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Reino Unido

Deputada pede investigação sobre rotulação de alunos negros como "educacionalmente subnormais"

Crianças eram enviadas para escolas destinadas a deficientes físicos e mentais, nas décadas de 1960 e 1970

Parlamentar defende que um inquérito público seja aberto para esclarecer o impacto do casoParlamentar defende que um inquérito público seja aberto para esclarecer o impacto do caso - Foto: Niklas Hallen'n / AFP

A deputada Kim Johnson, do Partido Trabalhista, pediu ao parlamento britânico que investigue um escândalo envolvendo a rotulação de crianças negras como “educacionalmente subnormais”, enviadas para escolas destinadas a alunos com deficiência física e mental nas décadas de 1960 e 1970.

Segundo o The Guardian, a parlamentar defende que um inquérito público seja aberto para esclarecer o impacto do caso e pede para que o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, faça justiça às vítimas, em um movimento de reparação histórica.

Em um debate realizado nesta quarta-feira no parlamento, Johnson alertou que ainda não se sabe exatamente quantas crianças negras foram forçadas a frequentar escolas “educacionalmente subnormais” (ESN) na época. De acordo com a deputada, “muitas barreiras racistas ainda existem na educação que evoluíram diretamente das políticas e atitudes que impulsionaram o escândalo da ESN”.

A deputada ainda destacou que o fechamento das escolas ESN na década de 1980 não representou o fim da exclusão de crianças negras do ensino tradicional.

— O fechamento das escolas ESN na década de 1980 levou diretamente a uma rápida expansão no uso de exclusões escolares, e começamos a ver números maiores de encarcerados em prisões, a expansão do uso de conjuntos e níveis na educação, por meio dos quais certos grupos de crianças [em] números crescentes estão sendo negadas a oportunidade de progredir em ambientes educacionais, incluindo ir para a universidade — disse.

Vítimas denunciam abusos
Na véspera do debate, vítimas do sistema ESN relataram no parlamento suas experiências.

Noel Gordon, por exemplo, contou que foi enviado para uma ESN aos 6 anos, quando sua mãe foi visitada em casa por um funcionário do departamento de educação que disse: "encontramos um internato para necessidades especiais com uma diretora para ficar de olho nele".

— Então, do nada, ele diz que sou um idiota. Mamãe pensa: Tenho apenas seis anos, a escola vai resolver isso. O que ele estava aludindo é que eles estavam me colocando em uma escola para crianças subnormais. Sem currículo. Essa era a política do governo — contou Gordon.

Ele também relatou as agressões sofridas ao longo dos anos.

— Sofri um catálogo de abusos dos seis aos 16 anos. Fui espancado na cabeça aos 12 anos no parquinho e chamado de bastardo negro por Christine, uma funcionária, sem motivo — acrescentou.

Rene Stephens, de 58 anos, outra vítima, caiu em lágrimas ao refletir sobre a agressão física e sexual que sofreu no sistema educacional.

— No meu primeiro ano na escola secundária Sir William Collins, em Mornington Crescent, em Londres, fui agredido pelo vice-diretor, Sr. Young. Ele, um especialista em artes marciais, executou um chute deslizante que me derrubou, fazendo com que eu caísse de cabeça e perdesse a consciência. Após esse ataque não provocado, o Sr. Young me acusou falsamente de agredi-lo. A resposta da escola foi me expulsar — afirmou Stephens.

Posição do governo britânico
Apesar das denúncias e do apelo da parlamentar, a ministra da Educação, Catherine McKinnell, declarou que “não planeja atualmente estabelecer um inquérito público”, mas garantiu que o país está comprometido em assegurar oportunidades iguais para todos.

Em entrevista ao Guardian, Kim Johnson criticou a falta de ação do governo e alerta que as mesmas práticas de exclusão da época das escolas ESN ainda persistem no sistema educacional do Reino Unido.

— Os mesmos sistemas fundamentais que excluíram crianças negras da educação convencional décadas atrás ainda existem hoje – apenas em formas diferentes. As escolas ESN podem ter desaparecido, mas as crianças negras ainda são desproporcionalmente empurradas para unidades de encaminhamento de alunos e provisão alternativa, alimentando o pipeline da escola para a prisão — finalizou a deputada.

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