Desafiando autoridades locais, Trump visita cidade onde Jacob Blake foi baleado pelas costas
Em campanha, presidente tem apostado em política de 'lei e ordem' e em críticas aos protestos
Em meio à campanha pela reeleição, o presidente Donald Trump foi a Kenosha, cidade que vive uma onda de protestos após policiais atirarem pelas costas em Jacob Blake, um homem negro, durante uma abordagem.
O ataque a Blake gerou uma série de manifestações em Kenosha e em outras partes do país, desde 23 de agosto.
Trump chegou à cidade no começo da tarde. Ele foi a um dos locais com destroços gerados após os protestos, nos quais alguns imóveis e veículos foram incendiados.
A agenda do republicano inclui reuniões com policiais e comerciantes que tiveram perdas, mas não cita um possível encontros com familiares de Blake. Ele sobreviveu aos tiros, mas deve ficar com parte do corpo paralisada.
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O presidente usa a viagem para enfatizar a defesa de "lei e ordem", um lema de sua campanha. Ele se coloca como o único capaz de proteger pessoas e propriedades de ataques em meio aos protestos.
O governador de Wisconsin e o prefeito de Kenosha, ambos democratas, pediram à Trump que ele não fosse à cidade, para evitar o acirramento das tensões, mas foram ignorados.
Trump enviou agentes da Guarda Nacional para conter a violência em Kenosha, que teve confrontos nas ruas. Alguns grupos de homens armados se formaram para proteger comércios, e houve brigas com manifestantes.
Um adolescente branco de 17 anos foi processado por matar duas pessoas e ferir outras com um rifle em meio aos atos. Trump defendeu o jovem e insinuou que ele teria agido em legítima defesa.
Pesquisas indicam que Biden lideradas intenções de voto no estado de Wisconsin. Em 2016, Trump foi o candidato presidencial mais votado lá, mas venceu por uma pequena margem.
Os protestos pelo fim da violência policial e do racismo se tornaram um tema da campanha eleitoral no país. Nas convenções das últimas semanas, os dois partidos se acusaram mutuamente de estimular o caos nas ruas. Trump é criticado pelos democratas por sua retórica agressiva. E Biden foi atacado pelos republicanos como um líder incapaz de conter a violência.
Uma onda de manifestações tomou os EUA a partir do fim de maio, quando George Floyd, um homem negro, foi sufocado e morto em uma abordagem policial em Minneapolis. Desde o início, Trump fez ataques aos manifestantes e buscou associar os ativistas à delinquência e à extrema-esquerda.
A maioria dos atos foi pacífica, mas houve cenas de prédios e carros incendiados. Assim, Trump aposta em um discurso de "lei e ordem" e diz que caso seu rival Joe Biden vença, o país será dominado pelo caos.
No entanto, medidas do presidente, como enviar agentes federais a cidades que não haviam requisitado a presença deles, ajudaram a aumentar a revolta nas ruas. Alguns desses guardas foram flagrados tratando manifestantes com violência.
Biden tem se colocado ao lado dos ativistas na campanha. Parentes de George Floyd participaram da convenção democrata. Já no encontro republicano, esteve presente um casal de advogados brancos que ficou conhecido após apontar armas para ativistas de um protesto pacífico.
Em meio aos atos, surgiram outras demandas, como a retirada de estátuas e monumentos de homenagem à figuras brancas ligadas à escravidão e à colonização, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Apesar da força dos protestos, houve novos casos de violência policial nos últimos meses.
Cronologia dos protestos nos EUA
25.mai
George Floyd é sufocado pelo joelho de um policial branco, em Minneapolis, e morre em seguida. Seu assassinato dá início à maior onda de protestos antirracistas no país em décadas
28.mai
Delegacia é incendiada em Minneapolis. Governador de Minnessota pede ajuda da Guarda Nacional. Trump sugere que agentes atirem em manifestantes, que chama de "bandidos"
30 e 31.mai
Fim de semana tem atos em dezenas de cidades dos EUA e na Europa. Ocorrem cenas de barbárie, com carros e prédios incendiados. Trump ameaça usar o poder das Forças Armadas para conter manifestantes, o que aumenta a revolta nas ruas.
6 e 7.jun
Após alguns dias com protestos menores, atos retomam força nos EUA e em várias cidades da Europa e da Ásia. No Reino Unido, ingleses derrubam estátua de um traficante de escravos e começa onda de ataques a monumentos
9.jun
Floyd é enterrado em Houston, após uma série de cerimônias em sua homenagem
10.jun
Estátuas de Cristóvão Colombo são derrubadas por manifestantes nos EUA
14.mai
Polícia mata a tiros Rayshard Brooks, um homem negro, em um restaurante de Atlanta. Manifestantes queimam o local em protesto.
16.jun
Trump anuncia programa para estimular mudanças na polícia, mas resposta é considerada fraca
19.jun
Milhares de pessoas vão às ruas nos EUA em data que lembra o fim da escravidão no país
23.jun
Trump ordena que governo prenda quem atacar estátuas e monumentos federais
29.jun
Casal branco aponta armas para manifestantes que faziam ato pacífico em St. Louis. Trump retuíta vídeo com a cena. Em agosto, os dois foram convidados da convenção republicana.
1.jul
Polícia desocupa zona de Seattle tomada por manifestantes antirracistas, que ficou sem vigilância durante três semanas
17.jul
Pentágono bane uso de bandeira confederada, considerada um símbolo racista, em instalações militares dos EUA
20.jul
Protestos contra o racismo e a atuação violenta de agentes federais ganham força em Portland, e Trump ameaça enviar guardas a mais cidades, o que dá força a nova onda de manifestações
26 e 27.jul
Atos têm confrontos em várias cidades, como Portland, Seattle e Austin. Nesta última, foi morto o manifestante branco Garrett Foster, que empurrava a cadeira de rodas da namorada.
23.ago
Durante abordagem, políciais atiram pelas costas em Jacob Blake em Kenosha. Blake sobreviveu, mas deve ficar com parte do corpo paralisada. Em resposta, a cidade tem vários dias de protestos, com confrontos e ao menos duas mortes.
26.ago
Jogadores da NBA boicotam partidas em protesto pela violência contra Blake e disputas finais são adiadas.