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EXEMPLO

De pai para filho: voluntariado é herança que transforma vidas em casa e multiplica amor nas ruas

Dia dos Pais é comemorado neste domingo, enquanto Dia Nacional do Voluntariado é celebrado no próximo dia 28

Equipe de voluntários do projeto Ação da Cidadania em PernambucoEquipe de voluntários do projeto Ação da Cidadania em Pernambuco - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

De pai para filho. De casa para as ruas. De dentro para fora. É por meio dessas ligações que o voluntariado se transforma em uma ferramenta de aproximação afetiva entre pais e filhos, além de ser a extensão de uma rede de solidariedade e amor a outras tantas pessoas.

Unindo o Dia dos Pais, celebrado neste domingo (13), e o Dia Nacional do Voluntariado, vivenciado no dia 28, a reportagem da Folha de Pernambuco selecionou histórias inspiradoras de pessoas que têm a prática de fazer o bem misturada com a genética.

O pai, o filho e o espírito solidário

O bancário Antônio Fernando Marroquim de Lira, de 62 anos, foi convidado por um primo a contribuir com o projeto Rua do Bem através de doações de cestas básicas. Os alimentos foram suficientes para as famílias naquele momento, mas ele sentiu que poderia ir além.

Pai e filho se dividem entre tarefas do dia a dia e voluntariado nas ruas da capital pernambucana (Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco)


“Fiquei com vontade de participar mais ativamente, não só doando as cestas, mas indo todos os dias, ajudando na confecção das marmitas e doando pessoalmente”, disse de início.

Na atividade, ele se doa diariamente desde o começo de 2021. Em meio as entregas, confessou que também é uma das pessoas que sai como beneficiada, fazendo da ação uma verdadeira troca.

“É muito gratificante e de um crescimento pessoal muito grande. Existem centenas de pessoas que precisam de uma ajuda, e isso é o mínimo que podemos fazer”, disse.

Diariamente ele ajuda na produção e distribuição de 160 marmitas nas ruas do Recife. A concentração é nas proximidades da Igreja de Santo Amaro das Salinas, área central da capital pernambucana. Mas a doação se estende pelo caminho de encontro aos mais vulneráveis.

“Onde tiver necessitados, estou lá. Quando sobra, distribuo em viadutos e praças. Atendemos desde moradores da comunidade próxima até o pessoal que vive em situação de rua, como travestis, prostitutas e usuários de drogas”, detalhou, antes de voltar no tempo até a primeira vez em que realizou a ação nas ruas com a companhia especial do seu filho, o estudante João Vinicius de Andrade Lira, de 16 anos.

“Ele ficou um pouco assustado, pois uma coisa é ver um usuário de drogas na rua, distante. Outra coisa é vê-lo de perto, conversar e dar conselhos. Depois ele se acostumou, pois sabe que não estão ali porque querem. A droga os transformam”, afirmou.

Seguindo o exemplo que tem em casa, João Vinicius rapidamente transformou o medo em um sentimento acolhedor, inclusive de forma independente ao projeto.

“Não só no projeto eu procuro ser espelho para ele. Sempre que passamos pelas ruas e tem algum vendedor de água mineral, tenho por hábito comprar fardos e doar”, complementou o pai.

Satisfeito com o que vem construindo ao lado do pai, João Vinicius não pensa em afastar a solidariedade da sua rotina.

“É gratificante. Meu pai ajuda na organização das marmitas e nas distribuições, e é muito inspirador ver ele fazendo um trabalho como esse, porque serve como exemplo para mim, para que no futuro eu continue”, disse o estudante.

Nos trilhos do caminho do bem

Jornalista e metroviário, Anselmo Monteiro está engajado na trajetória voluntária de forma profissional desde o início, tendo o “pontapé” acontecido por meio de uma determinação do presidente da República à época, Itamar Franco (Partido da Reconstrução Nacional - PRN).

Anselmo Monteiro foi o pioneiro do programa em Pernambuco; ele é jornalista e metroviário (Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco)

“Tudo começou em 1993, com o sociólogo Herbert de Souza, que criou a campanha Natal Sem Fome e incentivou a criação de comitês voluntários da Ação da Cidadania, na década de 90. A proposta chegou ao Governo Federal, que determinou que as empresas estatais criassem comitês”, disse.

À essa altura, ele já trabalhava na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), onde foi responsável por escrever o boletim interno da instituição. Seis meses depois, assumiu a coordenação estadual do projeto, sendo também um membro da coordenação da Ação da Cidadania a nível nacional.

O trabalho deu certo.

“Veio a visibilidade do resultado das nossas ações, chegando comida para aqueles que mais precisavam em todas as regiões de Pernambuco. Eu achei uma razão de viver e ser feliz”, confessou.

Composto por voluntários que atuam no projeto nas manhãs de segunda-feira a sábado, o grupo foi pioneiro da iniciativa a nível estadual, tendo construído, também de forma voluntária, a sede no Parque de Exposições do Cordeiro, na Avenida Caxangá, Zona Oeste do Recife.

Além dos alimentos, o projeto tem como destaque o bloco carnavalesco “Brinque na Paz”, saindo às ruas no período brincante do ano para arrecadar doações; a manutenção da biblioteca e de uma sala de leitura, incentivando o viés educacional e lúdico de pessoas que moram nas comunidades próximas; assim como a oferta de terapias holísticas como reiki e deeksha.

Entre os voluntários, estão quatro filhos de Anselmo Monteiro. Todos ativos também na diretoria do programa. Um deles é Rafael Monteiro, de 33 anos, jornalista e coordenador executivo na Ação da Cidadania.

“Sempre tive um grande exemplo, que é o meu pai. Além de pensar na família, ele pensa na família do próximo, que tanto precisa no dia a dia. Aprendi a ser voluntário e ter cidadania pelo próximo, que é quem mais precisa e pede ajuda. Tratamos isso com sinceridade e foco”, detalhou Rafael Monteiro.

A fonte de inspiração dele reforçou a fascinação que nutre em continuar estendendo a mão e o olhar ao próximo, que muitas vezes é uma pessoa desconhecida.

“Acho que o exemplo é sempre a melhor forma de ensinar e também de aprender. Fazer solidariedade é uma coisa fascinante, apaixonante. Esse exemplo eu passo para minha turma o tempo todo. Para mim, os filhos são o maior tesouro, a maior riqueza que eu poderia ter”, disse o pai, bastante emocionado.

Quem também integra o time de voluntários da Ação da Cidadania em Pernambuco é Gerson Sercondes, de 44 anos. Ele é proprietário de um depósito de distribuição de água mineral há três anos, e foi justamente prestando esse serviço que encontrou a “porta aberta” para ajudar.

“Na primeira oportunidade, encontrei uma equipe para descarregar as carretas, tinham quatro mil cestas básicas. E estou aqui até hoje ajudando as comunidades”, disse de início.

Assim como Anselmo Monteiro, ele também trouxe seus filhos, os adolescentes Marcos Vinícius e Jéssica Moraes, para o trabalho de solidariedade em equipe. “Eles vêm para cá e eu vou passando as instruções. Fico liderando a equipe com eles. É uma bênção. Aprendi aqui que a fome não espera”, afirmou.

Gerson Sercondes (à esq.), Anselmo Monteiro (centralizado) e Rafael Monteiro (à dir.), integrantes do Ação da Cidadania em Pernambuco (Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco)

ONU

Na visão da Organização das Nações Unidas (ONU), “o voluntariado promove a apropriação local por soluções de desenvolvimento, aumentando sua capacidade de resiliência e prevenção a situações de crise”.

Além disso, esse tipo de atividade pode ser responsável por fornecer “conexão entre as estratégias e iniciativas governamentais com ações voluntárias complementares da comunidade”. Com isso, será possível ampliar o campo de atuação até mesmo para além de fronteiras entre países.

“Combinar a ação de voluntários internacionais, nacionais e comunitários em um efeito cascata pode aumentar o alcance e multiplicar os resultados em todas as áreas dos objetivos”, traz a ONU, que define ainda que “o voluntário é o jovem ou o adulto que devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas”.

Como ajudar
Instagram: @projetoruadobem
Sede: Rua Alexandre Moura, 10, Santo Amaro, Recife (por trás da Igreja Santo Amaro das Salinas)
Pix: 882.168.884-49 | CPF (Lucíola Menezes)

Instagram@acaodacidadania | @acaope
Sede: Parque de Exposições do Cordeiro, Av. Caxangá, 2200 - Cordeiro, Recife
Pix: 04095409000190
Transferências bancárias:
Banco do Brasil | Agência: 3234-4/Conta Corrente (CC): 5633-2
Bradesco | Agência: 1055-3/Conta Corrente (CC): 9640-7

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