Desmatamento na Amazônia: mediação judicial é proposta ao grupo Casino
Grupo é acusado por 11 organizações de desmatamento da Amazônia
Após uma primeira audiência, nesta quinta-feira (9), no tribunal de Paris, uma mediação judicial foi proposta ao grupo Casino, acusado por 11 organizações de defesa do meio ambiente e dos povos indígenas de participar, por meio de suas subsidiárias sul-americanas, do desmatamento da Amazônia.
Esta mediação deverá ocorrer "até ao final de julho", afirmou Sébastien Mabile, um dos advogados da coalizão de ONGs demandante neste processo e que inclui FNE, Sherpa e Envol Vert.
Se não der resultado, "nos encontraremos no dia 15 de setembro no tribunal para definir um cronograma".
O Casino "espera que essa mediação permita ir além da ação judicial que, como a campanha de comunicação hostil dos demandantes, é contraproducente, estando o Casino e suas subsidiárias, sem dúvida, entre as empresas mais avançadas do setor no combate ao desmatamento", reagiu à AFP Sébastien Shapira, advogado do distribuidor.
Leia também
• Família de britânico desaparecido na Amazônia cobra intensificação de buscas
• Quem são o jornalista e o indigenista desaparecidos
• Indígenas da Amazônia denunciam exclusão da Cúpula das Américas
Essa mediação "está em sintonia com o espírito de diálogo do grupo Casino, que luta diariamente no Brasil contra o desmatamento por meio da implantação de todas as ferramentas tecnológicas e legais à sua disposição e, em colaboração com os atores locais - ONGs, poder público e empresas - pelo constante monitorando e melhoramento de sua cadeia de fornecimento de carne bovino", apontou.
"Nos supermercados das subsidiárias do Casino no Brasil e na Colômbia, há carne bovina proveniente de frigoríficos abastecidos por fazendas que participam do desmatamento ilegal da Amazônia, da invasão de territórios indígenas", explicou Mabile, culpando o distribuidor pela "falta de diálogo" e por não ter feito nada desde que foi processado em março de 2021.
Uma delegação de cerca de dez pessoas procedentes do Brasil também esteve presente no pátio da corte, algumas com pinturas tradicionais e cocares.
"A rede de supermercados Casino está fomentando o desmatamento no Brasil", denunciou Dinamam Tuxa, representante da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
"A sede dessa empresa é aqui, na França, e estamos pedindo ao juiz que aplique a lei. Mobilize-se para nos ajudar", completou.
Eloi Terena, advogado e membro da Apib, denunciou a presença de uma fazenda localizada em Uru Eu Waw Waw, em Rondônia, na qual foram desmatados 13.411 hectares de floresta.
"Esta fazenda tem mais de 20.000 animais destinados à indústria agroalimentar. Sua carne - isso está comprovado - é vendida nos supermercados Casino. Pedimos ao grupo que assuma suas responsabilidades", declarou o advogado.
Para simbolizar o desmatamento, os manifestantes colocaram alguns pedaços de madeira no pátio, simbolizando tocos cortados. Alguns deles apresentam marcas de mãos vermelhas para lembrar a violência sofrida pelos povos da Amazônia.
Uma faixa com a inscrição "Ecocídio=genocídio, emergência para os nativos" em vermelho e verde também foi exposta, enquanto dois membros do coletivo Extinction Rebellion, representando viajantes do futuro para evitar os perigos por vir, desfilou.
A polícia anotou as identidades de todas as pessoas que participaram do protesto.
Desde março de 2017, a lei francesa sobre o dever de vigilância obriga as empresas sediadas na França e que empregam mais de 5.000 pessoas no território, ou mais de 10.000 no mundo, a tomar medidas efetivas para prevenir violações dos direitos humanos e do meio ambiente em todo o sua cadeia de suprimentos.