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SAÚDE

Dengue: governo federal quer expandir método Wolbachia, que modifica mosquitos em laboratórios

Técnica insere bactéria nos Aedes aegypti para impedir transmissão dos vírus da dengue, da Zika e da chikungunya

Liberação de mosquitos com wolbachia no BrasilLiberação de mosquitos com wolbachia no Brasil - Foto: Divulgação / WMP

Para combater o avanço da dengue, o Ministério da Saúde pretende expandir o método Wolbachia para mais dezenas de municípios neste ano. O objetivo foi anunciado pelo secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente da pasta, Rivaldo Cunha, durante uma visita à biofábrica de Foz do Iguaçu, no Paraná, nesta semana.

— Foz do Iguaçu é uma das cidades que já tem o método Wolbachia, os mosquitos com a bactéria Wolbachia que se tornam incapazes de transmitir dengue, Zika e chikungunya, mas uma das metas do Ministério da Saúde é expandir a Wolbachia para mais 40 cidades em 2025 — disse.

Desde 2012, em parceria com o World Mosquito Program (WMP), o Brasil tem implementado a técnica. A estratégia envolve a criação de mosquitos Aedes aegypti modificados em laboratório por meio de microinjeções para carregarem a bactéria wolbachia.

A bactéria é comum nos insetos, presente em aproximadamente 70% deles, mas não é encontrada naturalmente nos Aedes aegypti. Porém, quando inserida neles, impede que os vírus se desenvolvam dentro deles.

Ao serem liberados no ambiente, esses mosquitos, apelidados de wolbitos, transmitem a bactéria de linhagem em linhagem. Com isso, reduzem a incidência das doenças na região em que foram soltos. Tudo de forma segura, já que a wolbachia é uma bactéria inofensiva para humanos.

A técnica foi desenvolvida por cientistas da Universidade Monash, na Austrália, junto com o coordenador do programa no Brasil, o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira. Até o momento, foi introduzida em 14 países na Ásia, Oceania e Américas.

No Brasil, os primeiros mosquitos foram liberados no Rio de Janeiro, em 2014. Até agora, o método está presente em 11 cidades: Niterói (RJ); Rio de Janeiro (RJ); Campo Grande (MS); Petrolina (PE); Joinville (SC); Foz do Iguaçu (PR); Londrina (PR); Uberlândia (MG); Presidente Prudente (SP); e Natal (RN).

Os resultados da tecnologia têm sido animadores. Um estudo publicado na revista científica New England Journal of Medicine avaliou a incidência da dengue dois anos após a liberação dos wolbitos na Indonésia e constatou uma redução de 77% nos casos da doença e de 86% nas hospitalizações.

Em Niterói - primeira cidade brasileira com 100% do território coberto pelo método Wolbachia -, foi observada, em 2021, uma redução de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de Zika. Na época, 75 % do território estava coberto.

Além disso, a estimativa do WMP é que cada real gasto na técnica é convertido em uma economia que vai de R$ 43 a R$ 549, de acordo com um estudo independente realizado nas cidades que implementam o método no Brasil.

Por isso, a expansão para novos municípios tem sido uma meta do governo, que tem investido na construção de novas biofábricas para produção dos wolbitos. O objetivo também consta no Plano de Ação para Redução dos Impactos das Arboviroses, lançado em setembro do ano passado pelo Ministério da Saúde.

Em julho de 2024, a biofábrica de Foz do Iguaçu começou a funcionar liberando cerca de 1,3 milhões de mosquitos modificados por semana. Nesse ritmo, a expectativa é que, até abril deste ano, 50% do território do município esteja coberto pelos wolbitos.

O Ministério da Saúde também confirmou a construção de uma nova biofábrica em Eusébio, no Ceará, cujas obras devem começar no primeiro semestre deste ano para que, em sete anos, o local se torne “um hub para distribuição da tecnologia para a região Nordeste”, disse a coordenadora da Fiocruz Ceará, Carla Celedonio.

Alta da dengue
No ano passado o Brasil viveu uma explosão nos casos e mortes por dengue, o que tem levado a uma corrida pela expansão de métodos de controle vetorial e do acesso às novas vacinas, como a da Takeda, já em uso no país, e a do Butantan, em análise na Anvisa.

Em 2024, foram registrados cerca de 6,6 milhões de infecções e de 6 mil mortes, de acordo com dados do ministério. Até então, o ano com mais casos de dengue havia sido 2015, quando foi registrado 1,69 milhão de infecções. O com mais vítimas fatais era 2023, quando 1.179 pessoas morreram no Brasil.

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