Declarações de nova dirigente de 'Assuntos da Mulher' causam polêmica na Síria
Dibs insistiu que as mulheres sírias, sejam elas sunitas, alauítas, drusas ou cristãs, são "todas iguais"
As recentes declarações da chefe do “Escritório de Assuntos da Mulher”, criado pelas novas autoridades sírias, geraram, neste domingo (29), uma polêmica nas redes sociais e entre a sociedade civil.
Aisha Al Dibs foi entrevistada na última semana pela rede de televisão turca TRT sobre o "espaço" que será concedido às associações feministas.
A dirigente, que é a única mulher no novo governo de transição sírio, explicou que se essas organizações "apoiarem o modelo que vamos construir, serão bem-vindas. Não vou abrir as portas para quem não concorda com a minha forma de pensar".
"Por que deveríamos adotar um modelo laico ou civil? Estabeleceremos um modelo próprio da sociedade síria, e são as mulheres sírias que vão conseguir isso", declarou.
Dibs insistiu que as mulheres sírias, sejam elas sunitas, alauítas, drusas ou cristãs, são “todas iguais" e convidou "aquelas que têm diplomas e experiência" a se apresentarem nas instituições governamentais para serem empregadas.
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A dirigente também instou as mulheres a "não ignorarem as prioridades de sua natureza criada por Deus", referindo-se às "suas funções no seio da família", em declarações que provocaram reações indignadas.
"Fomos presas por expressar nossa opinião, nossas casas foram destruídas, fomos deslocadas, para que você venha agora dizer o que é permitido fazer e o que não é?", indignou-se a atriz Aliaa Al Said na rede social X.
"Não a uma nova repressão cultural, política [...] e às nossas liberdades públicas e individuais", disparou no Facebook uma usuária, Batraa Abo Aljadayel.
A polêmica surgiu poucos dias depois de as forças de segurança das novas autoridades sírias, compostas por rebeldes islamistas, lançarem na quinta-feira uma grande operação contra as "milícias" de Bashar Al Assad, presidente sírio deposto no início de dezembro.
Cerca de 300 pessoas foram presas desde o início da operação, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG especializada.
Por sua vez, a agência de notícias estatal Sana mencionou, sem fornecer números, várias "detenções" de "membros de milícias" próximos de Assad.
Entre os presos estão "informantes dos antigos serviços secretos do regime, homens armados fiéis ao regime e pró-iranianos, militares e oficiais que cometeram assassinatos e atos de tortura", assegurou Abdel Rahmane, diretor do OSDH, que possui uma extensa rede de fontes na Síria.
Mencionando vídeos que circulam nas redes sociais, nos quais homens armados são vistos maltratando detidos, Rahmane afirmou que "certos indivíduos, entre eles informantes, foram detidos e executados imediatamente, o que é completamente inaceitável".
A AFP não conseguiu comprovar a autenticidade dessas imagens de forma independente.
Assad foi derrubado no dia 8 de dezembro por uma coalizão rebelde liderada pelo grupo islamista radical sunita Hayat Tahrir al Sham (HTS).
Segundo o OSDH, mais de 100 mil pessoas morreram nas prisões e em centros de detenção sírios desde o início do conflito em 2011, desencadeado após a brutal repressão de manifestações pró-democracia.