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Vaticano

Detenção de cardeal em Hong Kong põe em evidência acordo China-Vaticano

A prisão do cardeal acontece em um contexto de repressão de qualquer tipo de dissidência em Hong Kong

Cardeal Joseph Zen, ex-bispo de Hong Kong, saindo depois de testemunhar como testemunha de defesa no Tribunal de Magistrados de West Kowloon, em Hong Kong, no caso de três importantes ativistas pela democracia que estão sendo julgadosCardeal Joseph Zen, ex-bispo de Hong Kong, saindo depois de testemunhar como testemunha de defesa no Tribunal de Magistrados de West Kowloon, em Hong Kong, no caso de três importantes ativistas pela democracia que estão sendo julgados - Foto: Anthony Wallace / AFP

A prisão em Hong Kong de um cardeal em virtude da lei de segurança nacional causou perplexidade na comunidade católica da cidade, no momento em que o Vaticano poderia renovar um acordo com Pequim.

A prisão no início de maio de Joseph Zen, libertado pouco depois com pagamento de fiança, acontece em um contexto de repressão de qualquer tipo de dissidência em Hong Kong. Além disso, ocorre em um momento delicado para a Santa Sé, que negocia a renovação de um acordo com Pequim sobre a nomeação de bispos, tema de discórdia há décadas entre a igreja católica e o regime chinês.

"Quem se opõe ao acordo tem agora mais um motivo para ser contra", assinalou à AFP Beatrice Leung, integrante das Irmãs do Preciosíssimo Sangue e amiga do prelado

O cardeal, de 90 anos, fugiu de Xangai antes da chegada dos comunistas ao poder na China em 1949. Ele estava entre os cinco militantes pró-democracia detidos em 11 de maio por "conspiração com as forças estrangeiras".

Eles são investigados sobre um fundo, já dissolvido, destinado a financiar a defesa dos militantes detidos durante as enormes manifestações pró-democracia de 2019 e comparecerão nesta terça-feira (24) diante de um tribunal.

Acordo China-Vaticano

Há décadas, duas igrejas católicas coexistem na China: uma "patriótica", dependente do regime comunista, e outra "subterrânea", ilegal aos olhos de Pequim e tradicionalmente fiel ao papa depois da ruptura da China com a Santa Sé em 1957.

A igreja clandestina contava com muitos partidários em Hong Kong, uma cidade onde, até agora, a liberdade de culto estava garantida.

No entanto, nas últimas décadas, o Vaticano começou a manter relações com a China que levaram à assinatura, em 2018, de um histórico acordo cujo conteúdo exato jamais fora divulgado.

Em virtude deste acordo, o papa Francisco reconheceu diversos bispos inicialmente nomeados por Pequim sem aprovação papal. Por outro lado, antigos bispos da igreja clandestina foram reconhecidos por Pequim.

O cardeal Zen criticou o acordo, ao considerar que o mesmo "depreciava" os católicos chineses da igreja não reconhecida.

Há muitos anos, várias correntes no seio da igreja católica criticam a vontade do papa Francisco de se aproximar da China, mas poucos analistas e observadores esperam que a detenção do cardeal leve o Vaticano a questionar essa aproximação.

"A Santa Sé não deseja o rompimento do diálogo", explica Marco Politi, analista do Vaticano e biógrafo do papa. "Está claro que a China está em posição de força e o Vaticano em posição de debilidade", acrescentou.

O Vaticano, por sua vez, não fez nenhuma declaração sobre a prisão do monsenhor Zen. 

Em uma análise no site Crux, o vaticanista americano John Allen considera que o cardeal está "cada vez mais marginalizado" no papado de Francisco.

Contudo, "Francisco não pode se permitir ignorar Zen, porque a sua prisão, e tudo o que pode ocorrer, vai gerar simpatia e mobilização em todo o mundo" em favor do cardeal, acrescentou.

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