Equador

Daniel Noboa, o jovem presidente que desafia o poder do crime no Equador

Desde o domingo, Noboa enfrentou sua primeira crise, depois que grupos de criminosos e narcotraficantes responderam com fogo a suas advertências

Daniel Noboa,presidente do EquadorDaniel Noboa,presidente do Equador - Foto: Marcos Pin/AFP

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De poucas palavras e olhar firme, o presidente Daniel Noboa chegou ao poder no Equador em novembro como um dos dirigentes mais jovens do mundo, com o compromisso de redobrar suas apostas para enfrentar um tráfico de drogas encorajado.

"Este governo está tomando as ações permitidas que, nos últimos anos, ninguém quis tomar. E para isso é preciso coragem de verdade, não uma coragem de papelão", disse nesta quarta-feira (10) o governante de 36 anos em entrevista à Rádio Canela.

Desde o domingo, Noboa enfrentou sua primeira crise, depois que grupos de criminosos e narcotraficantes responderam com fogo a suas advertências de subjugá-los: motins carcerários, retenção de mais de 100 membros da força pública pelos presos, fuga da prisão de dois chefões do crime, ataques a jornalistas, explosões e um rastro de sangue que deixa pelo menos dez mortos.

Filho de um magnata da produção de banana, nascido nos Estados Unidos e formado em universidades estrangeiras de prestígio, o novo presidente se define de centro-esquerda, embora seja apoiado por forças de direita.

Bastante ativo no Instagram, Noboa é "sommelier", entende de música, tentou ser vegetariano, coleciona pimentas e é apaixonado por carros e cavalos, de acordo com sua equipe de imprensa.

Jovem e milionário
De aparência atlética e jovial, Noboa evita o espetáculo nos palanques, coletivas de imprensa e entrevistas, mas distribui abraços e "selfies" em sua passagem.

Durante a campanha, obteve apoio usando um colete à prova de balas e apresentando um discurso de pulso firme contra o narcotráfico, depois do assassinato a tiros do presidente Fernando Villavicencio. Dias depois, denunciou ameaças.

“Talvez me matem também”, disse Noboa na época, em entrevista à AFP.

Filho de Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do Equador, o presidente é herdeiro de sua fortuna e capital político.

O atual chefe de Estado rompeu uma sequência de derrotas de seu pai, que concorreu cinco vezes à Presidência e tentou vencer o ex-mandatário socialista Rafael Correa (2007-2017), sem sucesso.

Seu triunfo foi uma revis para o condenado e exilado ex-presidente Correa, padrinho político de Luisa González, seu rival no segundo turno.

O novo presidente se comprometeu a impedir o derramamento de sangue no país, que teve 2023 como seu ano mais violento, com cerca de 7.800 homicídios e uma taxa de assassinatos superior a 40 para cada 100.000 habitantes.

"Esta onda de violência não é um acidente, nós começamos a aplicar nosso plano de segurança, que consiste na segurança de portos e fronteiras, na segmentação das prisões, na transferência dos líderes das prisões para áreas isoladas de segurança máxima, na retomada do controle, no monitoramento com radares e drones para combater o narcotráfico e o terrorismo", garantiu Noboa.

Estado de guerra
Noboa governará por 18 meses, até completar o mandato de quatro anos de seu antecessor Guillermo Lasso. Em maio de 2023, Lasso dissolveu o Congresso e abriu o caminho para eleições antecipadas para escapar de um processo de impeachment por corrupção.

Praticamente um desconhecido na política, Noboa chegou de surpresa ao poder de um país castigado pela violência e com ansiedade de mudança. Até então, ele só tinha ocupado o cargo de congressista por um breve período (2021-2023).

Durante essa época, foi questionado por um suposto conflito de interesses ao financiar de seu bolso a viagem de sete deputados à Rússia, um dos principais destinos da banana produzida pela empresa de sua própria família. A viagem ocorreu depois da invasão russa da Ucrânia, condenada por Quito, o que alimentou as críticas. Seus inimigos também o acusaram de evasão de impostos.

Seu projeto mais comentado para reduzir a violência é o de criar barcos-prisões e penitenciárias no meio da selva para isolar os reclusos de suas redes criminais.

“Estamos em um estado de guerra e não podemos ceder diante desses grupos terroristas”, frisou o presidente nesta quarta. Ontem, ele havia declarado o país em “conflito armado interno”.

Noboa estudou administração de empresas na Universidade de Nova York e administração pública na Harvard Kennedy School. Também tem pós-graduação em Governança e Comunicação Política na Universidade George Washington.

Oriundo do litoral sudoeste do país, é casado com Lavinia Valbonesi, uma "influencer" em temas de nutrição, com quem tem um filho de dois anos e espera outro. De seu primeiro casamento, tem uma filha de quatro anos.

Aos 18 anos, Noboa criou sua primeira empresa dedicada à produção de eventos. Depois, vinculou-se à Corporação Noboa, uma grande empresa familiar, como diretor das áreas comercial e de transporte naval.

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