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Dengue: mortes no Brasil já são o dobro do registrado até abril em 2022; por que doença cresce?

Nos três primeiros meses do ano, país registrou 139 vidas perdidas pela doença; no mesmo período do ano passado, monitoramento apontava apenas 70

Mosquito da dengueMosquito da dengue - Foto: James Gathany/CDC

O número de mortes por dengue no Brasil durante os três primeiros meses de 2023 já é o dobro do registrado no mesmo período em 2022, ano em que o país bateu o recorde histórico de óbitos pela doença com mais de mil vítimas fatais.

Segundo o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para arboviroses, instituído recentemente pelo Ministério da Saúde devido ao avanço alarmante dos vírus no Brasil, foram 139 mortes nas 12 primeiras semanas do ano, até o dia 31 de março.

Durante esse mesmo período do ano passado, o boletim epidemiológico para arboviroses da pasta publicado na época apontava um total de 70 vidas perdidas para a dengue. Além disso, o monitoramento mostrava 258.917 casos da arbovirose, enquanto em 2023 já foram registrados 496.130 diagnósticos até abril.

Posteriormente, os números confirmados do período em 2022 aumentaram, assim como os atuais devem crescer com a investigação dos casos em análise.

Além disso, de acordo com a última atualização do COE, desta segunda-feira, desde o fim de março já foram mais 53 vidas perdidas pela doença, totalizando 192 mortes até agora em 2023. Há ainda 249 suspeitas em investigação.

O informe mais recente também aponta que 4.282 dos 5.570 municípios brasileiros (76,9%) já registraram casos de dengue neste ano. A taxa de incidência do país está em 301 casos a cada 100 mil habitantes.

Esse indicador, no entanto, está acima da média em todos os estados da região Centro-Oeste e na maioria dos estados do Sul e do Sudeste, à exceção de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

No Norte, apenas Acre e Rondônia registram uma incidência acima da média nacional, enquanto no Nordeste todos os estados têm menos de 100 casos por 100 mil habitantes.

Por outro lado, São Paulo; Espírito Santo; Mato Grosso do Sul e Paraná vivem um cenário de mais de 500 diagnósticos de dengue a cada 100 mil habitantes, bem acima da média no Brasil.

Por que a dengue cresce no Brasil?
A tendência de crescimento em relação ao ano passado preocupa já que, em 2022, o Brasil registrou o ano mais letal da doença na série histórica, ultrapassando pela primeira vez a marca de mil óbitos em 12 meses. Além disso, foram identificados 1,45 milhão de casos da doença, número 162,5% maior que o total de contaminações de 2021.

Neste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o aumento da dengue é mundial, assim como das outras arboviroses (doenças causadas por vírus transmitidos por mosquitos) disseminadas pelo Aedes aegypti, a Zika e a Chikungunya.

O órgão destacou que a região das Américas é particularmente afetada pelas infecções, e que condições precárias de água e saneamento aliadas a fenômenos como enchentes, aumento da temperatura e da umidade favorecem a proliferação do inseto nos países.

A OMS atribui às mudanças climáticas a principal causa para o aumento dos fenômenos nas últimas décadas que resultam no crescimento da dengue. Ela cita, por exemplo, que a incidência da doença nas Américas passou de 500 mil casos, em 2000, para 5,2 milhões, em 2019.

Além disso, enquanto países endêmicos, como o Brasil, vivem altas de casos, o vírus também se espalhou para nações que até então viviam cenários de baixa da doença, como Bolívia e Paraguai.

Técnicas de enfrentamento
Especialistas também reforçam que a principal estratégia de combate à dengue no país ainda são as campanhas de prevenção que buscam evitar a proliferação do mosquito transmissor, como evitar a água parada, tampar caixas d’água e colocar areia nos pratos de vasos de planta. No entanto, destacam a falta de iniciativas efetivas nos últimos anos no Brasil.

Além disso, existem outras técnicas, como a criação de mosquitos com bactérias e o desenvolvimento de vacinas, têm avançado. A mais promissora no Brasil é o método Wolbachia, promovida pela Fiocruz no país. A fundação anunciou recentemente um acordo com o World Mosquito Program (WMP) para expandir a técnica com a construção de uma biofábrica capaz de produzir até 100 milhões de mosquitos por semana, 5 bilhões ao ano.

Esses mosquitos carregam a bactéria wolbachia, presente em cerca de metade dos insetos, mas que não é encontrada naturalmente no Aedes aegypti. No entanto, quando inserida nos mosquitos, ela impede que os vírus da dengue, do zika e da chikungunya se desenvolvam dentro deles. Com isso, reduz a possibilidade de eles disseminarem esses patógenos na população, diminuindo consequentemente os casos das doenças na região em que circulam.

Até então, desde 2012, o programa alcançou as cidades fluminenses do Rio de Janeiro e de Niterói, além de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul; Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Petrolina, em Pernambuco, levando à redução da incidência das três doenças nas localidades. A tecnologia também já foi introduzida em outros 11 países, na Ásia, Oceania e Américas, alcançando quase 11 milhões de pessoas até o momento – 3 milhões delas brasileiras.

Além do Wolbachia, outra técnica que pode em breve ser incorporada no combate à dengue é a vacina. A Anvisa liberou neste ano uma nova aplicação para prevenir a doença, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, que é o primeiro imunizante destinado a pessoas que nunca tiveram o diagnóstico.

Ela é aplicada em duas doses e indicada a pessoas entre 4 e 60 anos. O esquema protege contra os quatro sorotipos do vírus e, nos testes clínicos, demonstrou uma eficácia geral de 80,2% para evitar infecções, e 95% para casos graves e óbitos. O novo imunizante, porém, depende da incorporação pelo Ministério da Saúde ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) para chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa é a segunda vacina a receber um aval no Brasil. A outra, chamada Dengvaxia e desenvolvida pela Sanofi, já está disponível, porém apenas em clínicas privadas. Além disso, é indicada somente para evitar reinfecções, que costumam ser mais graves, e para um público-alvo restrito — pessoas de 9 a 45 anos que já foram contaminadas anteriormente. Por isso, não é a principal estratégia de combate ao vírus.

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