Desafios perigosos na internet: Sociedade de Pediatria emite alerta para pais, médicos e educadores
Entidade demonstra preocupação com competições online que oferecem riscos à saúde e pede que responsáveis orientem crianças e adolescentes sobre o uso das redes
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) fez, nesta terça-feira (9), um novo alerta sobre os desafios perigosos que se alastram em redes sociais muito utilizadas por crianças e adolescentes, como o TikTok, Instagram e Discord. As dinâmicas consistem em competições online como uma espécie de brincadeira, replicada pelos usuários.
Porém, muitas vezes, estimulam “comportamentos de risco e autoagressivos” que causam “risco à vida, à integridade física e psicológica e, em alguns casos, fatalidades ou danos irreversíveis”, ressalta a entidade em nota.
Recentemente, o caso do adolescente de 13 anos, morto após ingerir mais de 14 comprimidos de um antialérgico como parte de um desafio viral, repercutiu e chamou atenção para o cenário. Os desafios, no entanto, não são novos, mesmo que plataformas tenham diretrizes que em tese proíbem a veiculação de competições perigosas.
De acordo com um levantamento da Bloomberg Businessweek, do meio de 2021 até novembro de 2022, ao menos 15 crianças com 12 anos ou menos, e cinco adolescentes entre 13 e 14 anos, morreram envolvidas apenas no “desafio do apagão”, que envolvia induzir a si mesmo ao sufocamento por alguns segundos.
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A SBP cita dados do Instituto Dimicuida sobre casos fatais no Brasil, cujo monitoramento apontou uma ocorrência de 50 óbitos ou ferimentos graves de crianças e adolescentes com idades entre 7 e 18 anos entre 2014 e novembro de 2022. Além disso, menciona um trabalho da pesquisadora Juliana Guilheri, ainda de 2017, que aponta que 60% daqueles entre 9 e 17 anos já experimentaram algum tipo de jogo de apneia; e 50% delas tentaram desmaio voluntário.
“É responsabilidade de todos nós, pediatras e sociedades em geral, denunciar e alertar sobre conteúdos de vídeos e desafios perigosos na internet, para que estes sejam rapidamente bloqueados e excluídos”, defende o presidente da SBP, Clóvis Francisco Constantino, em nota.
“As empresas de tecnologia já possuem recursos e expertise profissional para aplicar algoritmos e inteligência artificial para redesenhar o ambiente digital, garantindo a proteção social da infância e adolescência. Portanto, é urgente a elaboração de recomendações e políticas públicas para que estas companhias se comprometam com a implementação dessas medidas de proteção”, complementa o pediatra.
A sociedade destaca que, desde 2016, possui um grupo de trabalho destinado à Saúde na Era Digital, que produz documentos sobre os “ riscos do uso precoce, excessivo e prolongado de telas por crianças e adolescentes”. No mais recente, eles destacam que pesquisas observacionais em países como Estados Unidos, França e Brasil apontam alguns padrões nos desafios online.
São eles: práticas de sufocamento, asfixia ou apneia; práticas de autoagressão ou hétero-agressão; e ações como o uso de pílulas mágicas com teor desconhecido de pó branco ou colorido, jantares com detergentes como bebidas e pastilhas de sabão como refeição, engolir chips e bolinhas magnéticas, dangerous selfies (fotos em locais perigosos), dentre outros.
“Vale destacar que há um ganho material para aqueles que promovem esses atos, devido à recompensa pelo número de visualizações e prestígio no mundo virtual. Nesse sentido, a SBP lamenta que, mesmo diante da gravidade da situação, os envolvidos nesses crimes não sejam responsabilizados e não recebam punição adequada por praticarem essa indução direta ou indireta através da Internet”, diz Evelyn Eisenstein, coordenadora do GT Saúde na Era Digital.
O que os pediatras recomendam?
O novo alerta da SBP destaca que a comunidade médica, especialmente os pediatras, devem se atualizar sobre orientações a respeito da prevenção dos riscos envolvidos no uso das redes sociais para passá-los durante as consultas. Além disso, apontam que essa maior informação deve ser disseminada entre educadores, psicólogos e profissionais da área de saúde mental que trabalham com os mais novos.
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A entidade também orienta aos pais e responsáveis que estejam presentes durante o uso das plataformas digitais pelos seus filhos, “com regras claras na convivência diária sobre segurança, privacidade, bloqueio de mensagens inapropriadas, violentas ou discriminatórias, que possam causar danos físicos ou mentais, e com a orientação para a não-prática desses desafios”.