Diplomacia

Desencontro de Lula e Zelensky tem 'zero importância', diz Amorim

Assessor internacional da Presidência da República diz que o empenho é em formar um grupo de países não envolvidos na guerra que possa trabalhar na construção de um plano para a paz

Celso Amorim e o vice-chanceler da Ucrânia, Andrii Melnyk, durante visita a Kiev em abril Celso Amorim e o vice-chanceler da Ucrânia, Andrii Melnyk, durante visita a Kiev em abril  - Foto: Divulgação

O desencontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Volodymyr Zelensky na reunião do G7, no Japão, teve “importância zero” para o Brasil, na avaliação do assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, centrado agora em articular a composição de um grupo de países que dialogue com Rússia e Ucrânia e possa contribuir para um processo de paz.

– [O desencontro com Zelensky] Não tem nenhuma importância, zero importância. Parece uma competição pela popularidade, e não estamos nessa competição. É preciso encontrar uma maneira de chegar à paz, que não é fácil. Vai requerir tempo, convencer ambos os lados de que não há possibilidade de vitória – disse Amorim ao Globo.

Segundo o assessor presidencial, o desencontro no Japão “não foi sequer um fato. Lula não se recusou a conversar com Zelensky, nem Zelensky com Lula. Já surgirá outra oportunidade”.

Com o objetivo de avançar na construção de um caminho viável que possa levar a um futuro cessar-fogo, o Brasil, acrescentou Amorim, está empenhado em que seja formado um grupo de países não envolvidos na guerra – e que, por essa razão, tenha diálogo com ambos os lados do conflito – que possa trabalhar na construção de um plano para a paz.

– Tem de se criar uma estrutura de países que busquem a paz, que possam começar a conversar e criar as condições para ter uma proposta. Hoje vejo que é quase impossível um encontro entre eles [Putin e Zelensky]. Temos de ir vendo – afirmou o assessor especial de Lula, que negocia agendar uma reunião entre o presidente brasileiro e o francês Emmanuel Macron na última semana de junho, em Paris.

Na quarta-feira, Macron afirmou que negociar com o presidente russo, Vladimir Putin, pode se tornar mais prioritário do que um julgamento por crimes de guerra se ele for a única pessoa disponível para o Ocidente negociar um fim para guerra.

Em declarações durante uma cúpula de segurança em Bratislava, Eslováquia, o líder francês afirmou que, "se nos próximos poucos meses tivermos uma janela para o diálogo, a questão será decidir entre um julgamento e uma negociação, e é necessário negociar com os líderes disponíveis de facto, e acredito que as negociações serão prioridade".

O presidente da França organizará uma conferência sobre financiamento para o crescimento sustentável, da qual Lula deve participar, e no dia seguinte deve ocorrer uma reunião bilateral entre os dois chefes de Estado. Na agenda, antecipou Amorim, estarão as propostas do Brasil sobre a guerra.

– A ideia é comentar como poderia ser composto o grupo que trabalhe pela paz. Colocar sobre a mesa uma proposta concreta agora não faria sentido, seria recusada. Seria queimar uma hipótese – assegurou Amorim.

Lula vem defendendo a criação de um clube de nações para intermediar a paz. Em abril, ele viajou à China para discutir a proposta de cessar-fogo do presidente Xi Jinping, que efetivamente congelaria as tropas russas na Ucrânia. Zelensky vem rejeitando qualquer estrutura que não envolva a retirada total das forças russas do território ucraniano, posição também encampada pelos aliados ocidentais de Kiev até agora.

Em entrevista a sete veículos da imprensa latino-americana, entre eles a Folha de S.Paulo, divulgada na quinta-feira, Zelensky afirmou que "Lula quer ser original" com sua ideia de criar um clube de paz, e ao não apoiar explicitamente a criação de um tribunal especial internacional que julgue crimes de agressão russos. O Brasil não se opõe oficialmente à criação do tribunal, mas também não declarou seu endosso.

O governo brasileiro recebeu com satisfação recentes declarações da primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, que afirmou que não pode haver uma negociação entre Rússia e Ucrânia sem China, Índia e Brasil. Segundo Amorim, outros países que devem ser considerados são Indonésia, Turquia e África do Sul.

– O presidente tem falado, tudo isso será objeto de conversas e contatos – apontou Amorim. – Está crescendo o sentimento de que a paz é mais importante do que a vitória – concluiu o assessor especial de Lula.

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