Democratas ampliam pressão para que Biden desista da reeleição
Apoiado pela cúpula do Partido Democrata e sem rivais expressivos até o momento, presidente americano é alvo de questionamentos da imprensa e do eleitorado, como mostram pesquisas recentes
Principal candidato do Partido Democrata para as eleições de 2024 quase que sem concorrência interna, o presidente Joe Biden enfrenta os maiores questionamentos sobre o seu plano de reeleição há quase um ano da disputa presidencial. Contando com apoio massivo dos líderes do partido, a candidatura de Biden tem sido cada vez mais contestada por eleitores e analistas dos EUA, que põem dúvidas quanto a capacidade do octogenário ocupar a Casa Branca por mais quatro anos.
Em meio a uma série de problemas internos, incluindo o início de processo de impeachment movido pelos republicanos no Congresso e as denúncias contra Hunter Biden, a tensão intrapartidária alcançou um nível difícil de ignorar, demonstrado nos resultados das pesquisas eleitorais e no tom crítico de analistas da imprensa americana ao presidente em exercício.
Leia também
• Irã e EUA trocam prisioneiros após liberação de fundos iranianos
• Conselheiro dos EUA encontra chanceler chinês; há expectativa de reunião entre Biden e Xi Jinping
• Lula e Biden vão se reunir para tratar de precarização do trabalho
De acordo com uma pesquisa da CNN divulgada neste mês, 67% dos democratas preferem que Biden não seja renomeado como candidato do partido, uma porcentagem maior do que o obtido em uma pesquisa anterior, realizada pelo The New York Times/Siena College, que revelou que metade dos eleitores preferia um novo nome. A viabilidade da campanha já preocupa democratas de enclaves liberais e de estados indecisos aos corredores do poder em Washington.
Reservadamente, autoridades democratas reconhecem preocupações sobre a idade de Biden e a queda nos índices de aprovação. Mas publicamente, eles projetam total confiança na capacidade do atual presidente liderar o partido a uma nova vitória. A campanha de Biden e os seus aliados argumentam que grande parte da dissidência intrapartidária desaparecerá no próximo ano, quando a eleição se tornar uma escolha direta entre ele e o ex-presidente Donald Trump.
— Definitivamente tem um elemento paradoxal — disse o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, um democrata que faz parte de um grupo de governadores que deixaram de lado as suas ambições nacionais para apoiar a reeleição de Biden. — É apenas uma questão de tempo até que todo o partido e, em termos gerais, os americanos, convirjam com as opiniões de pessoas como eu.
Muitos dirigentes do partido dizem que Biden está apostando alto na combinação que envolve estar no poder, o bom ambiente político para seu partido e o fato de que os democratas que gostam dele acabarão por superar os sinais estridentes de preocupação dos demais.
Embora qualquer discussão sobre uma alternativa interna seja desacreditada pelas autoridades do partido — que consideram que um desafio a Biden não só pareceria desleal com o presidente, mas também provavelmente fracassaria e enfraqueceria a posição do candidato nas eleições gerais — vozes críticas começam a ecoar na imprensa americana.
No The New York Times, a colunista de opinião Maureen Dowd culpou principalmente a resposta da equipe do presidente após gafes públicas de Biden — como em viagem ao Vietnã, quando teve dificuldades em descrever um encontro anterior com o primeiro-ministro chinês — dizendo que elas potencializavam os questionamentos ao presidente, embora tenha admitido que ele tenha "desacelerado" em comparação a períodos anteriores.
Não há indicações de que alguém proeminente irá desafiar Biden, embora estrategistas que trabalham para outras autoridades eleitas digam que vários políticos conhecidos provavelmente entrariam na corrida se, a qualquer momento antes do final do ano, o presidente sinalizasse que não buscaria a reeleição.
O tema foi abordado pelo colunista do The Washington Post, David Ignatius. Em uma coluna intitulada "O presidente Biden não deveria concorrer novamente em 2024", Ignatius foi mais incisivo e disse que esperava que Biden refletisse consigo mesmo sobre não concorrer novamente.
"O tempo está se esgotando. Dentro de mais ou menos um mês, esta decisão estará consumada. Será demasiado tarde para outros democratas, incluindo [Kamala] Harris, se testarem nas primárias e verem se têm a capacidade de liderança presidencial", escreveu.
A situação do presidente é quase oposta à do campo republicano, onde Trump detém uma liderança dominante entre a base do partido, mas continua muito menos querido por uma classe política que teme que a sua impopularidade entre os eleitores moderados e indecisos leve à derrota em 2024.
Certos democratas argumentam que a campanha de Biden deve deixar mais claro os riscos de uma possível falta de apoio ao candidato, abrindo caminho para Trump.
— Trata-se de mostrar às pessoas que o futuro da democracia americana está em jogo — disse a deputada Jennifer McClellan, da Virgínia, que integra o conselho consultivo nacional da campanha de Biden. — Não se trata apenas de qual presidente conseguirá passar o dia sem tropeçar nas palavras, o que todo mundo fará, mas qual presidente liderará este país de uma forma que ajude as pessoas a resolver problemas e mantenha a democracia americana intacta.
Faiz Shakir, gerente de campanha da candidatura presidencial do senador Bernie Sanders em 2020, disse que Biden precisava mostrar aos eleitores que estava lutando pelo povo americano, apontando para as lutas de seu governo, como a disputa legal com as empresas farmacêuticas sobre seu novo plano de preços do Medicare.
— A pergunta que eu gostaria de responder é: ele é um líder forte? — disse Shakir. — Quando as pessoas virem que ele é um líder forte, elas se sentirão diferentes em relação à sua idade. Eles se sentirão diferentes em relação à economia. Eles se sentirão diferentes em relação a muitas coisas.