Delegada vai enviar para perícia prontuário da vítima de estupro por anestesista
Segundo Bárbara Lomba, o objetivo é analisar a dose de anestésico usada por Giovanni Bezerra na paciente durante o parto
A delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, informou nesta quinta-feira (14) que vai mandar para o Instituto Médico-Legal (IML) do Rio todo o prontuário médico da vítima do estupro pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra.
O objetivo é permitir que todas as dosagens de anestésico aplicadas pelo médico sejam analisadas durante a cesárea da paciente, no domingo (10).
— Vamos mandar o prontuário dessa vítima para o IML para fazer uma consulta médico-legal. O objeto é que os peritos do IML façam uma consulta das correspondências que estão no prontuário com a droga que apreendemos. O objetivo é ver a dosagem, o que aconteceria com a paciente se fosse uma dosagem excessiva, etc. — explica a delegada.
— Também vamos mandar para eles o vídeo (do parto) para eles analisarem a paciente, que estava em uma sedação profunda, se haveria necessidade, se a dosagem do prontuário faria aquilo, se a quantidade de remédios faria aquilo, se ele colocou uma dosagem na paciente e colocou outra coisa no prontuário. Isso tudo vai nos favorecer como prova na investigação. O que eu ouvi é que a quantidade de sedação só seria necessária se a vítima estivesse muito agitada, se estivesse com alguma dor ou se houve complicação , que em seguida teria que ter uma intubação e cirugia geral. Não teve nada disso.
Bárbara Lomba disse que outra paciente do anestesista também relatou ter sido sedada, mesmo sem estar sentindo dor:
— Outra família que veio hoje disse que a paciente estava lúcida, estava conversando e ele sedou. Uma outra paciente contou que ela mesmo falou que não estava sentindo dor e não precisava ser sedada.
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Propofol e Ketamina
Segundo os relatos colhidos pela Deam, o anestesista usou os medicamentos Propofol e Ketamina nas mulheres logo após o parto. Contudo, além da suspeita sobre a quantidade de sedativo aplicada, a própria escolha pelas duas substâncias também causa estranheza em profissionais da área.
— São duas medicações extremamente raras de uso na cesariana. Habitualmente, a sedação que você precisa fazer é um tranquilizante leve após o nascimento do bebê, caso a mãe tenha alguma crise de ansiedade. Esses medicamentos só se usa no caso de falha de bloqueio (pela anestesia que paralisa da cintura para baixo). Eles podem ser usados, mas como exceção. E é bastante incomum — resume Renato Sá, vice-presidente da Associação de Ginecologista e Obstetrícia do Estado do Rio.
Ao depor, uma das enfermeiras de plantão no último domingo contou que, na cirurgia em que o estupro foi gravado, Giovanni “sedou totalmente a paciente, utilizando Propofol e Ketamina”. Já outra profissional de enfermagem afirmou que, ao fim do procedimento anterior, “a paciente estava bastante sedada, tendo Giovanni utilizado um frasco de Propofol, quantidade a qual a declarante diz ser demasiada, tendo em vista o que outros anestesistas ministram”.
Segundo a bula, o Propofol é indicado “para indução e manutenção de anestesia geral em procedimentos cirúrgicos”, fazendo com que “o paciente fique inconsciente ou sedado”. A Ketamina tem uso similar e, além disso, também é difundida como droga recreativa, batizada de “Special K”, por conta dos efeitos alucinógenos ocasionados por ela.