Depois de sete horas na fronteira, diplomatas brasileiros resgatam mais 32 pessoas de Gaza
Cinco pessoas foram autorizadas a sair, mas não conseguiram deixar a região onde estavam, no norte de Gaza
Após sete horas no posto de fronteira egípcio em Rafah, a equipe da Embaixada do Brasil no Cairo conseguiu retirar da Faixa de Gaza um grupo de 32 pessoas, que seguiram de ônibus para a capital egípcia. Esperavam-se 35 pessoas, mas 5 não conseguiram chegar até a fronteira e ficaram na Cidade de Gaza. Por outro lado, outras 3 sem autorização foram a Rafah, a única fronteira aberta para sair da região sitiada pelas forças de Israel. Dois dos não autorizados conseguiram ser incluídos de última hora. Com os 32 desta quinta-feira, os 47 retirados na segunda missão, no início do mês, e os 32 da primeira, ainda em novembro, o Brasil já resgatou 111 pessoas, ultrapassando a lista inicial, que tinha 102 nomes.
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Dos que estavam na imigração nesta quinta, apenas Yousef Jamal Yousef Temraz, que tem cidadania brasileira, mas não estava na lista de autorizados, foi impedido de passar. A mulher dele, que está dependendo de cadeira de rodas para se locomover, e os dois filhos pequenos do casal conseguiram cruzar a fronteira.
A expectativa dos diplomatas da missão brasileira era conseguir fazer com que todos que apareceram na fronteira cruzassem para o Egito, inclusive os quatro homens barrados no dia 10, quando o Brasil retirou 47 pessoas do enclave.
Um dos homens que não conseguiram sair daquela vez foi Yousef El Dwek, que tem 75 anos. Ele fala e se locomove com dificuldades. A esposa, a nora e netas dele conseguiram cruzar a fronteira na vez anterior, depois de uma negociação diplomática que começou pela manhã e terminou no início da noite. Sammy Abusaada também tinha sido barrado. Teve que se despedir da esposa, Wafaa, e dos cinco filhos. Agora a família espera pelo patriarca no Rio de Janeiro. Tanto El Dwek como Abusaada conseguiram sair desta vez, assim como os outros dois homens.
— Estou muito feliz agora e agradeço ao governo brasileiro por ter me ajudado a reencontrar com minha família. No dia em que eles vieram e eu não eu fiquei muito triste, chorei — disse Abusaada ao GLOBO.
Sua esposa, Wafaa, mal pode esperar para reencontrar o marido.
— Claro que estamos felizes e esperamos ansiosamente por ele — disse Wafaa por mensagem à reportagem.
Outro que desta vez conseguiu sair foi Saud Abusaada, de 24 anos, que é comerciante.
— Eu senti muito mal quando minha mãe e minha esposa cruzaram a fronteira e eu não. Mas foi melhor para elas. Hoje em dia tem bomba em todo lugar em Gaza. Eu me casei quatro meses atrás. Ainda estava em lua de mel. Quero voltar a Gaza um dia, mas agora muito perigoso. Talvez daqui a um ano, inshalah — disse ele à reportagem.
Dentro do Departamento de Imigração há wi-fi, mas não aberto ao público. Aqui fora, no lado egípcio da fronteira, só se tem sinal de internet com chip de uma das operadoras do país. No meio da tarde nublada, funcionários e veículos de outras embaixadas também aguardavam a passagem daqueles que vieram buscar.
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Nove ambulâncias do governo egípcio estavam de prontidão para levar eventuais feridos para hospitais próximos. Desde cedo há um intenso movimento de caminhões voltando de Gaza para o Egito vazios, depois de terem descarregado o que foram levar. Não se vê hoje a imensa fila de caminhões abastecidos com ajuda humanitária bem perto da fronteira.
— Eles entraram bem cedo, por volta das 5h da manhã — contou uma testemunha ao GLOBO.
Mas não muito longe daqui, a reportagem também viu uma longa fila de caminhões esperando para passar pelo raio-x e vir para perto da fronteira, onde aguardarão a permissão para atravessar.
— É preciso acelerar isso, mas pôr mais caminhões que entrem ainda não será o suficiente — comentou uma fonte do governo que estava na fronteira.
Ao contrário da outra vez, a reportagem não ouviu barulho de foguetes e tiros de metralhadoras na tarde de hoje. Mas esta manhã Israel atacou a fronteira de Karm Abu Salem, que separa o país do Egito e foi aberta dias atrás para acelerar a entrada de caminhões com ajuda humanitária, depois de pressão internacional. Como também acaba sendo um acesso à Faixa de Gaza, autoridades palestinas estão presentes nesta outra fronteira. De acordo com a mídia local, o representante dos palestinos em Karm Abu Salem, coronel Bassam Ghaben, foi morto neste ataque israelense, assim como outras três pessoas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Nesta quarta-feira, um dos líderes do Hamas, Ismail Haniyeh, esteve no Cairo e se reuniu com autoridades do Egito e do Catar, que atuam como mediadores entre as partes envolvidas no conflito e tentam um cessar-fogo. O encontro terminou sem avanços. Uma fonte do governo disse à reportagem que outra reunião como esta deve acontecer em breve.
— Essa visita revela o papel relevante e positivo que o governo egípcio tem exercido desde o início do conflito. Tem sido capaz de exercer esforços concretos entre as partes envolvidas para que haja entendimentos entre elas. A percepção aqui no Cairo, entre diplomatas estrangeiros e especialistas em política internacional, é que o Egito poderá facilitar a resolução desse conflito — analisou o embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco.
Um avião da Força Aérea Brasileira saiu do Brasil em direção ao Egito para buscar o grupo retiradao de Gaza. A FAB enviou 17 tripulantes e seis pessoas que integram a equipe médica. Há uma preocupação com traumas psicológicos e o estado de saúde de alguns dos que estão vindo de Gaza, como um senhor que teve um AVC recentemente. O avião vem trazendo ainda 6 toneladas de doações brasileiras. São equipamentos para filtrar água e painéis solares.