem uma já ampla contaminação na cidade, pode ser resultado de números superestimados da primeira onda, diminuição da imunidade adquirida pela população, novas linhagens do Sars-CoV-2 ou todas as possibilidades anteriores.

É isso que aponta um artigo publicado, no fim de janeiro, na tradicional revista científica Lancet por pesquisadores brasileiros que acompanham a pandemia no Amazonas.

No fim de 2020, um estudo de cientistas liderado por Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP, publicado na revista Science apontava que cerca de 76% da população de Manaus já tinha anticorpos contra a Covid-19. Sabino também é autora do recente artigo da Lancet.

Os dados da pesquisa publicada na Science se referem até outubro de 2020 e oriundos de amostras de doadores de sangue do Hemoam (Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas).

Com o impacto acentuado da primeira onda da pandemia em Manaus e com a elevada porcentagem de infecções observada na pesquisa, começou a se especular sobre uma possível imunidade de rebanho na capital do Amazonas.

A possibilidade foi rapidamente abandonada com o expressivo crescimento entre dezembro e janeiro das infecções e mortes na cidade.

O comentário, publicado na Lancet, afirma ser inesperado e preocupante o crescimento recente da pandemia em Manaus.

De início, a artigo afirma que o percentual de infectados inicialmente pode ter sido superestimado e, dessa forma, não ter sido alcançado os valores que poderiam corresponder a estimavas do que é necessário para se alcançar a imunidade de rebanho. Os autores dizem que isso pode ter ocorrido por vieses e que a reanálise do trabalho pode ajudar a aperfeiçoar os modelos usados, levando em conta, por exemplo, a representatividade de doadores de sangue.

A possibilidade de dados superestimados já tinha sido levantada por outros pesquisadores.

Estudos apontam que reinfecções por Covid-19 costumam ser raras. Eles, porém, estão limitados por uma perspectiva temporal inferior aos cerca de 8 meses que separam a primeira e segunda onda da doença em Manaus. De toda forma, os autores afirmam que só isso não seria capaz de explicar o quadro visto na cidade atualmente.

Às anteriores, une-se a possibilidade de que novas linhagens da Covid-19 escapem da imunidade proporcionada pela contaminação inicial. O artigo cita a B.1.1.7, a B.1.351 e P.1, essa última detectada inicialmente no Japão em pessoas que voltavam de uma viagem ao Amazonas.

Segundo o artigo, cada uma delas possui "constelação de mutações de potencial importância biológica" e a B.1.1.7 (detectada inicialmente no Reino Unido) e a P.1 já foram detectadas em circulação no Brasil.

A variante B.1.351, por sua vez, foi detectada na África do Sul.

Em comum, todas elas têm alterações na proteína Spike (S), que se encontra na superfície do Sars-CoV-2 e é responsável pelo "encaixe" que possibilita a invasão das células humanas. A linhagem P.1 encontrado no Brasil possui diversas mutações em comum com as do Reino Unido e da África do Sul, tidas como transmissíveis (o que implicaria em mais gente se infectando e morrendo).

Outro ponto de atenção diz respeito à possibilidade de essas linhagens escaparem da proteção vacinal, considerando que os imunizantes, de forma geral, são focados exatamente em ensinar o corpo a reconhecer a proteína S e, assim, ter armas prontas para combater uma possível infecção.

"As novas linhagem do Sars-CoV-2 podem levar ao ressurgimento de casos em locais em que há circulação das mesmas, caso elas sejam mais transmissíveis e caso estejam associadas a um escape antigênico", afirmam os autores.

Em 2021, os números da pandemia alcançados no Amazonas são os maiores já observados, superando inclusive o pico da primeira onda da Covid-19. O estado alcançou, no começo de fevereiro, a maior média móvel de mortes registradas desde o início da pandemia, 148, no dia 1º, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.

Em meio ao crescimento de casos, ocupação em leitos para Covid e mortes, a saúde do estado colapsou de novo. A situação desembocou em uma crise de falta de oxigênio para os pacientes. Foram comuns imagens de familiares dos doentes correndo em busca de cilindros, inclusive com um manuseio arriscado dos objetos. Enquanto isso, sem o gás medicinal para auxiliar os pacientes, profissionais de saúde tiveram "ambusar" os doentes, o que significa ter que usar initerruptamente o ambu, aparelho manual de ventilação.

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