Polêmica

De Felipe Neto ao filho de Lula, gamers criticam fala do presidente da República

Petista disse que "não tem game falando de amor, é game ensinando a matar" durante o anúncio do pacote para enfrentamento da violência nas escolas, nesta terça-feira

Felipe Neto critica fala de Lula sobre a violência em videogamesFelipe Neto critica fala de Lula sobre a violência em videogames - Foto: Reprodução / Instagram

Durante o anúncio do pacote para enfrentamento da violência nas escolas, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionou o aumento dos ataques a colégios nas últimas semanas a videogames.

A afirmação repercutiu mal nas redes, com críticas até de um dos filhos do presidente, Luis Claudio Lula da Silva, e também do influenciador Felipe Neto.

Os gamers interessam a classe política porque, em geral, fazem barulho nas redes sociais, geram engajamento e podem ser peças decisivas em campanhas eleitorais cada vez mais digitais e segmentadas, afirmam especialistas.

— Não tem jogo, não tem game falando de amor. Não tem game falando de educação. É game ensinando a molecada a matar — disse Lula, na solenidade.

Felipe Neto, que foi uma das personalidades públicas mais influentes na campanha do presidente, afirmou que Lula está errado e considerou a análise “rasa, ultrapassada” e que “não reflete a realidade”. “Mais um erro grotesco na comunicação do Presidente”, escreveu ele.

A streamer e apresentadora de eSports Nyvi Estephan classificou a visão do presidente como “preconceituosa”, e afirmou que jogos podem ser benéficos para o desenvolvimentos de crianças e adolescentes. Ela lembrou que, assim como filmes, as classificações indicativas dos jogos também devem ser respeitadas.

“Jogos, assim como filmes, são educativos e muitos artigos científicos provam os benefícios cognitivos e sociais dos mesmos. Assim como filmes, jogos tem faixas etárias, que devem ser respeitadas e isso é uma responsabilidade dos pais e não da indústria. O discurso não pode ser raso, senão vocês ajudam a disseminar um preconceito ainda maior em uma indústria de extrema importância econômica e social”, pontuou Nyvi.

Em resposta, a equipe de Lula entrou em contato com a apresentadora, dando sinais de que aceitaria o convite feito por Nyvi para um encontro, visando tratar do assunto.

Filho de Lula, Luis Claudio também se manifestou, lamentando a declaração do pai e dizendo que ele “generalizou” um assunto polêmico. “Meu pai viu os filhos e os netos crescerem jogando videogame, ele sabe que isso não nos tornou violentos, ele fez uma declaração sobre um assunto polêmico ao vivo e acabou generalizando. Vídeo game é muito mais que violência, é arte, é lazer, é entretenimento…”, postou ele.

Parlamentar de oposição, o deputado Kim Kataguiri (União-SP) aproveitou para questionar os gamers que votaram em Lula. “Cadê aquela galerinha dos ‘GAMERS COM LULA’? Tão felizes? Valeu a pena fazer o L?”, provocou.

Discurso de ódio
Assim como mostrou o Globo, fóruns de jogos eletrônicos têm sido impregnados por discursos de ódio contra minorias e levado à radicalização de membros dessas comunidades. Os extremistas, no entanto, estão longe de representar a maioria dos aficionados por jogos eletrônicos.

Pesquisa feita pelo Laboratório de Impacto Gamer da Purpose e divulgada nesta semana traçou o perfil dos jogadores no Brasil a partir de entrevistas com especialistas, usuários e representantes do mercado de games e da análise de plataformas acessadas por essas comunidades.

O levantamento identificou que, se existem grupos disseminando mensagens de ódio entre os gamers, há também comunidades pacíficas e outros vendo no ambiente eletrônico um espaço para ampliar a luta de segmentos muitas vezes silenciados.

Uma das organizadoras da pesquisa e estrategista do Laboratório de Impacto Gamer, Flávia Gasi observa que houve mudanças no discurso majoritário nessas comunidades entre 2018 e 2022, passando a ter menos espaço para extremistas.

— O discurso mudou bastante, especialmente no Twitter e na Twitch. Em 2018, a gente teve uma comunidade muito grande falando a favor do Bolsonaro, por exemplo. Isso teve um impacto enorme. Já em 2022, vimos que pessoas mais contemporizadoras começaram a se posicionar mais, o que mudou completamente a maneira como a gente debateu política nesses espaços — diz Flávia, que há mais de duas décadas está imersa nesse universo.

Reivindicações do setor
Na campanha eleitoral do ano passado, gamers entregaram uma cartilha para Lula com propostas voltadas para o setor de jogos eletrônicos no país, que conta com um público cada vez maior. De acordo com a Pesquisa Game Brasil, desenvolvida e publicada em 2022 pela Sioux Group e Go Gamers, 74,5% dos brasileiros têm o costume de jogar jogos digitais.

O “Lula Play”, como o documento foi nomeado, abordava temas como a regulamentação das profissões ligadas à área, a criação de cursos técnicos e de ensino superior para desenvolvedores de jogos e a revisão da legislação da banda larga, procurando melhorar a velocidade de conexão.

Na época, o então candidato do PT ao Palácio do Planalto escreveu em suas redes sociais que jogos eletrônicos não são apenas entretenimento, mas também “cultura, emprego e desenvolvimento tecnológico”. A estratégia era clara: acenar para um grupo próximo ao então presidente Jair Bolsonaro, que disputava a reeleição.

Ao longo do seu mandato, Bolsonaro reduziu quatro vezes o imposto de videogames e jogos, com um decreto assinado a cada ano.

* estagiária sob supervisão de Cibelle Brito

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