Demora no socorro a vítimas do terremoto desata críticas no Marrocos
Equipes de socorro do Reino Unido e Espanha já atuam nas buscas por sobreviventes, três dias depois da tragédia
Autoridades marroquinas aparentaram responder, nesta segunda-feira (11), a uma onda crescente de criticas nas redes sociais pela resposta ao terremoto arrasador que já deixou quase 2,5 mil mortos no país. Depois de dois dias de comunicados considerados esparsos sobre os esforços de resgate e número de vítimas, o porta-voz do governo, Mustapha Baitas, deu as primeiras declarações vindas diretamente de um alto oficial do governo, no domingo à noite, em um vídeo divulgado pelas redes sociais. O rei marroquino, Mohamed VI, ainda não visitou as regiões atingidas pelo tremor, onde as esperanças de encontrar sobreviventes estre os escombros diminuem, três dias após a tragédia.
O porta-voz do governo falou depois que o primeiro-ministro marroquino, Aziz Ajanuch, participou de uma reunião de emergência do governo, no domingo à tarde. No sábado, o premier também foi chamado ao Palácio real para um encontro com o monarca, que estava fora da capital Rabat quando o terremoto atingiu o país. Baitas aparentou responder às críticas dizendo que as autoridades estavam conduzindo operações de buscas e socorro “agéis e efetivas”.
A ajuda internacional também chega aos poucos ao país. Equipes de resgate do Reino Unido e da Espanha já estão atuando no Marrocos. No entanto, outros países já ofereceram suporte, entre eles a França e os Estados Unidos, mas o governo marroquino, só autorizou oficialmente, até agora, o envio de pessoal especializado dos dois países europeus, além do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.
A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, negou que o Marrocos esteja recusando assistência francesa pelas tensões diplomáticas entre os dois países. Segundo ela, cabe os governo marroquino decidir o momento e o escopo de qualquer ajuda estrangeira.
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Corrida contra o tempo
Enquanto isso, o número de mortes confirmadas subiu para 2.497 pelos dados do Ministério do Interior do país. A maioria dos mortos estava na província devastada de Al Haouz. O número de feridos também quase chega a 2,5 mil, com muitos em estado grave.
Ainda nesta segunda-feira, muitos sobreviventes seguiam sem abastecimento de energia ou contato telefônico, um dos motivos que alimenta a onda de críticas pelas ações do governo nas redes sociais. Em algumas áreas reduzidas a pós pelos tremores, os próprios moradores estão se mobilizando para coordenar esforços de socorro e auxiliar nas buscas, pela demora na chegada de auxílio governamental. Em Marrakech, muitos foram para a fila doar sangue.
"Estamos coletando alimentos para ajudar as áreas afetadas pelo tremor" declarou à AFP Ibrahim Nachit, da organização Draw Smile, que também prevê o envio de uma "caravana médica" aos locais mais necessitados.
A Cruz Vermelha Internacional fez um alerta sobre a importância da ajuda humanitária que, segundo a organização, pode ser necessária "durante meses ou inclusive anos".
De acordo com o chefe da equipe de bombeiros espanhola, Annika Coll, que atua nas localidades de Talat Nyaqoub e Amizmiz, ao sul de Marrakech, a grande dificuldade está nas áreas remotas e de difícil acesso, onde os feridos precisam ser transportados de helicóptero.
"É difícil dizer se as probabilidades de encontrar sobreviventes diminuíram porque, na Turquia [onde aconteceu um terremoto violento em fevereiro] por exemplo, conseguimos encontrar uma mulher viva após seis dias e meio. Sempre há esperança" declarou o espanhol.
Uma equipe de 48 agentes da Unidade Militar de Emergências (UME) espanhola estabeleceu montou acampamento na entrada da pequena localidade de Amizmiz. O grupo conta com quatro cães farejadores e utiliza pequenas câmeras para entrar nas pequenas cavidades entre os escombros, além de aparelhos para detectar presença humana.
"A vida acabou aqui"
Em outra localidade devastada pelo terremoto mais letal no Marrocos em mais seis décadas, um morador resumiu o sentimento dos que vivem ali. Para ele, “o povoado está morto". Tikht está a poucos quilômetros do epicentro do tremor, nas montanhas do Atlas. A localidade, onde viviam cerca de 100 famílias, é agora um amontoado de restos de madeira e alvenaria.
"A vida acabou aqui" lamenta Mohssin Aksum, de 33 anos.
Assim como a maioria dos municípios mais atingidos, Tikht era uma aldeia com muitas casas construídas segundo um método tradicional que usa uma mistura de pedra, madeira e argamassa de adobe. A aldeia situada a poucos quilômetros do epicentro do terremoto — na Cordilheira do Atlas, a 71 km ao sudoeste de Marrakech — ficou completamente arrasada. Esse foi o sismo mais letal no Marrocos em mais de seis décadas. O Serviço Geológico dos Estados Unidos estimou que o terremoto foi de magnitude 6,8, enquanto o Centro Nacional de Pesquisa Científica e Técnica do Marrocos apontou uma magnitude de 7,2.
"Não é algo em que as pessoas daqui pensem quando constroem as suas casas" explicou Abdelrahman Edjal, um estudante de 23 anos que perdeu a maior parte de sua família na catástrofe.
No caminho para a cidade, é possível ver tendas amarelas erguidas como abrigos de emergência. Agente da Defesa Civil local transportam macas de um caminhão militar para as barracas. ONGs também operam na região, avaliando as necessidades de abrigo, alimentos e água dos habitantes que permaneceram em povoados como Tikht.